A Austrália está prestes a se tornar o primeiro país do mundo a bater de frente com a indústria do tabaco e exigir que os fabricantes abandonem todo e qualquer adorno nas embalagens de cigarros. Se tudo correr bem e o país não mudar de governo no meio do caminho, a medida entra em vigor em 2012 e deve ajudar a reduzir o número de fumantes, hoje em torno de 20%.
A decisão foi anunciada em abril pelo então primeiro-ministro Kevin Rudd, do partido Trabalhista, junto com um aumento de 25% no imposto sobre os cigarros e a destinação de A$ 27,8 milhões para uma campanha anti-fumo. Com o novo imposto, os fumantes australianos pagam cerca de 15 dólares (R$ 24) por um maço de 30 cigarros e o governo estima arrecadar A$ 5 bilhões em quatro anos para investir na reforma do sistema de saúde.
Em junho, entretanto, Rudd perdeu o cargo de primeiro-ministro e, às vésperas das eleições que vai sacramentar seu sucessor, a indústria do tabaco financia uma campanha publicitária contra as embalagens sem adornos – e, dizem analistas, contra o Partido Trabalhista.
A propaganda de cigarros é proibida na Austrália, os impostos somam mais de 70% do preço e os maços exibem imagens horríveis das conseqüências do fumo. As embalagens sem adorno ou cores, argumentam os defensores da medida, ajudariam a quebrar a ligação entre a marca e o fumante. “Os maços permanecem com o usuário uma vez abertos e são exibidos repetidamente em situações sociais, tornando-se uma forma direta de propaganda móvel para a marca”, diz a ONG Action on Smoking and Health.
Propaganda era o que Rudd provavelmente esperava, mas apesar da popularidade da medida, ele não conseguiu manter seu cargo. Segundo alguns analistas, o primeiro-ministro nunca se recuperou depois de abandonar sua política de mudanças climáticas. Desde 2007 Rudd defendia que a Austrália liderasse o mundo na ação para mitigar as mudanças do clima, instituindo um esquema de cap-and-trade de emissões. Para muita gente, ao engavetar o plano, Rudd mostrou interesses eleitoreiros e sua verdadeira cara. Em queda nas pesquisas de opinião, ele perdeu o apoio interno no partido e o cargo para sua vice, Julia Gillard.
Gillard não foi capaz de apresentar um plano alternativo para o clima – propôs apenas criar uma assembléia de 150 cidadãos comuns para debater a questão. Seu opositor, o líder dos Liberais Tony Abbott, rejeita qualquer medida para dar um preço ao carbono. Gillard apóia a medida anti-fumo, enquanto Abbott diz apenas que vai considerar mantê-la se for eleito. Para o eleitor que prefere morrer de “causas naturais”, restam poucas opções. A 15 dias das eleições, a intenção de voto para o Partido Verde disparou e chega a 12%.