Abordar o tema periferia impõe um imenso desafio que PÁGINA22 procura assumir nesta edição. Começa pela definição do conceito: que critérios usar para estabelecer fronteiras entre o que é centro e o que é periferia? Fatores território-espaciais? De renda socioeconômica? Condições de moradia? Nível de escolaridade?
Acesso a oportunidades e a equipamentos públicos? Posse de bens de consumo? Participação em decisões de poder? Nenhuma dessas ou um cruzamento de todas as alternativas? O País de uma das maiores desigualdades sociais do mundo tem muito a avançar no conhecimento basilar sobre grande parte de sua população. “Quando dizemos ‘periferia’, não sabemos com exatidão do que estamos falando. Esses são estudos que o Brasil deve a si mesmo”, afirma a cientista social Ana Lucia Miranda (mais em “Eu, tu, eles”).
Tal conhecimento é essencial para o melhor desenho e execução de políticas públicas, justamente em um momento caracterizado por muitas e rápidas transformações por que passa o País. Em poucas décadas, o Brasil vivenciou um crescimento de renda e maior acesso a bens de consumo, à informação e ao ensino. Na visão da cientista, essas conquistas têm proporcionado a busca por mais direitos, formando uma sociedade em ebulição e processo de formação de cidadania.
Sem fechar os olhos para as carências e dificuldades que as chamadas populações periféricas enfrentam, nossa reportagem encontrou um caldo rico de iniciativas, uma cultura pulsante, um jeito de ser que subverte eixos de poder e ignora empacotamentos. Para descobrir o Brasil real e nele desenvolver ações de sustentabilidade – ou quem sabe descobrir a sustentabilidade e nela desenvolver ações de periferia –, não há outro caminho a não ser cruzar as pontes deste mundo multicêntrico.
Boa leitura!