O que se passa pela cabeça dos 122 milhões de americanos – 41% do total – que, segundo a última pesquisa Gallup, estariam “muito preocupados” com o aquecimento global? Ao que tudo indica, sua reação é na base do 8 ou 800. Estariam nascendo duas tendências extremas de comportamento, segundo a mídia local.
A primeira delas é o surgimento dos chamados ecoansiosos, vítimas de um terror paralisante que transtorna o cotidiano. Com medo de furacões e inundações monstro, eles já não dormem, perdem o apetite e sofrem palpitações.
Os ecoansiosos seriam cidadãos que declaram sentir um mal-estar extremo devido ao quadro climático. A autointitulada ecoterapeuta Linda Buzzell-Saltzman, de Los Angeles, fala em uma “desordem pós-traumática associada ao acesso a notícias”. Péssimas notícias, bem entendido.
Ela explica que ecoterapeutas são psicoterapeutas que lidam não apenas com relações humanas, mas também com as relações entre os seres humanos e a natureza. Seus tratamentos buscam uma reconexão com o mundo natural e baseiam-se em muitas caminhadas e jardinagem. Outra ecoterapeuta, Melissa Pickett, do Novo México, declarou à imprensa que recebe entre 40 e 80 ecoansiosos por mês, aos quais recomenda mudar seu estilo de vida e a carregar determinadas pedras, com propriedades energizantes.
Uma segunda tendência de comportamento apontada pelos jornais dos EUA é o surgimento de militantes pró-impacto-zero, gente que se considera responsável pelo que ocorre no mundo e está mudando radicalmente seu modo de vida para tentar adiar o Armagedon. Um dos primeiros a capitalizar essa tendência foi o Discovery Channel, que acaba de anunciar que pretende lançar um canal a cabo inteiramente voltado para um modo de vida ambientalmente correto.
Os adeptos dessa corrente já têm até um guru – o escritor Colin Beavan. Junto com a esposa, Michelle, e a filha, de 2 anos, ele decidiu reduzir ao mínimo suas emissões de carbono e compensar o restante com voluntariado, doações e plantio de florestas, para que o balanço final seja nulo.
A família já descartou elevadores, carros e transportes públicos, eletrodomésticos, jornais, embalagens, papel higiênico. Os alimentos que formam sua dieta vegetariana têm de ser produzidos num raio de 400 quilômetros e precisam ser da estação. Qualquer objeto adquirido deve ser de segunda mão. Todo o lixo tem de ser compostado.
Detalhe importante: os Beavan não são eremitas recolhidos numa fazenda remota. Eles vivem em Manhattan, bairro central de uma das cidades mais verticais e concentradas do planeta.
“Esse projeto é uma reação contra o meu eu anterior, cheio de boas intenções, mas lento nas ações”, declara em seu website, o No Impact Man, como Beavan gosta de ser chamado. Essa mea-culpa promete ser muito, muito rentável, graças ao tino comercial do homem sem impactos. Compre o livro e veja o filme muito em breve.
Ao longo de um ano, os Beavan pretendem adotar uma lista crescente de exclusões e substituições. Já na primeira semana, em novembro, a família percebeu que sua vida mudara para um ritmo muito mais calmo, graças às longas andanças e ao boicote à TV. Depois, começaram a descobrir novos talentos, como a produção caseira de pão, a compostagem dos restos da cozinha, a fabricação de vinagre com tocos de maçã. Os mais de 5 mil visitantes diários do blog passaram a trocar dicas sobre estratégias de sobrevivência de baixo impacto – onde achar um fio dental reciclável ou um método anticoncepcional “do bem”.
Entretanto, a experiência não é sem percalços. Beavan foi abalroado por uma BMW quando tentava atravessar a ilha de bicicleta. Também foi insultado por garçons que não entendiam por que ele faz questão de usar seu próprio guardanapo de pano, que traz sempre no bolso.
O homem sem impacto também arrebanhou uma legião de detratores, sobretudo após aparecer no New York Times e em diversos programas de televisão. Para eles, Beavan é hipócrita, por não se mudar para o Harlem e plantar árvores com o dinheiro da venda de seu caríssimo apartamento. Dizem também que a experiência não tem nada de mais, já que centenas de milhões de africanos vivem do mesmo jeito. Reclamam que milhares de árvores serão sacrificadas para que o seu livro seja impresso. Ou, ainda, que o projeto cheira a mentira, pois Michelle dificilmente subiria a pé 40 andares para chegar ao seu trabalho, a redação da revista BusinessWeek.
Maldade dessa gente. A idéia de Colin é um refresco para quem cansou de ouvir as más notícias de braços cruzados. E, com certeza, é melhor do que curtir uma ecofossa.