Para avançar, muitas vezes é preciso dar passos para trás e recuperar o que não evoluiu a contento. Na agenda da sustentabilidade, visionamos um futuro cheio de grandes novidades, conhecimento de ponta, inovações disruptivas, paradigmas revolucionários. Mas enquanto os olhos buscam no horizonte a próxima fronteira a descortinar, nossos pés estão atolados em um passado renitente. Almejamos a vanguarda sem resolver ao menos o básico: o esgoto que produzimos. O Brasil figura nos rodapés do ranking mundial de saneamento. Com metade da população sem acesso a esgoto, ocupa a 112ª posição.
Esta edição que marca os 10 anos da Página22, lançada em setembro de 2006, propõe-se a desvendar os motivos que levam à vergonhosa situação. Para isso, investiga raízes históricas, fatores econômicos, políticos e até traços culturais e psicológicos. Antes de tudo, porém, lança a provocação apelidada de back to basics: vamos retomar a lição número 1 e olhar para os rastros deixados para trás, pois, sem cuidar disso, não será coerente dizer que conquistamos avanços civilizatórios.
Essa primeira lição já ensina alguma coisa: para engajar boa parte da população na agenda da sustentabilidade, popularizando sua mensagem, será preciso ligar os pontos. A maioria das pessoas, quando convidada a indicar suas maiores preocupações, elenca no topo a saúde, enquanto o saneamento básico está no fim da lista. Quer educação e não sabe que a diarreia prejudica o desenvolvimento cerebral das crianças. O meio ambiente soa como algo distante, embora esteja visceralmente ligado às aflições cotidianas.
Temos aí, portanto, uma poderosa forma de promover transformação em larga escala: promover sinapses entre saúde, educação, saneamento e meio ambiente. Que o político, nestas eleições de outubro, ao prometer saúde e educação, traduza isso também como saneamento básico e coloque essas questões no contexto da sustentabilidade.
Boa leitura!