Mais inventários de emissões
Para muitos atores públicos e privados no Brasil, a gestão de emissões de gases de efeito estufa (GEE) não é mais um desafio tão inusitado. Nos últimos anos, cada vez mais empresas e instituições públicas identificam o perfil de suas emissões por meio de inventários, o primeiro passo para que se comece a traçar ações efetivas de redução e gestão.
A trajetória do Programa Brasileiro GHG Protocol é um exemplo dessa tendência. Criado em 2008, utiliza a metodologia GHG Protocol, desenvolvida pela World Resources Institute (WRI), para capacitar empresas e governos no Brasil na elaboração de inventários de GEE. O programa também incentiva essas organizações a publicar esses documentos de forma aberta, a partir de uma plataforma virtual, o Registro Público de Emissões.
No início de agosto, em São Paulo, o programa apresentou os resultados dos inventários de emissões referentes a 2013 de 128 organizações nacionais, espalhadas por 16 setores e 57 subsetores da economia brasileira.
Em um ano, houve aumento de 20% no número de participantes e, desde 2008, o número de organizações cresceu 457%. Entre matrizes e controladas, as organizações-membro do programa publicaram 273 inventários este ano. Comparadas com as emissões nacionais de GEE em 2013, excluindo o setor de mudança de uso do solo e florestas, as emissões dos membros do Programa Brasileiro GHG Protocol representaram 8,9% desse valor.
A qualidade dos inventários também aumentou: dos 273 inventários de 2013, 48% são completos e verificados por terceira parte, recebendo assim o Selo Ouro. Essa é a maior parcela de inventários verificados desde 2009, quando aqueles com Selo Ouro representavam apenas 9%. Somados com os inventários de Selo Prata (completos, mas não verificados), 92% dos inventários apresentados em 2013 são completos, ou seja, contabilizam todas as emissões de escopo 1 (referente a emissões diretas) e 2 (com emissões decorrentes do consumo de energia adquirida).
SINTONIZANDO
Confira os destaques do ciclo 2013 do Programa GHG:
MAIS EMPRESAS
No ano passado, as organizações do programa emitiram diretamente 92,4 milhões de toneladas de CO2 equivalente (tCO2e), 29% a mais que em 2012. Esse fato se deve, principalmente, ao aumento proporcional do número de membros.
ESCOPOS
Os inventários também sistematizaram as emissões do escopo 2 (8,79 milhões de tCO2e) e aquelas que ocorrem ao longo da cadeia de valor da organização, chamadas de escopo 3 ( 293,72 milhões de tCO2e).
ADESÃO
As emissões de escopo 3 são de contabilização e relato opcionais, mas 89% dos membros contabilizaram ao menos uma fonte de emissão indireta.
TRANSFORMAÇÃO
Os setores mais representativos foram os da indústria de transformação (32%), atividades financeiras e seguros (12%), e eletricidade e gás (9%).
CONTA DE LUZ
O consumo de energia elétrica dos membros do Programa representou 18,3% do total gerado no País, descontada a parcela utilizada para consumo residencial.
FERRAMENTA VAI MONITORAR IMPACTOS LOCAIS DE BELO MONTE
Empreendimentos como a UHE Belo Monte, uma das maiores obras de infraestrutura da história recente do Brasil, desencadeiam numerosas transformações no território nos quais se inserem, alterando profundamente sua dinâmica política, econômica e social. Por isso, mais do que acompanhar cada processo individual, é necessário lançar luz sobre as conexões entre eles – entender de que forma as medidas compensatórias de impactos dialogam com as políticas públicas, as ações da sociedade civil e com a visão de futuro que as próprias comunidades têm de si. Para tanto, o GVces desenvolverá ferramentas de monitoramento permanentes, com informações acessíveis a todos, de forma a incentivar o fortalecimento da cidadania e a maior participação social.
Esse é o desafio proposto pela Câmara Técnica de Monitoramento do Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável do Xingu (PDRSX) à Fundação Getulio Vargas (FGV): criar uma ferramenta de monitoramento on-line, interativa, periodicamente atualizada e de fácil compreensão para uso de todos os interessados, desde o gestor público até o cidadão comum.
Essa ferramenta contará com três instrumentos principais, a serem desenvolvidos pela FGV: indicadores de efetividade das condicionantes; indicadores de satisfação social, construídos por meio de consulta e validação com atores locais; e um mapa de articulação e sinergias das políticas públicas e ações governamentais, voltado para analisar gargalos e oportunidades de cooperação entre as instituições e os diferentes níveis de governo.
A FGV manterá uma base de pesquisadores em Altamira (PA), que dialogará diretamente com os atores locais na construção coletiva dessas ferramentas. Além disso, essa base manterá seis bolsistas da região – estudantes universitários que ajudarão os pesquisadores a compreender a realidade local.