Há algo de antártico no Saara. E algo de desértico no continente gelado. Mesmo em oposição, as belezas naturais ensinam que o mundo tem uma só essência
Para a filosofia tradicional chinesa, Yin e Yang. Para a psicologia analítica, Animus e Anima. Seja na natureza, seja no interior das pessoas, a convicção de que a existência é composta de duas forças antípodas que se equilibram é atemporal. E é também o que ilustra o ensaio de Christiana Carvalho, resultado de uma incursão de dez anos a bordo de um navio, com passagem pela Antártida e uma viagem solo ao Egito. Só quando retornou das viagens foi que a fotógrafa percebeu a semelhança de formas e texturas entre as duas paisagens. Já a oposição não se dá apenas pelo elementar quente e frio, mas pela dualidade que Christiana chama de “masculinofeminino”. Na Antártida, predominariam os contornos agudos e protuberantes e, no Saara, as formas curvas e sinuosas. Esculpidos pelas mesmas forças naturais, os desertos de gelo e de areia traduzem a essência de uma natureza interligada.