Até o final deste mês, os belo-horizontinos têm um momento de glória em pleno centro da capital mineira. Quem passa por lá e entra na misteriosa caixa vai encontrar coisas bem mais legais que cultos religiosos ou financeiras oferecendo dinheiro com juros astronômicos.
A artista plástica Fernanda Gomes montou, dentro da caixa, um vídeo com modelos projetadas num telão. As modelos desfilam com aquela cara de poucos amigos. Se você não se empolgar, nada acontece. Mas, se reagir de alguma maneira, a modelo vai mudando os ares, dá um aceno, uma reboladinha. Quanto mais ruído você fizer, mais performance. Até uma hora em que você vai se ver bem lá no centro do telão e vai virar o próprio astro da instalação Pare de me Ignorar.
Do lado de fora, uma televisão mostra o que está rolando lá dentro. A intenção é criar um ambiente de interação entre pessoas que se ignoram enquanto transitam pelo espaço público. Fernanda já criou outras histórias que propõem a quebra instantânea do anonimato das ruas. O resultado são palmas e sorrisos.
A Bienal e a política da arte
A 29ª Bienal de São Paulo volta a um tema sempre “velho e novo”, a ideia de que é impossível separar a arte da política. Mas não é tratar ao pé da letra habitual questões pertencentes ao mundo político. É o além da arte, o “copo de mar” que dá título a esta edição da mostra: “Há sempre um copo de mar para um homem navegar”.
O verso do poeta Jorge de Lima, tomado de sua obra Invenção de Orfeu (1952), sintetiza o que se busca com esta Bienal de São Paulo: afirmar que a dimensão utópica da arte está contida nela mesma, e não no que está fora ou além dela. “É nesse infinito que os artistas teimam em produzir que está a potência de seguir adiante, a despeito de tudo o mais. Como diz o poeta, “mesmo sem naus e sem rumos/ mesmo sem vagas e areias”, explicam os curadores Moacyr dos Anjos e Agnaldo Farias.
A mostra vai pôr os visitantes em contato com maneiras de pensar e habitar o mundo para além dos consensos que o organizam e que o tornam ainda lugar pequeno, onde nem tudo ou todos cabem. Vai pôr a gente em contato com a tal política da arte. Serviço: de 25 de setembro a 12 de dezembro, Parque do Ibirapuera, São Paulo-SP. De 2ª a 4ª feira, das 9 às 19h; 5ª e 6ª feira, das 9 às 22h; sábado e domingo: das 9 às 19h. Grátis.
Artemobilidade
A jornalista Tatiana Achcar perambulou pelo mundo atrás de boas ideias de convivência e sobrevivência. Viveu intensamente como ciclista urbana e trouxe invenções na mochila, como o ArteMobilidade que apresenta agora. Durante o mês de setembro, o movimento recolheu camisetas usadas que foram recriadas com frases e motivos ligados a uma mobilidade sustentável. As novas e exclusivas camisetas foram vendidas com renda revertida a projetos que priorizam esta causa.
Ela viu coisa parecida nos EUA e conta como se deu o insight de trazer pra cá. “Eu estava usando uma camiseta com uma frase sobre a Amazônia. Um amigo americano adorou e propôs uma troca. A dele era uma dessas camisetas customizadas, com um Peace and Love, bem grande, e atrás, o silk de um homem jogando um carro no lixo. A camiseta virou meu xodó! Ela e o contexto de reciclar recurso, engajar pessoas, ser criativo e misturar arte são a fonte de inspiração pro ArteMobilidade.” No site dá pra acompanhar os desdobramentos e, de cara, guardar três mensagens: “O pedestre é o rei!”, “Menos carros, mais bicicletas!” e “Sai do carro. Vem pra rua!”.
Mas eu não sei desenhar
Os artistas da exposição “Designo” convidam o público a se expressar e desmitificar a ideia de (não) saber desenhar. Cinco pernambucanos se juntaram para discutir o conceito de desenho e afirmá-lo como linguagem autônoma. Bruna Rafaella, Cyane Pacheco, Fábio Rafael, Jeims Duarte e Mozart Santos criaram desenhos que se deslocam dos discursos da vida cotidiana e fogem da representação do real.
Eles fazem um trabalho com alunos da rede pública municipal através de oficinas na galeria e o visitante da exposição é convidado a mergulhar em suas experiências próprias e a botar para fora o desenhista desconhecido. Só indo lá. Serviço: Dumaresq Galeria de Arte – Rua Professor Augusto Lins e Silva 1033, Recife-PE, de 2ª a 6ª das 9 às 18h, de sábado das 9 às 13h, mais aqui.