A Geração X quer tecnologia para adequar o mundo às próprias necessidades. A Y vê inovação como valor a ser compartilhado. Mas será a Z que deverá assumir de fato a sustentabilidade em suas vidas
O cartão de visita de Diego Gazola é uma semente. Depois que registramos as informações numa agenda eletrônica ou no aparelho celular, não precisamos jogá-lo fora ou mesmo arquivá-lo em um portacartões. Com o adubo e um pouco de água, onde antes apenas se via um pedaço de papel com algumas palavras impressas (nome, telefone, URL e e-mail), brotam singelas flores boca-de-leão.
Por meio de uma parceria com a ONG Tear, que atende pessoas com deficiência mental na região de Guarulhos (SP), Gazola produz seus cartões de “papel-semente” – artesanal, biodegradável, com sementes em sua composição –, o qual, se plantado corretamente, dá origem a plantas ornamentais ou frutíferas.
No topo do “cartão-semente” de Diego Gazola está registrado o conceito que o move, traduzido por meio do blog Muda de Ideia. Em cima do nome, nota-se a figura de uma copa de árvore que também se parece com um cérebro humano, em uma brincadeira semântica que indica que a palavra “muda” também pode ser lida como verbo.
Diego Gazola é um empreendedor social. Seu foco de trabalho é a sustentabilidade, e uma de suas principais plataformas de atuação se baseia no uso das tecnologias da informação e da comunicação, o que o faz reconhecer que grande parte de seu trabalho somente é possível com o suporte delas.
Aos 29 anos, Diego Gazola é um representante da Geração Y, formada por jovens que nasceram entre 1980 e 1999. Hoje são caracterizados pela total afinidade com o uso de tecnologias e a consequente exposição a muita informação. É também uma geração disposta a distribuir seu conhecimento de maneira mais generosa e despreocupada, considerando-se que esta é uma das características mais inovadoras da era digital – a possibilidade de compartilhamento e de troca (mais na reportagem Mundo livre S/A).
Para Sidnei Oliveira, especialista em conflito de gerações, autor do livro Geração Y – O nascimento de uma nova versão de líderes, a revolução que a geração de Diego Gazola pode fomentar é comparável à dos baby boomers, que tinham 20 anos na década de 60 e provocaram mudanças estruturais profundas na sociedade.
A inovação para cada geração
Os baby boomers são assim chamados por terem nascido em um período de grande explosão demográfica, quando seus pais viviam a euforia do Pós-Guerra. Naquela época, o mundo estava sendo reconstruído e os seus pais os educavam com uma espessa couraça de proteção, com grande influência religiosa, e as escolas obedecendo a modelos conservadores de aprendizagem.
Natural que em sua juventude, no começo dos anos 60, os baby boomers quisessem mudar o mundo. Depois, ao casar e entrar no mercado formal de trabalho, traziam um legado de mais liberdade e mais questionamento. Foram os primeiros a se separar e iniciaram uma íntima relação com um moderno aparato da tecnologia da informação para a época: a TV, onipresente na maioria dos lares e parte ativa na educação dos filhos.
Portanto, a geração seguinte à dos boomers, formada por seus filhos, cresceu tendo a TV como principal canal de isolamento e proteção. Além disso, tinha que dividir tudo com os irmãos (o quarto, os brinquedos, o banheiro), ouvia seus pais criticando as instituições, brigando entre si e se separando mais facilmente. Com esses elementos, a assim chamada Geração X entrou na década de 80 assumindo uma postura mais ensimesmada, mais preocupada em se realizar profissionalmente e a proporcionar todo o conforto possível à vida de seus filhos (ou filho, pois a taxa de natalidade nesta geração caiu drasticamente).
Para Oliveira, esse foi o primeiro movimento de aspereza nas relações familiares e profissionais. “O ‘X’ não queria mudar o mundo, queria adequar o mundo às suas necessidades.” Para isso, passou a buscar mais conveniência, acessibilidade e tecnologias que aumentassem a produtividade. Esta era a marca da inovação para os membros desta geração. Foi o cenário perfeito para a popularização dos computadores pessoais, dos sistemas de telefonia e de gestão, especialmente aqueles que, ao centrar-se nos processos e nos resultados, deixaram de lado as pessoas.
A Geração X também sentia culpa e buscava expiá-la provendo o máximo de bens materiais possível aos seus filhos. Assim surge a Geração Y, especialmente nas classes A e B: tendo tudo, com poucos irmãos (quando os tem), pais apavorados com a possibilidade de perder o emprego em um mundo altamente competitivo, vendo relações conjugais sofrendo fortes rupturas e, principalmente, envolvendo-se com as tecnologias, especialmente as da comunicação por meio da internet, conforme explica Sidnei Oliveira.
É neste contexto que fica evidente o perfil contestador da Geração Y, querendo se libertar e sair do caos em que parecem viver os seus pais, crescendo como partes da revolução cultural que as tecnologias estão fomentando e com três fortes palavras de ordem: a inovação, a conectividade e – correndo por fora, mas já com força – a sustentabilidade.
Cultura do experimentar
“Nossa sociedade tem necessidade de inovação. Tudo precisa ser constantemente renovado, pois envelhece muito rápido”, comenta Oliveira. Para ele, a Geração Y incorpora a inovação como valor. É a cultura do experimentar. Por outro lado, o autor não vê a sustentabilidade como algo orgânico na vida desses jovens. Mesmo que a palavra seja parte de seu vocabulário e se reconheça sua importância, eles, de forma geral, ainda não a praticam.
“Quem vai assumir a sustentabilidade em sua vida é a Geração Z (aquela que nasceu depois de 1999). No entanto, concordo que a Y aponta tendências.” Leeward Andrade Wang, que, tal como Gazola, é um representante dessa tendência salientada por Oliveira, parece concordar com ele. Estudante de Administração Pública da FGV-Eaesp, em que atua como coach no programa de Formação Integrada para a Sustentabilidade (FIS), Wang, de 23 anos, acredita que não se pode generalizar o conceito de Geração Y, como se todos os jovens de 20 e poucos anos fossem inovadores e tivessem acesso irrestrito à tecnologia.
Mas reconhece que o acesso às inovações tecnológicas está cada vez mais disseminado e é cada vez menos limitado por questões como a do poder aquisitivo. No entanto, para ele, será a próxima geração, a “Z”, que saberá usá-la de maneira mais “íntima” e sustentável.
“De qualquer maneira, não consigo imaginar sustentabilidade sem inovação”, afirma Wang, que em certa medida ainda se sente um outsider em seu meio: além de ser engajado na causa sustentável, sonha em criar uma ONG, está em constante busca espiritual, acredita que remuneração vai além do salário e inclui satisfação pessoal e prazer no ambiente de trabalho, e adora uma roupa de segunda mão. “Acho uma tolice ter aquela camiseta da moda que todos têm uma igual. Gosto muito de saber que a minha roupa é única”, revela.
Martha Terenzzo, especialista em inovação e marketing, estudiosa de temas da juventude e professora da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo, também concorda que será a Geração Z que realmente vai se pautar pela sustentabilidade em sua relação com o mundo. Mas aponta a Y como fomentadora dessas mudanças.
“Esta é uma geração que procura mais relevância nos produtos que consome e nos trabalhos que realiza. E as empresas precisam reconhecer e valorizar isso.” Martha afirma que, além de tudo, existe uma busca pela simplificação das escolhas e resoluções de problemas. “E eu acredito que a inovação ajuda a simplificar, contribuindo para a sustentabilidade.”
A pesquisadora cita como exemplo o conceito do design thinking, criado por arquitetos e designers que buscam soluções tomando por base um olhar antropológico e sociológico da situação, o que leva em conta a necessidade das pessoas. “Eles trabalham muito com o conceito da co-creation – criação coletiva, com a comunidade participando e construindo em conjunto a solução para o problema abordado, seja um produto, seja a melhoria de um serviço.”
Segundo ela, cada problema é pensado de maneira individualizada, sendo resolvido de acordo com suas especificidades, muitas vezes de maneira menos complexa e dispendiosa que o normal. (mais na reportagem O gesto criador)
É também o que defende Leeward Wang, ao afirmar que, embora facilite as comunicações e as relações, a tecnologia tem de ser usada com cautela, olhando sempre para o conceito da simplicidade. “Vejo a inovação também como um processo pelo qual se busca na raiz das relações humanas e no conhecimento tradicional a solução para os problemas ambientais que vivemos.”
Wang defende que a tecnologia pode facilitar essa volta, na medida em que permite conhecer experiências e pessoas que, talvez, não se conheceria de outra maneira. “O segredo é como fazer esse equilíbrio entre a tecnologia e os valores humanos.”
Diego Gazola também acredita na simplicidade como a solução para diversos problemas cotidianos e conta a história de um poste de luz em uma cidade do interior. “Fazia falta uma ‘placa’ naquela rua. Então, em vez de pendurar uma de metal, optou-se por pintar o poste, que já estava lá, visível para todos. E o que se gastou com isso? Um par de horas e uma lata de tinta!” Ele destaca que esse tipo de ação pode “empoderar” a comunidade, uma vez que, com sua intervenção, é possível encontrar uma solução prática e sustentável para o problema que ela mesma detectou.
A história do poste que virou placa é mais uma que Gazola compartilha no blog “Muda de Ideia” (que migrará para um site no começo do ano que vem). Nesse ambiente, o jovem empreendedor pretende criar um celeiro de boas ideias de sustentabilidade. “Quando quero comer um mamão, parto a fruta ao meio, consumo a polpa e, em vez de jogar as cascas e as sementes no lixo, eu as coloco em minha varanda. Com isso, acabo atraindo passarinhos, podendo usufruir de seu canto quase que diariamente sem precisar enjaulá-los.”
Esta pequena “fábula” foi escolhida por Diego para explicar o conceito de seu projeto. “Ao ter um olhar sistêmico para as ações de seu dia a dia, você consegue ter um comportamento sustentável. Posso, então, compartilhar exemplos em meu site, publicando por meio de texto, vídeo ou fotos, servindo de inspiração para que outros adotem um procedimento similar ou mesmo adaptem alguma prática que já tenham em seu cotidiano.”
Fazendo coro com Diego Gazola, Wang também concorda que o maior ganho da tecnologia é a possibilidade de compartilhar. “Sou totalmente Creative Commons! Acredito que, quanto mais compartilho, mais retorno tenho. A conexão surgida a partir da troca faz emergir algo maior. Significa apoiar-se totalmente na inteligência coletiva”.
Para Sidnei Oliveira, este seria um traço de comportamento perfeitamente justificável sob o ponto de vista conjuntural: “Essa geração, formada por muitos filhos únicos ou com apenas um irmão, que já vive relativamente isolada em seu mundo ‘digital’, tem um desejo quase vital de se relacionar com os outros, não tendo problema algum em trocar conteúdos e informações”.
Coincidentemente, para reforçar a importância do compartilhamento e da troca, Wang também se vale de uma metáfora frutífera: “Onde está o sabor da maçã: na fruta ou na boca? Em nenhum dos dois. O sabor da maçã está no encontro da fruta com a boca.”
Leia mais sobre as demandas educacionais da nova geração e confira entrevista com Tennyson Pinheiro, diretor da live|work e professor do curso de Design Thinking da ESPM.
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O que define as gerações
Em seu livro, lançado este ano e já na terceira edição, Sidnei Oliveira explica como surgiu o estudo das gerações. Foi justamente no começo da década de 60, quando os antropólogos começaram a perceber que a moçada que entrava na casa dos 20 anos parecia “estranha e esquisitona”. Eram os baby boomers.
“Ainda que não se possa generalizar, os ciclos são determinados por movimentos sociais e culturais muito fortes. E, se essas definições não podem ser consideradas científicas no sentido clássico da palavra, por outro lado são um consenso entre os estudiosos”, explica.
Segundo ele, é ao redor dos 20 anos de idade que um ser humano atinge sua maturidade, aprendendo a conviver no mundo, a conviver com os outros e a interagir com o senso comum da sociedade onde vive, sendo capaz de influenciá-la. Por isso, é de vinte em vinte anos que uma geração se renova.[:en]A Geração X quer tecnologia para adequar o mundo às próprias necessidades. A Y vê inovação como valor a ser compartilhado. Mas será a Z que deverá assumir de fato a sustentabilidade em suas vidas
O cartão de visita de Diego Gazola é uma semente. Depois que registramos as informações numa agenda eletrônica ou no aparelho celular, não precisamos jogá-lo fora ou mesmo arquivá-lo em um portacartões. Com o adubo e um pouco de água, onde antes apenas se via um pedaço de papel com algumas palavras impressas (nome, telefone, URL e e-mail), brotam singelas flores boca-de-leão.
Por meio de uma parceria com a ONG Tear, que atende pessoas com deficiência mental na região de Guarulhos (SP), Gazola produz seus cartões de “papel-semente” – artesanal, biodegradável, com sementes em sua composição –, o qual, se plantado corretamente, dá origem a plantas ornamentais ou frutíferas.
No topo do “cartão-semente” de Diego Gazola está registrado o conceito que o move, traduzido por meio do blog Muda de Ideia. Em cima do nome, nota-se a figura de uma copa de árvore que também se parece com um cérebro humano, em uma brincadeira semântica que indica que a palavra “muda” também pode ser lida como verbo.
Diego Gazola é um empreendedor social. Seu foco de trabalho é a sustentabilidade, e uma de suas principais plataformas de atuação se baseia no uso das tecnologias da informação e da comunicação, o que o faz reconhecer que grande parte de seu trabalho somente é possível com o suporte delas.
Aos 29 anos, Diego Gazola é um representante da Geração Y, formada por jovens que nasceram entre 1980 e 1999. Hoje são caracterizados pela total afinidade com o uso de tecnologias e a consequente exposição a muita informação. É também uma geração disposta a distribuir seu conhecimento de maneira mais generosa e despreocupada, considerando-se que esta é uma das características mais inovadoras da era digital – a possibilidade de compartilhamento e de troca (mais na reportagem Mundo livre S/A).
Para Sidnei Oliveira, especialista em conflito de gerações, autor do livro Geração Y – O nascimento de uma nova versão de líderes, a revolução que a geração de Diego Gazola pode fomentar é comparável à dos baby boomers, que tinham 20 anos na década de 60 e provocaram mudanças estruturais profundas na sociedade.
A inovação para cada geração
Os baby boomers são assim chamados por terem nascido em um período de grande explosão demográfica, quando seus pais viviam a euforia do Pós-Guerra. Naquela época, o mundo estava sendo reconstruído e os seus pais os educavam com uma espessa couraça de proteção, com grande influência religiosa, e as escolas obedecendo a modelos conservadores de aprendizagem.
Natural que em sua juventude, no começo dos anos 60, os baby boomers quisessem mudar o mundo. Depois, ao casar e entrar no mercado formal de trabalho, traziam um legado de mais liberdade e mais questionamento. Foram os primeiros a se separar e iniciaram uma íntima relação com um moderno aparato da tecnologia da informação para a época: a TV, onipresente na maioria dos lares e parte ativa na educação dos filhos.
Portanto, a geração seguinte à dos boomers, formada por seus filhos, cresceu tendo a TV como principal canal de isolamento e proteção. Além disso, tinha que dividir tudo com os irmãos (o quarto, os brinquedos, o banheiro), ouvia seus pais criticando as instituições, brigando entre si e se separando mais facilmente. Com esses elementos, a assim chamada Geração X entrou na década de 80 assumindo uma postura mais ensimesmada, mais preocupada em se realizar profissionalmente e a proporcionar todo o conforto possível à vida de seus filhos (ou filho, pois a taxa de natalidade nesta geração caiu drasticamente).
Para Oliveira, esse foi o primeiro movimento de aspereza nas relações familiares e profissionais. “O ‘X’ não queria mudar o mundo, queria adequar o mundo às suas necessidades.” Para isso, passou a buscar mais conveniência, acessibilidade e tecnologias que aumentassem a produtividade. Esta era a marca da inovação para os membros desta geração. Foi o cenário perfeito para a popularização dos computadores pessoais, dos sistemas de telefonia e de gestão, especialmente aqueles que, ao centrar-se nos processos e nos resultados, deixaram de lado as pessoas.
A Geração X também sentia culpa e buscava expiá-la provendo o máximo de bens materiais possível aos seus filhos. Assim surge a Geração Y, especialmente nas classes A e B: tendo tudo, com poucos irmãos (quando os tem), pais apavorados com a possibilidade de perder o emprego em um mundo altamente competitivo, vendo relações conjugais sofrendo fortes rupturas e, principalmente, envolvendo-se com as tecnologias, especialmente as da comunicação por meio da internet, conforme explica Sidnei Oliveira.
É neste contexto que fica evidente o perfil contestador da Geração Y, querendo se libertar e sair do caos em que parecem viver os seus pais, crescendo como partes da revolução cultural que as tecnologias estão fomentando e com três fortes palavras de ordem: a inovação, a conectividade e – correndo por fora, mas já com força – a sustentabilidade.
Cultura do experimentar
“Nossa sociedade tem necessidade de inovação. Tudo precisa ser constantemente renovado, pois envelhece muito rápido”, comenta Oliveira. Para ele, a Geração Y incorpora a inovação como valor. É a cultura do experimentar. Por outro lado, o autor não vê a sustentabilidade como algo orgânico na vida desses jovens. Mesmo que a palavra seja parte de seu vocabulário e se reconheça sua importância, eles, de forma geral, ainda não a praticam.
“Quem vai assumir a sustentabilidade em sua vida é a Geração Z (aquela que nasceu depois de 1999). No entanto, concordo que a Y aponta tendências.” Leeward Andrade Wang, que, tal como Gazola, é um representante dessa tendência salientada por Oliveira, parece concordar com ele. Estudante de Administração Pública da FGV-Eaesp, em que atua como coach no programa de Formação Integrada para a Sustentabilidade (FIS), Wang, de 23 anos, acredita que não se pode generalizar o conceito de Geração Y, como se todos os jovens de 20 e poucos anos fossem inovadores e tivessem acesso irrestrito à tecnologia.
Mas reconhece que o acesso às inovações tecnológicas está cada vez mais disseminado e é cada vez menos limitado por questões como a do poder aquisitivo. No entanto, para ele, será a próxima geração, a “Z”, que saberá usá-la de maneira mais “íntima” e sustentável.
“De qualquer maneira, não consigo imaginar sustentabilidade sem inovação”, afirma Wang, que em certa medida ainda se sente um outsider em seu meio: além de ser engajado na causa sustentável, sonha em criar uma ONG, está em constante busca espiritual, acredita que remuneração vai além do salário e inclui satisfação pessoal e prazer no ambiente de trabalho, e adora uma roupa de segunda mão. “Acho uma tolice ter aquela camiseta da moda que todos têm uma igual. Gosto muito de saber que a minha roupa é única”, revela.
Martha Terenzzo, especialista em inovação e marketing, estudiosa de temas da juventude e professora da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo, também concorda que será a Geração Z que realmente vai se pautar pela sustentabilidade em sua relação com o mundo. Mas aponta a Y como fomentadora dessas mudanças.
“Esta é uma geração que procura mais relevância nos produtos que consome e nos trabalhos que realiza. E as empresas precisam reconhecer e valorizar isso.” Martha afirma que, além de tudo, existe uma busca pela simplificação das escolhas e resoluções de problemas. “E eu acredito que a inovação ajuda a simplificar, contribuindo para a sustentabilidade.”
A pesquisadora cita como exemplo o conceito do design thinking, criado por arquitetos e designers que buscam soluções tomando por base um olhar antropológico e sociológico da situação, o que leva em conta a necessidade das pessoas. “Eles trabalham muito com o conceito da co-creation – criação coletiva, com a comunidade participando e construindo em conjunto a solução para o problema abordado, seja um produto, seja a melhoria de um serviço.”
Segundo ela, cada problema é pensado de maneira individualizada, sendo resolvido de acordo com suas especificidades, muitas vezes de maneira menos complexa e dispendiosa que o normal. (mais na reportagem O gesto criador)
É também o que defende Leeward Wang, ao afirmar que, embora facilite as comunicações e as relações, a tecnologia tem de ser usada com cautela, olhando sempre para o conceito da simplicidade. “Vejo a inovação também como um processo pelo qual se busca na raiz das relações humanas e no conhecimento tradicional a solução para os problemas ambientais que vivemos.”
Wang defende que a tecnologia pode facilitar essa volta, na medida em que permite conhecer experiências e pessoas que, talvez, não se conheceria de outra maneira. “O segredo é como fazer esse equilíbrio entre a tecnologia e os valores humanos.”
Diego Gazola também acredita na simplicidade como a solução para diversos problemas cotidianos e conta a história de um poste de luz em uma cidade do interior. “Fazia falta uma ‘placa’ naquela rua. Então, em vez de pendurar uma de metal, optou-se por pintar o poste, que já estava lá, visível para todos. E o que se gastou com isso? Um par de horas e uma lata de tinta!” Ele destaca que esse tipo de ação pode “empoderar” a comunidade, uma vez que, com sua intervenção, é possível encontrar uma solução prática e sustentável para o problema que ela mesma detectou.
A história do poste que virou placa é mais uma que Gazola compartilha no blog “Muda de Ideia” (que migrará para um site no começo do ano que vem). Nesse ambiente, o jovem empreendedor pretende criar um celeiro de boas ideias de sustentabilidade. “Quando quero comer um mamão, parto a fruta ao meio, consumo a polpa e, em vez de jogar as cascas e as sementes no lixo, eu as coloco em minha varanda. Com isso, acabo atraindo passarinhos, podendo usufruir de seu canto quase que diariamente sem precisar enjaulá-los.”
Esta pequena “fábula” foi escolhida por Diego para explicar o conceito de seu projeto. “Ao ter um olhar sistêmico para as ações de seu dia a dia, você consegue ter um comportamento sustentável. Posso, então, compartilhar exemplos em meu site, publicando por meio de texto, vídeo ou fotos, servindo de inspiração para que outros adotem um procedimento similar ou mesmo adaptem alguma prática que já tenham em seu cotidiano.”
Fazendo coro com Diego Gazola, Wang também concorda que o maior ganho da tecnologia é a possibilidade de compartilhar. “Sou totalmente Creative Commons! Acredito que, quanto mais compartilho, mais retorno tenho. A conexão surgida a partir da troca faz emergir algo maior. Significa apoiar-se totalmente na inteligência coletiva”.
Para Sidnei Oliveira, este seria um traço de comportamento perfeitamente justificável sob o ponto de vista conjuntural: “Essa geração, formada por muitos filhos únicos ou com apenas um irmão, que já vive relativamente isolada em seu mundo ‘digital’, tem um desejo quase vital de se relacionar com os outros, não tendo problema algum em trocar conteúdos e informações”.
Coincidentemente, para reforçar a importância do compartilhamento e da troca, Wang também se vale de uma metáfora frutífera: “Onde está o sabor da maçã: na fruta ou na boca? Em nenhum dos dois. O sabor da maçã está no encontro da fruta com a boca.”
Leia mais sobre as demandas educacionais da nova geração e confira entrevista com Tennyson Pinheiro, diretor da live|work e professor do curso de Design Thinking da ESPM.
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O que define as gerações
Em seu livro, lançado este ano e já na terceira edição, Sidnei Oliveira explica como surgiu o estudo das gerações. Foi justamente no começo da década de 60, quando os antropólogos começaram a perceber que a moçada que entrava na casa dos 20 anos parecia “estranha e esquisitona”. Eram os baby boomers.
“Ainda que não se possa generalizar, os ciclos são determinados por movimentos sociais e culturais muito fortes. E, se essas definições não podem ser consideradas científicas no sentido clássico da palavra, por outro lado são um consenso entre os estudiosos”, explica.
Segundo ele, é ao redor dos 20 anos de idade que um ser humano atinge sua maturidade, aprendendo a conviver no mundo, a conviver com os outros e a interagir com o senso comum da sociedade onde vive, sendo capaz de influenciá-la. Por isso, é de vinte em vinte anos que uma geração se renova.