Não é apenas na África que o El Niño vem colocando milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar crônica (saiba mais): no Haiti, quase 1/3 de sua população está sendo afligida pela fome causada por uma seca prolongada que aflige o país há três anos, piorada consideravelmente desde o final do ano passado, com o início do fenômeno de aquecimento da superfície do Oceano Pacífico.
De acordo com o Programa Mundial de Alimentos (WFP, sigla em inglês) da Organização das Nações Unidas (ONU), 3,6 milhões de haitianos enfrentam insegurança alimentar, sendo que 1,5 milhão está sendo severamente afetado na sua alimentação cotidiana. Recentemente, o WFP anunciou uma operação de emergência para atender um milhão de pessoas no Haiti. Esta operação deverá destinar transferência de recursos para quase 700 mil pessoas, com o propósito de facilitar a aquisição de comida e fortalecer a economia local. O restante deverá receber um combinado de transferência de recursos e ajuda alimentar em espécie.
Uma avaliação realizada pela ONU indica que a colheita da primavera de 2015 foi muito abaixo da média no Haiti, com quase 3/4 dos agricultores do país reportando perdas que chegam a 80% da sua produção. Para a colheita de 2016, espera-se que 65% dos agricultores haitianos não tenham sequer sementes para plantar. A escassez de alimentos locais já causou a elevação média de preços de quase 60%.
Mesmo com o esforço da ONU, a maior parte das necessidade básicas de ajuda permanece desassistida – isso em um país com graves problemas políticos, sociais e econômicos. Para ampliar o número de pessoas atendidas, o WFP precisa de US$ 72 milhões adicionais nos próximos cinco meses, para ajudar a população haitiana a atravessar seu período do ano tradicionalmente mais seco.
O cenário crítico no Haiti repete a situação que está sendo observada na África subsaariana desde o final de 2015. Eventos climáticos extremos estão mais frequentes neste ano, em parte por causa do fenômeno El Niño, potencializado agora pelo aquecimento gradual e persistente da atmosfera terrestre nos últimos anos.
A crise de segurança alimentar nas Américas não se limita ao Haiti: países como Guatemala, Honduras e El Salvador também estão sofrendo com efeitos da seca sobre a produção local de alimentos. De acordo com o WFP, mais de dois milhões de pessoas estão em situação alimentar agravada na América Central, a grande maioria composta por agricultores familiares.