Prefeitura de São Paulo convocou propostas de ideias para o Arco Tietê. Uma delas vem do Grupo Impulso, que responde com estratégias e sonhos de melhora da qualidade de vida para todos
Atualmente temos uma relação distante com o Rio Tietê, que nasce em Salesópolis, no estado de São Paulo, pois em suas águas não se pode nadar, não se pode pescar, remar ou caminhar em suas margens. E não há biodiversidade no rio ou em suas margens. O Tietê somente significa trânsito, enchentes, mau cheiro e é apontado pelos paulistanos como um dos maiores problemas da cidade.
O Rio Tietê, originalmente com muitas curvas, foi retificado durante o Plano de Avenidas, desenvolvido na década de 1930, em uma lógica de padrões automobilísticos. Hoje, as marginais segregam o rio da cidade, e o encarceramento do leito se traduz em problemas ambientais como inundações e recalques.
Em 2013, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano da Prefeitura de São Paulo lançou um Chamamento Público para a proposição ideias para o desenvolvimento do Arco Tietê, uma área de 60 mil hectares (correspondente ao tamanho de Manhattan, nos Estados Unidos) que se estende da Lapa, zona oeste, até o túnel Maria Maluf, na zona sul. Além disso, o território conecta o interior ao litoral do Estado, revelando sua tendência de intersecção de fluxos na escala da metrópole regional.
E nós, o Grupo Impulso – um time de doze profissionais entre arquitetos, urbanistas, engenheiros, advogados, economistas e gestores ambientais – fomos proponentes do Chamamento. Almejamos, com isso, contribuir para uma cidade mais equilibrada, com melhor qualidade de vida, racionalidade no uso de recursos, prosperidade e inovação para os negócios.
O desejo do Grupo é impulsionar o rio e trazer vida para ele novamente. Dessa forma, foram apresentadas estratégias que buscam soluções sustentáveis e resilientes à incertezas futuras. Acreditamos que, mudando a realidade do Tietê, estamos transformando a cidade e a sociedade de uma maneira positiva. O objetivo é também o de reconectar as duas partes da cidade, tanto fisicamente, quanto socialmente e costurar esta cicatriz urbana por meio da cura do Rio Tietê e de uma nova configuração do espaço de São Paulo.
Premissas da proposta do Grupo Impulso
- Questões ambientais, de moradia, de mobilidade e socioeconômicas devem ser integradas em todas as escalas do projeto.
- É essencial ter, no território, estabilidade de uma governança de longo prazo para garantir a continuidade, revisão de médio prazo e a implementação de um plano que continue por, pelo menos, 32 anos.
- O diálogo entre as três instâncias do governo (Municipal, Estadual e Federal) e de participações privadas deve ser harmônico e métodos participativos devem ser adotados.
Estratégias
Uso misto do solo urbano – Hoje, a área é predominantemente ocupada por grandes equipamentos industriais e fábricas desocupadas. Propomos um uso misto do solo onde as pessoas possam viver, trabalhar e ter lazer no mesmo bairro, além de um adensamento habitacional reduzindo a necessidade das viagens diárias de milhares de pessoas que vivem nos extremos da cidade e vão trabalhar no centro.
Rede de Mobilidade Integrada – É esperado que haja uma regressão no uso do automóvel conforme os planos existentes de transporte público do município e do Estado sejam implantados e complementados com medidas de incentivo ao uso do transporte público e não motorizado.
Rede verde-azul integrada: A integração de estruturas verdes e corpos de água – Há uma grande preocupação com a valorização da paisagem e a integração do Arco Tietê ao seu ambiente natural por meio: da recuperação de rios e de suas memórias, da oferta de estrutura verde e do controle da poluição atmosférica. Os rios voltarão a ser parte intrínseca da cidade e parte de sua identidade.
Com a progressão do serviços sanitários, os rios canalizados serão abertos e novas áreas verdes serão implantadas. Nas margens, serão instalados equipamentos de lazer e uso público. Outra premissa é trazer a infraestrutura verde de volta à cidade, tornando-a mais permeável e reduzindo riscos de enchentes, além de proporcionar a interação dos habitantes com o meio ambiente e regular a temperatura nos bairros. Almeja-se um significativo aumento na proporção de áreas verdes por habitante, que se dará a partir da implantação de parques, praças e tetos verdes nos edifícios.
2045
Em 2045, haverá novamente biodiversidade na metrópole. E não mais enchentes. Poderemos nadar, remar e pescar. Pelo Rio tietê, poderemos navegar e transportar bens para todo o Brasil e exterior. Pelo rio.
Em um domingo ensolarado, atravessaremos as pontes caminhando e sentiremos o cheiro do parque linear. O rio será de todos.
*O Grupo Impulso é formado por doze profissionais que propuseram um projeto de melhoras ao rio Tietê, em São Paulo. Entre eles estão arquitetos, urbanistas, engenheiros, advogados, economistas e gestores ambientais.