Além de danos ao sistema de trens subterrâneos, ao fornecimento de energia e a tantas outras partes da infra-estrutura urbana, o furacão Sandy espalhou uma gigantesca onda de poluição por Nova York. Seu legado tóxico foi comparado aos efeitos do derramamento do petroleiro Exxon Valdez no Alasca em 1989.
“A quantidade de poluição liberada por esta tempestade é impressionante”, disse o capitão John Lipscomb, que pilota o barco-patrulha da Riverkeeper, uma NGO que advoga a preservação dos recursos hídricos em Nova York. “Em vez de apenas um produto como petróleo, são milhares de produtos diferentes e objetos flutuantes, e em vez de vir de uma só fonte como um petroleiro, a poluição vem de milhares de localidades diferentes”.
Segundo a Riverkeeper, os poluentes incluem petróleo e outros fluidos usados em carros e barcos, contaminantes presentes em linhas do metrô alagadas, estradas, estacionamentos, túneis, áreas industriais, residências e comércio. Isso sem falar no esgoto que invadiu vizinhanças inteiras.
Uma das localidades mais afetadas foi a região do Canal Gowanus, no Brooklin. Construído em 1860, o canal foi um importante corredor para refinarias de petróleo, usinas químicas e outras indústrias pesadas na região. Dejetos industriais e esgoto sem tratamento fluíram livremente para as águas do canal por mais de um século. Hoje, é usado para recreação e comércio, mas a população ainda reclama da poluição.
Em 2010, uma avaliação preliminar identificou pesticidas, metais e substâncias químicas causadoras de câncer nas águas do canal e a Agência de Proteção Ambiental (EPA) incluiu a região em um programa federal que visa limpar áreas contaminadas. A previsão era de que levaria de 10 a 12 anos para despoluir o canal. O furacão Sandy interveio.
Uma abordagem bem diferente para a região do Gowanus foi proposta por um grupo de arquitetos durante a exposição Rising Tides, no Moma, em 2010. Eles sugeriram restaurar a população natural de ostras da região como forma de filtrar a água e prevenir danos com o aumento do nível do mar e tempestades de maré. Infelizmente, parece não haver mais tempo para soluções como as das ostras.
A boa notícia é que, além do legado tóxico, Sandy provavelmente deixará sua marca como o evento que mudou o debate sobre as mudanças climáticas nos Estados Unidos. A noção de que todos os eventos extremos, a esta altura do campeonato, devem-se às mudanças climáticas parece se consolidar na mídia americana. A capa da Business Week com o título “É o aquecimento global, estúpido”, talvez entre para os anais da história.
A fúria do furacão ocorreu com o aumento de menos de 1 grau Celsius nas temperaturas globais médias nos últimos 100 anos. Se continuarmos emitindo gases de efeito estufa no ritmo atual, estima-se um aumento cinco vezes maior nas temperaturas até o final do século. Se o alerta não for transformado rapidamente em ação, o legado de Sandy será facilmente ultrapassado.