Realizado em São Paulo, em novembro, o Fórum Internacional Geopolítica da Cultura e da Tecnologia promoveu uma discussão sobre os novos papéis dos países emergentes. Segundo os participantes, no Brasil, por exemplo, gesta-se a possibilidade de autonomia relativa, a busca de um caminho próprio que leve em conta nosso potencial e realize nossas promessas de futuro. Objetivo: transformar nossa singularidade em um valor estratégico que beneficie quem a inventou – o povo.
Veja abaixo um relato das principais ideias debatidas no evento, levando em conta o papel das culturas tradicionais e da tecnologia, sendo que a última abre a possibilidade de produção e circulação do conhecimento.
Neste contexto, a primeira mesa do Fórum discutiu o tema “Podem os conhecimentos tradicionais ser entendidos como cultura contemporânea em um mundo multipolar?”.
Ticio Escobar, ministro da Cultura do Paraguai, curador, professor e crítico de arte, disse que “a cultura tradicional oferece uma intensidade de sentido em um mundo descrente”.
Catherine Walsh, diretora do programa de doutorado em estudos culturais latino-americanos da Universidad Andina Simon Bolívar, no Equador, ressaltou que a cultura tradicional é contemporânea e portanto é preciso retirar esse caráter de passado que está presente em legislações quando se trata do assunto. Além de tratá-la como algo relativo ao passado, os governos falam da cultura tradicional como objeto e não como sujeito.
Na mesa cujo tema foi “Há outras lógicas além da estratégia ocidental de aceleração total econômica e tecnológica”, o professor do Departamento de História da Arte da Universidade de Barcelona, Joaquín Barriendos, disse estar certo de que novos níveis de ação existem frente ao capitalismo rápido e galopante. A própria ideia de modernidade, de acordo com Barriendos, se impôs por culturas de dominação.
“A matriz estético/racial e os fundamentos científicos/epistemológicos da modernidade têm origem eurocêntrica”, afirmou. E a cultura, continuou o professor, tem sido utilizada para justificar e legitimar o discurso hegemônico, do centro geopolítico em relação às periferias do globo. Ou seja, toda a ciência do conhecimento e referências estéticas do Ocidente provêm da Europa e requerem uma revisão na nova conformação geopolítica.
Neste paradigma organizado pelo colonialismo atlântico, não se leva em conta os saberes multiculturais, as heranças epistemológicas e as subjetividades dos povos. Mesmo na pós-modernidade, ainda não houve a superação dessa razão eurocêntrica, segundo ele, o que resulta em negação história e dos saberes dos povos.
Para o professor indiano Lawrence Liang, especialista em direito, tecnologia e cultura, a tarefa do BRIC é ver o mundo de maneira nova e fresca com a atenção voltada contra o assalto à natureza. Os desafios incluem novas ligações entre ideais de propriedade e desafios criativos. A pessoa tem posse ou proximidade com determinado objeto, matéria? Essa relação precisa ser rediscutida nos novos tempos. “Tentar colocar os sonhos na realidade; ter o potencial de criar algo do nada, rearticular a esperança”.