No terreno árido de soluções que é a mudança do clima, até as poucas e boas ideias carregam uma enormidade de controvérsia. É o caso do mercado de carbono, criado para acelerar a redução de emissões, permitindo que poluidores com processos de mudança mais complexos possam comprar créditos daqueles que se agilizarem para emitir menos gases de efeito estufa.
Isso, queremos dizer, em teoria. Esse mecanismo vem enfrentando seguidas denúncias, como projetos de energia limpa fraudulentos que geram mais créditos que redução de emissões. No início das operações na Europa, o valor dos créditos – ou permits – despencou como resultado de limites generosos de emissão e muitos papéis distribuídos a preço de banana.
Na semana passada, ativistas hackearam o site da Bolsa do Clima europeia (European Climate Exchange – ECX). Durante 22 horas, substituíram a página inicial por um protesto em que se lia “Super promoção – o clima em oferta – lucros garantidos” (foto). O texto afirmava que o esquema de comércio de carbono é suscetível ao lobby corporativo e que as licenças para poluir apenas garantem a continuidade do business as usual gerando lucros escandalosos. O pessoal técnico demorou um dia inteiro para restabelecer a página original.
Na ala moderada, o movimento britânico Sandbag afirma que o sistema é bom em princípio, mas é preciso um trabalho maior de prevenção e controle para evitar fraudes. Como estratégia para ajudar a evitar desvios, os ativistas do Sandbag compram permits para retirá-los do mercado e conclama os internautas a fazerem o mesmo. Seria uma forma garantida de evitar que toneladas de carbono cheguem a atmosfera e que outros agentes usem os créditos para continuar poluindo.
A Flavia Pardini, nossa blogueira e fundadora de Página 22, preparou um especial completo sobre as controvérsia do sistema cap-and-trade, vigente na Europa, e ainda sobre os prós e contras de outras duas propostas que começam a ganhar peso: o cap and dividend e o imposto sobre carbono. Para quem deseja aprender mais sobre como reduzir gases de efeito estufa sem esganar a economia, vale o clic.