O Brasil é uma potência mundial no setor agropecuário e, ao mesmo tempo, uma potência no campo ambiental.
Em 2016, a agropecuária respondeu por 26% do PIB e 46,6% das exportações.
Este ano deve colher a maior safra de grãos da história: 232,6 milhões de toneladas, volume que mantém o País em uma posição de destaque no ranking dos maiores produtores de alimento do mundo.
Todos esses números são muito relevantes para a economia, mas embutem impactos ambientais preocupantes.
Por exemplo, em sete anos – de 2007 a 2014 – na região de Matopiba (que compreende os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) 62% do avanço da soja ocorreu em área de vegetação nativa. E 25% do avanço da soja no bioma Cerrado também foram sobre a vegetação nativa.
Além disso, mais da metade dos 8 mil quilômetros quadrados de Floresta Amazônica desmatada em 2016 destinou-se à formação de pastagens.
Isso significa que o aumento da safra e das exportações não é decorrência apenas de melhora na produtividade, mas também da mudança no uso da terra.
Estudos mostram que o desmatamento não só prejudica o hábitat de outras espécies e a formação de chuvas, mas afeta a absorção da água que reabastece aquíferos e lençóis freáticos.
A vegetação do Cerrado possui um sistema radicular que chega a dezenas de metros e atua na formação das principais bacias hidrográficas brasileiras, até a Amazônica.
Já as florestas da Amazônia são importantes para regular o clima e para o regime de chuvas no Sudeste e no Centro-Sul.
Isso tudo significa que, no fim das contas, o próprio setor agropecuário estará entre os grandes prejudicados pelo desequilíbrio climático provocado pela mudança do uso da terra, pois terá de enfrentar maior ocorrência de eventos extremos, como seca prolongada e excesso de chuvas.
Sem falar que o desmatamento é um contrassenso à meta estabelecida no Acordo de Paris, que inclui o compromisso do Brasil que inclui o compromisso do Brasil de acabar com o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030.
O final feliz seria a união dessas duas potências: o Brasil figuraria como a maior potência agroambiental do mundo, embarcando em suas commodities a imagem de uma agricultura mais moderna, com mais sustentabilidade.
Nesta edição de P22_ON você encontrará reportagens com várias abordagens sobre essa falsa contradição entre o agro e a conservação, pois na verdade um depende do outro.
Vamos tratar também da dicotomia existente dentro próprio universo rural brasileiro – a agricultura moderna conservacionista, de baixo carbono e alta produtividade, em contraposição à agricultura arcaica, com práticas superadas e insustentáveis.
Qual o papel do investidor, do financiador, do Estado, do produtor e do consumidor como indutores da modernização no campo?
Como a tecnologia pode ajudar o País a reduzir riscos e aumentar a competitividade?
Os pecuaristas conseguirão rastrear suas cadeias produtivas para atender às novas exigências que a União Europeia deve impor para continuar comprando carne brasileira?
Tudo isso e muito mais aqui, em P22_ON Desmatamento.