Faltando pouco mais de uma semana para a posse de Donald J. Trump como o 45º presidente dos Estados Unidos, marcada para o próximo dia 20, representantes de grandes empresas e investidores globais divulgaram uma declaração pedindo ao novo governo que apoie e promova políticas e investimentos de baixo carbono no país nos próximos quatro anos.
A mudança do clima promete ser um tema contencioso na era Trump: o futuro presidente já afirmou em sua conta no Twitter que a tese da responsabilidade humana sobre as alterações nos padrões climáticos nas últimas décadas se tratava de uma “farsa” criada pela China para prejudicar a economia norte-americana. Durante a campanha presidencial de 2016, o então candidato republicano chegou a afirmar que pretendia “renegociar” o Acordo de Paris e não deixou claro o que ele poderia fazer caso isso não fosse possível (saiba mais).
Logo após a surpreendente vitória de Trump, em novembro passado, rumores durante a Conferência do Clima de Marrakech (COP 22) especulavam que o novo presidente poderia retirar formalmente os Estados Unidos da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, sigla em inglês), o que cancelaria unilateralmente todos os compromissos políticos e financeiros do país em matéria climática (saiba mais). No entanto, desde então, o presidente eleito e sua equipe pouco falaram sobre o tema.
Durante conversa com editores do jornal The New York Times em novembro passado, Trump reconheceu que existe “alguma conectividade” entre as atividades humanas e a mudança do clima, mas destacou que a preocupação dele agora é com o impacto que medidas de mitigação poderiam ter sobre a competitividade das empresas norte-americanas.
Em dezembro, a imprensa norte-americana divulgou que o estafe de Trump teria requisitado ao Departamento de Energia informações sobre a participação de seus representantes nas Conferências do Clima da ONU nos últimos oito anos. Essa requisição foi interpretada por ambientalistas e por críticos de Donald Trump como uma tentativa de “limpeza” desse Departamento por parte do futuro governo, sinalizando uma descontinuação das iniciativas de redução de emissões associadas à geração de energia, ponto central da política climática do ainda presidente Barack Obama.
A declaração divulgada nesta semana destaca que o novo governo precisa manter seus compromissos domésticos e internacionais em prol da transição de sua economia para o baixo carbono. De acordo com os signatários, quase metade das empresas listadas na famosa lista Fortune 500 têm metas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, utilizar energia renovável e/ou aumentar a eficiência energética.
Entre os signatários estão nomes conhecidos do grande público, como Nike, L’Oreal, Levi’s, Starbucks, Gap, Hilton, Johnson & Johnson e Unilever, e grandes corporações multinacionais como DuPont, General Mills, Hewlett Packard Enterprise, IKEA, Kellogg Company, Mars Incorporated , Pacific Gas e Electric, Schneider Electric, Sealed Air e VF Corporation, entre outros. Juntas, elas representam uma receita anual de quase US$ 1,15 trilhão, estão sediadas em 44 estados norte-americanos e empregam cerca de 1,8 milhão de pessoas.
Juntos, os investidores signatários gerenciam mais de US$ 2 trilhões em ativos e incluem instituições líderes como o Fundo de Aposentadoria do Estado de Nova York, o Sistema de Aposentadoria de Professores da Califórnia (CalSTRS), Westpath Benefits and Investments, além da Trillium Asset Management.
Na declaração, essas instituições pedem ao presidente eleito e ao novo Congresso norte-americano (também controlado pelo Partido Republicano) que apoiem fortemente a continuação das políticas de baixo carbono implementadas nos últimos anos, de maneira a cumprir ou mesmo exceder os compromissos já assumidos; o investimento em uma economia de baixa emissão de carbono dentro e fora do país, a fim de dar aos decisores financeiros clareza e aumentar a confiança dos investidores; e, finalmente, a continuidade do envolvimento ativo dos Estados Unidos no processo de implementação do Acordo de Paris.
“Com dezenas de bilhões de dólares de investimentos em energia renovável nos EUA neste ano, e muito mais globalmente, a questão para a liderança política norte-americana é se eles querem aproveitar esse impulso e seu potencial de crescimento econômico”, disse Jonas Kron, vice-presidente da Trillium Asset Management, uma das organizações signatárias da declaração. “É extremamente importante perceber que esta é uma oportunidade que os legisladores nacionais também podem aproveitar, e não só os líderes nacionais”.
“É imperativo que as empresas tomem um papel ativo no cumprimento dos objetivos estabelecidos pelo Acordo Climático de Paris”, disse Anna Walker, Diretora Sênior de Política Global e Advocacy da Levi Strauss & Co. “Será fundamental que trabalhemos juntos para garantir que os EUA mantenham sua liderança climática, garantindo, em última instância, a prosperidade econômica de longo prazo de nossa nação “.