O CLIMA EM DEBATE
O conflito político e jurídico que se instalou entre São Paulo e Rio de Janeiro no começo no ano pelo uso da água do Rio Paraíba do Sul já é um exemplo de potencial impacto da mudança climática no Brasil, segundo José Marengo, climatologista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Marengo esteve no evento de discussão sobre o 5º Relatório de Avaliação (AR5) do IPCC, que no ano passado divulgou cenários para o planeta diante do aquecimento global. O debate ocorreu em 26 e 27 de maio, promovido pelo Observatório do Clima com apoio do GVces. Foi fruto de uma parceria com a Climate Action Network (CAN), rede internacional de organizações não governamentais que promove encontros em vários países para abordar o conteúdo do relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC).
Também participou do evento Roberto Schaeffer, engenheiro e pesquisador da Coppe, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Integrantes do IPCC, Schaeffer e Marengo
apresentaram análises dos cenários previstos, ideias e possíveis saídas no enfrentamento da mudança climática. A mitigação e a adaptação tiveram destaque nas apresentações.
Segundo Marengo, o tema da adaptação foi ignorado por muito tempo e só veio a despontar nos últimos três anos. Ainda assim, avalia que não está avançando de forma ordenada. Entre as principais mudanças que o planeta mais quente enfrentará, o cientista apontou a variabilidade de eventos extremos e a alteração nos regimes de precipitação e no padrão de temperatura – possivelmente relacionados à seca no verão paulista.
As emissões de gases estufa não param de crescer, e a década de 2010 é a pior até hoje,
segundo dados do IPCC. Por isso, “não mitigar não é uma opção”, disse Schaeffer. Aglomerados urbanos, principalmente em países em desenvolvimento, como os asiáticos, são uma grande oportunidade de iniciar a mitigação em larga escala, acredita.
Como esses países estão construindo parte de sua infraestrutura, é possível torná-la menos poluente, por exemplo, ao priorizar o investimento em fontes limpas de energia.
“Não é uma questão de ignorar países da Europa, porém, é mais fácil fazer a mitigação
em infraestruturas em construção, como na China. O país poderia investir intensamente
no setor de transporte ou na organização das cidades, mas, em vez disso, chega a instalar uma térmica a carvão por semana.”
COMPRA DE MADEIRA SUSTENTÁVEL
Quatro casos do poder público brasileiro que regulamentaram a compra de madeira de
origem amazônica foram relatados em um artigo elaborado pela Rede Amigos da Amazônia (RAA) e publicado na Revista Cadernos Gestão Pública e Cidadania, da FGV, em 2011. Na época, o GVces participava da secretaria-executiva do projeto e colaborou com o artigo “Consumo Responsável de Madeira Amazônica: a adoção do instrumento da licitação sustentável por governos subnacionais membros da Rede Amigos da Amazônia”.
O documento, considerado pela FGV como um dos mais relevantes sobre políticas públicas, terá uma versão publicada na Revista de Administração de Empresas, na edição comemorativa aos 60 anos da Eaesp. Trata-se de um registro inédito que relata como as prefeituras municipais de Sorocaba, São Paulo, Porto Alegre e o governo de São Paulo – todos membros da RAA – instituíram leis, práticas e grupos de trabalho para que a madeira usada em obras do poder público não fossem oriundas de desmate ilegal. E aderiram aos programas Cidade Amiga da Amazônia e Estado Amigo da Amazônia e ao Termo de Compromisso pelo Futuro da Floresta, que permitiram melhorias na gestão pública da madeira (mais em Sintonizando)
A Rede Amigos da Amazônia surgiu há 11 anos, quando o Greenpeace liderou uma campanha internacional sobre desmatamento e identificou que o mercado interno brasileiro era o maior consumidor de madeira ilegal da região. Na época, aproximadamente dois terços da produção ficavam no País e, segundo a ONG, a maior parte do volume era consumida pelo poder público.
SINTONIZANDO
ANÁLISE DE CASOS
Mais sobre os casos detalhados no artigo sobre consumo da madeira pelo poder público:
Tanto Porto Alegre (RS) quanto Sorocaba (SP) tiveram manifestações populares como propulsores à adesão do Termo de Compromisso e, por isso, ambas as cidades enfrentaram dificuldades para implementação e promover a aceitação dos atores envolvidos.
Houve desorganização inicial do grupo técnico de trabalho e até a paralisação dos processos. Ainda assim, na capital gaúcha, verificou-se uma internalização da agenda do consumo responsável da madeira com envolvimento de diferentes secretarias municipais, o que é recomendável para o desenvolvimento das atividades correlatas.
O estado de São Paulo e sua capital já possuíam políticas relacionadas à licitação sustentável antes mesmo de os programas temáticos do Greenpeace entrarem na agenda política local. Isso permitiu que ações pelo consumo responsável, no caso da madeira, fossem implementadas com mais facilidade.