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Levou 35 anos para que o Japão entendesse o nexo entre o despejo de metilmercúrio nos rios de Minamata, pela indústria química Chisso Corporation, e a deformidade de crianças e adultos que consumiam a água da região. Somente em 1956 foi reconhecido o Mal de Minamata, doença incurável cujos sintomas são falta de coordenação motora, perda de sensibilidade nas mãos e pés, fraqueza muscular, perda de visão periférica e danos à audição e à fala. Em casos extremos, leva em semanas à insanidade, paralisia, coma e morte. Os resíduos industriais foram despejados entre 1932 e 1968.

No Brasil, a contaminação por mercúrio é menos localizada e mais abrangente: as águas de rios como o Tapajós, contaminados pelo metal pesado decorrente da atividade ilegal do garimpo, estendem-se por um imenso território amazônico, com efeitos difusos, o que aumenta a dificuldade em mostrar para a opinião pública a relação de causa e efeito entre o garimpo e doenças neurológicas já sentidas pela população.

Por isso, foi fundamental a pesquisa do médico neurologista Erik Jennings que coletou dados de indígenas e populações ribeirinhas altamente impactadas pelo mercúrio despejado no ambiente pelo garimpo – uma vez que dependem da alimentação de peixes para sobreviver. “Há 30 anos, com a atividade garimpeira, que estudos têm mostrado um nível muito alto no sangue dessas pessoas”, afirma Jennings.

O médico foi central no elo entre a história de Minamata no Japão e o que vem ocorrendo no Brasil, como nos contam o diretor Jorge Bodansky e o produtor e roteirista Nuno Godolphim, do documentário Amazônia, A Nova Minamata? 

O filme chega aos cinemas amanhã, 4 de setembro, com distribuição da O2 Play. O documentário acompanha a saga do povo Munduruku para conter o impacto destrutivo do garimpo de ouro em seu território, e ao mesmo tempo revela como a Mal de Minamata ameaça os habitantes de toda a Amazônia hoje – inclusive a população urbana.

Parceria da Ambipar com a Be8, produtora gaúcha de biodiesel, vai testar a substituição total do diesel fóssil pelo biodiesel sem necessidade de adaptação dos motores, com a promessa de reduzir emissões. Se bem sucedida, a tecnologia poderá se escalada para nível nacional e até internacional, reforçando a tradição brasileira de oferecer soluções no campo dos biocombustíveis, segundo Rafael Tello.

Não serão triviais os desafios a serem enfrentados na COP 30. Dez anos após o Acordo de Paris, firmado durante a COP 21, a conferência do clima das Nações Unidas que o Brasil sediará em novembro em Belém do Pará ocorrerá sob o signo da derrocada do sistema multilateral, colaborativo e cooperativo, que havia propiciado em 2015 um consenso internacional histórico pela redução das emissões.

Hoje, segundo a ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira, o cenário é completamente outro, regido pela fragmentação da diplomacia climática, pelo avanço da extrema direita negacionista e pelo retorno ao poder de um líder – Donald Trump – que propõe uma nova arquitetura global calcada em energia fóssil, nacionalismo e ações anti-ESG, com o respaldo das big techs.

O mundo estará perdido? Não necessariamente. “Não é porque o Trump diz que o clima não importa mais, que o clima não vai importar mais. Ao contrário, o reconhecimento do risco climático está claro”, diz o presidente do Instituto Arapyaú, Roberto S. Waack. 

O risco climático não só foi escancarado, como agora é considerado de curto prazo – mostra o mais recente relatório do Fórum Econômico Mundial, lançado em 20 de janeiro em Davos. Riscos de curto prazo, por óbvio, afetam o resultado econômico de curto prazo das organizações, por mais que uma parcela delas não queira admitir. A crise climática, portanto, entra na veia dos principais tomadores de decisão. Mais um risco vem da litigância climática, que tende a crescer com a mobilização social, fortalecida para combater retrocessos na agenda. Além isso, contrapesos geopolíticos vêm da China, que passa a liderar soluções energéticas para o clima, enquanto o Brasil pode – e deve – colocar-se como um provedor de soluções especialmente no que se refere a uso da terra e capital natural.

“A COP 30 vai, de certa maneira, incorporar todo esse processo. Eu nunca vi tanta conexão do mundo empresarial com a discussão climática e muito especialmente com a COP 30”, diz Waack, de Davos, de onde concedeu com Izabella Teixeira esta entrevista à Página22, inaugurando a série “Para Além da COP 30”.

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