Uma semente plantada há três anos por uma pequena iniciativa-piloto do programa de governo InovaSociobio, em uma comunidade da Ilha do Marajó (PA), resultou no desenvolvimento de um modelo de inovação que será vitrine da bioeconomia amazônica na COP 30 do clima, em Belém.
No contexto de uma nova etapa mais abrangente do programa, que nasceu como resposta a demandas da mudança climática, o Centro de Sociobioeconomia do Pará integrará conhecimentos tradicionais, ciência e tecnologia, investidores e negócios sustentáveis, A iniciativa compõe um ecossistema que inclui a Escola de Saberes da Floresta, o Centro de Turismo de Base Local, o Centro de Inovação e Bioeconomia da Amazônia, o Museu da Bioeconomia, o Centro de Cultura Alimentar.
“O diferencial está no modelo participativo com escuta das comunidades para o desenho de políticas compatíveis com essas realidades, de forma a superar gargalos e não fazer mais do mesmo”, afirma Camille Bemerguy, secretária adjunta de bioeconomia na Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Estado do Pará (Semas) do Pará.
Após a aprovação da Política Estadual sobre Mudanças Climáticas do Pará, em 2020, foi lançado o Plano Amazônia Agora, com as bases do desenvolvimento econômico de baixo carbono. O instrumento resultou no Plano Estadual de Bioeconomia (PlanBio), em 2022, prevendo 114 ações, com destaque para a estruturação de cadeias produtivas e negócios sustentáveis.
A partir dessa demanda, nasceu o programa InovaSociobio, que recebeu recursos do programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e apoio técnico da The Nature Conservancy (TNC), com objetivo inicial de realizar projeto-piloto em comunidade tradicional para entendimento das necessidades locais quanto a capacitação e acesso a crédito, tecnologias e assistência técnica.
Com base nos primeiros resultados, já no âmbito do PlanBio, a iniciativa foi ampliada até o fim de 2024 para seis pontos de inovação em diferentes municípios – Salvaterra, Gurupá, Oeiras, Curralinho, Belterra e Moju. Cerca de 700 pessoas – indígenas, quilombolas, ribeirinhos – foram capacitadas em trinta mentorias em bionegócios, empreendedorismo e inovação, com investimento total de R$ 1,2 milhão. No próximo passo, hospedada no Centro de Sociobioeconomia do Pará, o objetivo é estender as ações para 20 territórios, com a construção de linhas de microcrédito diferenciado para as diferentes realidades locais.
“O Estado vai induzir interações para o modelo de negócios se autossustentar, juntando conhecimento tradicional e tecnologias e catalisando competências no ecossistema para potencializar ações e captação de recursos”, explica Bemerguy. “Mitigação de carbono, segurança alimentar, emprego e renda, e acesso a mercados, olhando principalmente para jovens e mulheres, são os resultados esperados”.
O plano é aumentar a capacidade de investimentos públicos e privados. Segundo ela, a experiência do Pará inspira o Plano Nacional de Sociobioeconomia, em construção pelo governo federal. “O momento é de potencializar políticas públicas e atrair investimentos privados conectados às realidades da região, por meio de incentivos e instrumentos como, por exemplo, um modelo de Zona Franca para produtos da sociobiodiversidade”.