Do ganha-ganha pré-histórico, passando pelo ganha-perde dos últimos 10 mil anos, o século XXI pode instaurar o ganha-ganha pós-moderno, com base na democratização do conhecimento
Escrevi um artigo sobre o meu mais recente livro publicado, Reinventando
o Capital/Dinheiro, que mostra a visão completamente nova da economia e explica o atual sistema sob um ponto de vista que nem a economia liberal nem o marxismo conseguiram mostrar até hoje.
Para resumir um artigo de 14 páginas em duas, quero começar dizendo que, como estão fazendo todos os povos, rejeitei o modelo econômico vigente e, para sustentar minha argumentação, usei três tipos de paradigmas. No primeiro, chamado ganha-ganha, o “dinheiro” (concha, gado etc.) era usado apenas como medida de escambo, não gerando juros. Essa prática constituiu o primeiro paradigma da economia humana e durou praticamente 200 milhões de anos.
Logo a seguir, temos o segundo paradigma, que é o ganha-perde, em que o dinheiro gera juros e, com isso, a desigualdade e a violência. Dessa forma, vivemos por 10 mil anos, incluindo o período de desenvolvimento agrário dos impérios e a Revolução Industrial. Ambos, ao meu ver, têm as mesmas características, ou seja, são destrutivos e se desenvolvem de maneira exponencial, apoiados pela velocidade voraz da tecnologia.
Esse recorte vem até o século XXI, instaurando o terceiro paradigma, que será o ganha-ganha pós-moderno, que procura valorizar a democratização do conhecimento, mas de maneira infinitamente superior ao ganha-ganha da Pré-História. E isso é o que querem todos os povos que protestam nas ruas contra o autoritarismo e a violência do segundo paradigma.
Este artigo trata especificamente do terceiro paradigma, mostrando que, caso ele venha a dominar o mundo como desejam todos os povos que aqui estão, é preciso que o dinheiro mude de natureza e não gere nem juros nem desigualdade. A comunicação, nesse caso, exerce papel fundamental para transformar conhecimento e informação em um ativo intangível livremente acessado por todos nós.
E é isso o que queremos: democracia, dinheiro que não gera juros, governança mundial, moedas alternativas locais e moeda alternativa internacional, destruindo todas as mazelas do segundo paradigma. Trata-se, de curto modo, de dizer que, se não conseguirmos chegar ao novo paradigma ganha-ganha, seremos obrigados a engolir o violentíssimo paradigma perde-perde do qual nenhum de nós escapará.
Por último, tenho algumas considerações a fazer. Quando uma pessoa do primeiro paradigma não passa para o segundo, como é o caso de negros e ameríndios, ela se torna cidadã de segunda classe e estagna. O contrário aconteceu quando se vai passar do segundo para o terceiro paradigma.
O segundo paradigma, que ainda é o dominante, reprime violentamente aqueles que querem encaixar-se no terceiro. Nesse quadro se encontra a grande maioria da juventude mundial, que deseja uma distribuição justa do dinheiro.
É clamorosa a injustiça do segundo paradigma no mundo inteiro. Mas as juventudes se revoltaram, como estamos vendo. Eles, jovens, são a grande força transformadora do planeta. Mas não se pode ter um terceiro paradigma sem a mudança da natureza do Estado, que deve ser realmente democrático, e do dinheiro, que não pode mais gerar juros, mas, sim, prosperidade e abundância a todos os envolvidos nos processos diretos e indiretos da economia global.
*Rose Marie Muraro é uma das pioneiras do feminismo no Brasil, autora de mais de 35 livros sobre economia baseada na cooperação e solidariedade, é fundadora do Instituto Cultural Rose Marie Muraro