Redes inteligentes de água reduzem perdas, aumentam a eficiência do sistema e permitem planejar o consumo de modo racional – mas tudo isso tem acontecido fora do Brasil
A cidade medieval de Burgos, no norte da Espanha, é terreno de testes para o sistema de distribuição de águas do futuro. Cerca de 1,2 milhão de euros estão sendo investidos em três bairros do município, de menos de 200 mil habitantes, para incorporar um arsenal tecnológico que promete otimizar a gestão hídrica, detectando e eliminando vazamentos e contaminação quase que instantaneamente.
As casas ganharão medidores controlados remotamente, que vão disponibilizar dados a serem dissecados em tempo real por softwares de computação em nuvem. Isso permitirá prever a demanda e controlar bombas e válvulas especiais, capazes de alterar a distribuição em caso de necessidade.
O projeto piloto, subvencionado em parte pela Comunidade Europeia, está sendo tocado pela Acciona, líder mundial em dessalinização de água. A empresa passou a explorar as possibilidades das chamadas smart water grids – versão hídrica das smart grids, redes inteligentes que ajudam a racionalizar a gestão do setor elétrico.
É um excelente instrumento a considerar no momento em que o estresse hídrico passa a ser a norma em várias partes do mundo. As redes inteligentes de distribuição de água oferecem um nível de conhecimento incomparável ao da gestão tradicional, quase que artesanal, com funcionários encarregados de fazer as leituras de relógios pessoalmente e de identificar vazamentos a partir de reclamações. Elas permitem refinar o planejamento e frear as perdas, ampliando a eficiência, a confiabilidade e a longevidade da rede.
Os usuários também se beneficiam, sobretudo nos casos em que os medidores são capazes de se comunicar nos dois sentidos, tanto com a empresa quanto com o consumidor. Kate Zerrenner, coordenadora da campanha de promoção de políticas públicas de economia de água e energia do Environmental Defense Fund, uma das maiores ONGs americanas, defende o investimento na smart water grid e lembra que o usuário bem informado está mais preparado para reduzir seu consumo e reagir em caso de excessos. “Se as pessoas têm a capacidade de monitorar sua utilização em tempo real, podem decidir como economizar durante uma fase de estiagem, conforme as suas necessidades pessoais”, escreveu, recentemente, na revista Forbes.
Pense em um usuário paulista ao ser informado de que o rodízio imporá um corte de fornecimento de água em 4 de cada 5 dias. Ele poderia, por exemplo, desligar o sistema ao deixar a sua casa, de manhã, para garantir a disponibilidade de água mais tarde, quando precisasse de um banho.
Apesar de suas vantagens, as redes hídricas inteligentes não atraem nem uma fração da atenção dedicada às smart grids elétricas – um mercado que já chegou à faixa de US$ 50 bilhões. Apenas um punhado de projetos piloto, como o de Burgos, estão sendo desenvolvidos, entre eles iniciativas localizadas das empresas de saneamento Thames Water, da Grã-Bretanha, Vitens, da Holanda, e K-water, da Coreia do Sul.
Analistas do setor atribuem o desinteresse a diversas razões. A principal é o custo. Os equipamentos de alta tecnologia em gestão hídrica exigem um investimento muito maior do que os do setor elétrico. De um ponto de vista técnico, é muito mais fácil de controlar o fluxo de eletricidade, que viaja pela fiação, do que uma infraestrutura física mais complexa, com válvulas e canalização. Um segundo motivo é o medo de ataques cibernéticos – e se hackers acessassem o sistema e cortassem o abastecimento de água de uma cidade? Também há dificuldades ligadas à necessidade de aculturamento dos gestores, que não estão acostumados a basear suas decisões em tamanha avalanche de dados.
Note-se, porém, que o elemento mais básico das smart water grids, os medidores inteligentes sem fio, começam a ganhar tração [1]. As vendas desses equipamentos crescem rapidamente em cidades afetadas pela estiagem. Um exemplo é San Francisco, na Costa Oeste dos Estados Unidos, que enfrenta uma seca histórica e, por isso, acelerou a instalação desses equipamentos com o objetivo de reduzir o consumo de água em 10%.
[1] Ao final desta década, 29% dos relógios de água comercializados no mundo serão inteligentes, contra 18% em 2013, segundo estudo divulgado pela IHS, empresa que faz análises desse mercado
Mas a expectativa, entre os que acompanham esse mercado, é que os outros componentes de que depende uma smart water grid, como softwares e válvulas especiais, também começarão a se disseminar, dada a pressão por sistemas de distribuição mais eficientes e sustentáveis e a necessidade de atualizar a infraestrutura caduca.
*Jornalista especializada em meio ambiente, escreve para o blog De Lá Pra Cá[:en]Redes inteligentes de água reduzem perdas, aumentam a eficiência do sistema e permitem planejar o consumo de modo racional – mas tudo isso tem acontecido fora do Brasil
A cidade medieval de Burgos, no norte da Espanha, é terreno de testes para o sistema de distribuição de águas do futuro. Cerca de 1,2 milhão de euros estão sendo investidos em três bairros do município, de menos de 200 mil habitantes, para incorporar um arsenal tecnológico que promete otimizar a gestão hídrica, detectando e eliminando vazamentos e contaminação quase que instantaneamente.
As casas ganharão medidores controlados remotamente, que vão disponibilizar dados a serem dissecados em tempo real por softwares de computação em nuvem. Isso permitirá prever a demanda e controlar bombas e válvulas especiais, capazes de alterar a distribuição em caso de necessidade.
O projeto piloto, subvencionado em parte pela Comunidade Europeia, está sendo tocado pela Acciona, líder mundial em dessalinização de água. A empresa passou a explorar as possibilidades das chamadas smart water grids – versão hídrica das smart grids, redes inteligentes que ajudam a racionalizar a gestão do setor elétrico.
É um excelente instrumento a considerar no momento em que o estresse hídrico passa a ser a norma em várias partes do mundo. As redes inteligentes de distribuição de água oferecem um nível de conhecimento incomparável ao da gestão tradicional, quase que artesanal, com funcionários encarregados de fazer as leituras de relógios pessoalmente e de identificar vazamentos a partir de reclamações. Elas permitem refinar o planejamento e frear as perdas, ampliando a eficiência, a confiabilidade e a longevidade da rede.
Os usuários também se beneficiam, sobretudo nos casos em que os medidores são capazes de se comunicar nos dois sentidos, tanto com a empresa quanto com o consumidor. Kate Zerrenner, coordenadora da campanha de promoção de políticas públicas de economia de água e energia do Environmental Defense Fund, uma das maiores ONGs americanas, defende o investimento na smart water grid e lembra que o usuário bem informado está mais preparado para reduzir seu consumo e reagir em caso de excessos. “Se as pessoas têm a capacidade de monitorar sua utilização em tempo real, podem decidir como economizar durante uma fase de estiagem, conforme as suas necessidades pessoais”, escreveu, recentemente, na revista Forbes.
Pense em um usuário paulista ao ser informado de que o rodízio imporá um corte de fornecimento de água em 4 de cada 5 dias. Ele poderia, por exemplo, desligar o sistema ao deixar a sua casa, de manhã, para garantir a disponibilidade de água mais tarde, quando precisasse de um banho.
Apesar de suas vantagens, as redes hídricas inteligentes não atraem nem uma fração da atenção dedicada às smart grids elétricas – um mercado que já chegou à faixa de US$ 50 bilhões. Apenas um punhado de projetos piloto, como o de Burgos, estão sendo desenvolvidos, entre eles iniciativas localizadas das empresas de saneamento Thames Water, da Grã-Bretanha, Vitens, da Holanda, e K-water, da Coreia do Sul.
Analistas do setor atribuem o desinteresse a diversas razões. A principal é o custo. Os equipamentos de alta tecnologia em gestão hídrica exigem um investimento muito maior do que os do setor elétrico. De um ponto de vista técnico, é muito mais fácil de controlar o fluxo de eletricidade, que viaja pela fiação, do que uma infraestrutura física mais complexa, com válvulas e canalização. Um segundo motivo é o medo de ataques cibernéticos – e se hackers acessassem o sistema e cortassem o abastecimento de água de uma cidade? Também há dificuldades ligadas à necessidade de aculturamento dos gestores, que não estão acostumados a basear suas decisões em tamanha avalanche de dados.
Note-se, porém, que o elemento mais básico das smart water grids, os medidores inteligentes sem fio, começam a ganhar tração [1]. As vendas desses equipamentos crescem rapidamente em cidades afetadas pela estiagem. Um exemplo é San Francisco, na Costa Oeste dos Estados Unidos, que enfrenta uma seca histórica e, por isso, acelerou a instalação desses equipamentos com o objetivo de reduzir o consumo de água em 10%.
[1] Ao final desta década, 29% dos relógios de água comercializados no mundo serão inteligentes, contra 18% em 2013, segundo estudo divulgado pela IHS, empresa que faz análises desse mercado
Mas a expectativa, entre os que acompanham esse mercado, é que os outros componentes de que depende uma smart water grid, como softwares e válvulas especiais, também começarão a se disseminar, dada a pressão por sistemas de distribuição mais eficientes e sustentáveis e a necessidade de atualizar a infraestrutura caduca.
*Jornalista especializada em meio ambiente, escreve para o blog De Lá Pra Cá