Autor: Amália Safatle

Por Amália Safatle Dos amores incondicionais, aquele que se nutre pelos bichos parece ser um dos mais nobres. Eles não falam e, na maioria das vezes, não retribuem, tampouco fazem força para agradar. Também não espalharão nossos genes, como farão os filhos. A gente gosta e ponto. Não importa que pareçam gosmentos, como os minúsculos seres que habitam a parede de um minhocário, em meio a fungos. É como se essas estruturas erráticas arvorassem um universo particular dentro de uma composteira de lixo. O que é grande e o que é pequeno? Esta é uma homenagem aos bichos não fofos,…

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Por Amália Safatle Inspirar-se na experiência de bilhões anos da natureza para criar produtos tem sido uma vertente bem conhecida da Biomimética. Mas, e quando a natureza inspira processos, sistemas e, mais que isso, um modelo mental? Whole (inteiro) e Economics (Economia) deram origem a Holonomics, pensamento que os consultores Simon e Maria Robinson têm desenvolvido. Enquanto a Economia ainda separa pessoas da natureza, colocando o ser humano em uma posição hierárquica, o pensamento holonômico enxerga uma rede, formada por uma multiplicidade de visões, e busca os significados desse sistema complexo– aplicáveis nas organizações. “Ver é um ato de humildade”,…

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Por Amália Safatle Quando a grafia da luz se combina com a arte, a fotografia alcança um status que ultrapassa o real e liberta nossa visão. Descortina montanhas onde tem um borrão no muro. Penhasco de pedra na sarjeta da rua. Árvore na ranhura do asfalto. Miriam Homem de Mello não age sozinha: usa a matéria-prima que mora na imaginação humana para compor o seu trabalho, em uma interatividade silenciosamente visual. Neste ensaio, Miriam liquidifica a realidade. Ao lançar mão de sua objetiva subjetiva, mistura o urbano e o selvagem e usa a abstração para construir novos formatos. Já não…

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Por Amália Safatle De passos leves e mãos livres, como quem se desvencilhou das amarras que a vida acaba impondo, Tamas Makray desembarca do táxi para uma conversa no quintal. A bagagem está toda na memória. O voo barulhento dos helicópteros nas imediações da Avenida Paulista, em São Paulo, em dia de mais uma manifestação de rua, pouco afeta o tom de voz deste senhor húngaro de 82 anos, que pede para ser chamado de você (nota do editor: a PÁGINA22 adota como padrão o tom formal na Entrevista). Um admirador dos jovens e da inovação que deles brota, Makray…

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Por Amália Safatle Da cidade natal de Anápolis, cercada de terra por todos os lados, este goiano lançou-se ao mar, onde passa, até mesmo, de 30 a 40 dias do ano. Edmo Campos, hoje professor titular do Departamento de Oceanografia Física, Química e Geológica da Universidade de São Paulo, é um dos maiores nomes no Brasil capazes de tratar sobre a sofisticada relação entre oceanos e clima. Em meados de setembro, conversou com PÁGINA22 sobre o Capítulo 3 do relatório que o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC) lançaria no dia 30 (leia sobre o relatório em “Não dá mais…

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Por Amália Safatle Será Brasília uma cidade ou quem sabe um amplo estacionamento? Às vezes, parece estendida na paisagem como um parque, mas, olhando bem, tem aquele ar de condomínio fechado. O coletivo mineiro Poro lembra que, de perto, uma cidade não cabe no mapa. No catálogo que reúne a exposição Brasília: (Cidade) [Estacionamento] (Parque) [Condomínio], Brígida Campbell e Marcelo Terça-Nada dissecam este distrito tão federal e arriscam suas intervenções. Rabiscos, anotações, ensaios. Cartões-postais nos quais a imagem é a palavra, cabe a você imaginar a paisagem. Fotografias. Na cidade que é estacionamento, o grafismo tenta dar algum ordenamento, mas…

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Por Amália Safatle “A sociedade brasileira desconhece, até hoje, o valor de uma imprensa livre e fiscalizadora do poder”, afirma o professor Eugênio Bucci Até ser empunhada nas bandeiras e defendida em todo o País, a noção de que educação é um serviço fundamental levou tempo para ser assimilada. O mesmo não se deu ainda com a imprensa livre: a sociedade brasileira desconhece, até hoje, o valor de um jornalismo que fiscaliza o poder – mesmo entre a maioria dos donos de empresas de comunicação. A denúncia do professor Eugênio Bucci assume tom mais dramático quando ele compara o atual momento do jornalismo…

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Por Amália Safatle Em São Paulo, na Rua Dona Antônia de Queirós de número 91, Hélio Forte não parece ligar para a avassaladora onda digital. Consertador de telefones novos ou antigos, trabalha há 40 anos no ramo. Tampouco a Maria Aparecida Lima, costureira desde os 12, no bairro da Bela Vista. Quem sabe por ser o tempo a condição mais fundamental do mundo físico (mais em  “Ser de fronteira”, ed. 38) o relojoeiro Baltazar Joaquim de Paula lide tão bem com a marcação de compasso dessa matéria-prima essencial, instalado que está na Rua Rocha 93 desde o ano de 1971. Fita métrica…

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Uma nova plataforma online ajuda cientistas e especialistas em mudanças climáticas a calcular a quantidade de carbono florestal e a biomassa. O programa GlobAllomeTree foi criado por universidades na Itália e França para a FAO, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação. No site GlobAllomeTree é possível lar dados para estratégias bioenergéticas incluindo volume, biomassa e estoques de carbono de florestas. Amália Safatle, Página 22.

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Na bela casa ajardinada do bairro paulistano do Pacaembu, onde Antonio Delfim Netto trabalha, a passarinhada não dá trégua. Ao transcrever esta entrevista, é possível ouvir a cantoria ao fundo, no gravador, a cada vez que a voz do professor se amansa. A temática ambiental acalorou esta conversa algumas vezes, motivada por uma inspiração quase esquecida: Nicholas Georgescu-Roegen (1906-1994), o matemático e economista romeno considerado pai da Economia Ecológica, homenageado recentemente na FEA-USP, com a participação de Delfim. Na ocasião, foi lançada a versão brasileira do livro O Decrescimento – Entropia – Ecologia – Economia (Ed. Senac), com prefácio do professor José Eli da Veiga.

Contemporâneo de Delfim Netto em uma passagem pela FEA, Georgescu lançou a ideia de que a economia depende da capacidade de recarga da natureza e dos limites ecológicos. Portanto, não poderia ser distanciada das Ciências Naturais e muito menos estaria imune à Segunda Lei da Termodinâmica, que trata da entropia.

Delfim, que nesta entrevista considera um erro crasso interpretar que Georgescu rebateu o crescimento econômico, acredita na contínua capacidade do homem de adaptar aos desafios ambientais criando tecnologias que empurrem para mais longe as dificuldades. Até a entropia mostrar que, por maiores que sejam os truques, o mundo caminha para a finitude. Mas, até lá, diz ele, “tem chão pra burro”. Para Delfim, Georgescu foi banido especialmente por não acreditar em instrumentos da economia neoclássica, que se tornou mainstream – assim como o “velho Marx”, que foi alijado do sistema por “dizer algumas verdades”.

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