Promover negócios éticos que valorizam os povos da floresta e a conservação da biodiversidade da Amazônia inspira a construção de novos modelos de relações comerciais entre empresas compradoras e fornecedores de bioprodutos de Unidades de Conservação e Terras Indígenas. “Para problemas complexos são necessárias soluções em rede, porque ninguém conseguirá sucesso sozinho para manter a floresta em pé”, ressalta Luiz Brasi, gerente da rede Origens Brasil, no Imaflora.
Com garantia de origem e rastreabilidade da produção à comercialização, o modelo não apenas constroi pontes entre produtores e empresas, como interage com consumidores por meio de um selo em formato de QR Code, pelo qual é possível conhecer as histórias de cada produto e sua procedência, gerando mais aproximação e conexão entre quem produz e quem compra.
“Um dos principais desafios é conciliar a lógica industrial ao tempo da floresta para garantir o planejamento e relações de longo prazo”, afirma Brasi. No total, 40 empresas – como Natura, Wickbold, Mercado Livre, Grupo Carrefour – participam da Origens Brasil, presente em seis grandes territórios na Amazônia. São 61,7 milhões de hectares, abrangendo 4.140 produtores (77 etnias/47% mulheres), ligados a 87 organizações comunitárias e ONGs. Da borracha a castanha, óleo de copaíba, artesanato e objetos de decoração, o portfólio atual possui 100 produtos vendidos em diferentes espaços, como marketplaces e supermercados, com movimentação de R$ 23 milhões desde 2016.
Administrada pelo Imaflora, a rede tem governança colaborativa, com participação dos diversos membros em diferentes instâncias, como Comitês Territoriais e de Empresas. Lideranças comunitárias, representantes das instituições de apoio e das organizações locais participam de reunião anual para discutir temas e apresentar demandas à gestão da rede para melhorias, dentro de espaços de diálogo e colaboração para ações que são empreendidas de forma descentralizada. A ONG capacita e treina técnicos das instituições de apoio e organizações comunitárias em temas como rastreabilidade, indicadores de impacto e elaboração de contratos, além de coordenar a comunicação em redes sociais.
Está prevista a criação de um novo Guia de Comércio Ético com critérios adicionais para aprimorar a relação entre empresas e fornecedores. E no sentido de equilibrar custos e preços, a estratégia é incorporar remuneração por Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) a partir de projeto piloto apoiado por um fundo inicial de R$ 2 milhões.
A questão dos preços justos é fundamental na competição com alternativas econômicas que causam desmatamento. Na Cooperativa dos Povos da Calha Norte do Pará (Coopflora), em Oriximiná (PA), o desafio é livrar-se dos “regatões” – atravessadores que ditam preços para escoar a produção extrativista. Na comercialização em rede via Origens Brasil, com rastreabilidade dos produtos, os valores melhoraram. Copaíba e pimenta indígena assissi são carros-chefes, além da castanha-do-brasil, vendida à fabricante de pães Wickbold.