Roupa e moda não são necessariamente a mesma coisa. Com o perdão da redundância, é sempre bom lembrar que por trás das efemeridades, dos altos e baixos, dos ins e outs, repousa a necessidade básica de vestir, tão primordial quanto comer e morar. Essa sutil separação de mundos é o que move Instituto Ecotece, entidade que se dedica não somente à ideia de moda sustentável, mas antes e principalmente ao vestir consciente.
“Você sai do passageiro, das tendências, para o vestir cotidiano, que faz parte da vida de qualquer pessoa, seja ela interessada em moda ou não”, explica a fundadora, Ana Cândida Zanesco. Uma prática tão essencial no dia-a-dia que suscita inclusive questões de saúde, diz ela. Basta lembrar o esforço comum de se fazer caber numa roupa apertada e desconfortável, ou para suportar um dia inteiro a bordo de um salto alto, por exemplo.
Para Ana Cândida, há muito que se pode fazer para sintonizar esse vestir cotidiano com práticas alinhadas à sustentabilidade, sem abrir mão da beleza e da criatividade. “Tem muitas necessidades emocionais envolvidas. O ser – humano precisa do belo e toda criança também gosta de novidade e de imitar. A gente procura acolher essas necessidades”, diz.
Um dos esforços é o de recuperar a cultura da manufatura. Pouco valorizadas pelo mercado, as costureiras são uma espécie em risco de extinção. Por outro lado, quem desenvolve a capacidade de produzir ou intervir nas próprias roupas, ainda que não profissionalmente, cria um vínculo emocional que se opõe à descartabilidade.
Para aliar o resgate cultural à geração de renda, o instituto capacitou um grupo de mulheres do Jardim Santo André, na periferia de São Paulo, como “retecelãs”. O neologismo se aplica a técnicas de costura e bordado que se baseiam na tríade “retoques, reparos e reformas”. Hoje o grupo comercializa produtos como ecobags, brindes e camisetas e ainda administra um centro de triagem para doação de roupas que são recuperadas e então distribuídas na comunidade.
O Instituto Ecotece ainda oferece curso para profissionais de moda interessados em práticas de sustentabilidade, com apoio da London College of Fashion. Nesta seara, como em todas as outras, são muitos os dilemas e armadilhas. Ana Cândida cita como exemplo a fibra de bambu, referendada como ecológica por ser natural. No entanto, o processo de fabricação do tecido abusa de produtos químicos poluentes e a maior parte do que se comercializa no Brasil vem da China, o que sempre levanta suspeitas sobre as condições de trabalho.
“Muitas vezes, o aluno quer saber apenas quais materiais sustentáveis que ele pode usar. A gente tem de ensinar que o importante não é só o material, mas toda a cadeia”, ensina Ana Cândida.
Interessado? O Instituto Ecotece está com inscrições abertas para a turma de agosto. Passa lá!