A terceira via representada por Marina Silva vive uma “re-criação” do movimento e pede a refundação do PV, em sintonia com a ideia de organização política em rede
O resultado expressivo, e para muitos inusitado, da campanha de Marina Silva em 2010 lançou a possibilidade de estabelecer uma terceira via na cena política do País. Por ser diferente de uma via tradicional conduzida somente por partidos políticos, esse espaço de ação política tem sido chamado por alguns de “novo campo”.
O novo campo nasce da esperança mobilizadora de milhões de eleitores e apoiadores da candidatura presidencial de Marina, que defendem a agenda da sustentabilidade e querem participar dessa construção praticando um novo modo de fazer política.
Os primeiros passos de sua consolidação revelam, à primeira vista, muitas incertezas. O que não poderia ser diferente, pois se trata de um espaço aberto que envolve múltiplos atores institucionais e milhares de pessoas buscando transformações profundas e paradigmáticas.
Exatamente por isso, neste momento, há uma redefinição generalizada dos papéis e caminhos das organizações que dão sustentação ao campo, como o Partido Verde (PV), o Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), o Instituto Marina Silva, e o Movimento Marina Silva.
O Partido Verde encontra-se em uma fase de discussão sobre seu processo de refundação, que foi assumido publicamente no período de filiação de Marina, a começar pela sua democratização interna. Contrapondo-se a um projeto de manutenção das estruturas internas de “poder pelo poder” dentro do PV, Marina e outros integrantes defendem que o partido seja o exemplo político daquilo que professou nas eleições, abrindo-o para as novas formas de participação da sociedade, como uma organização política em rede. Sem essa mudança, a convergência entre o partido e as demais forças do novo campo fica seriamente comprometida.
O Movimento Marina Silva, por sua vez, de natureza processual, independente, aberta e em rede, passa por uma fase de recriação da sua forma e identidade, haja vista que seus objetivos iniciais tornaram-se obsoletos, principalmente a defesa da candidatura de Marina Silva à Presidência da República.
Por essa razão, neste mês de março, 50 membros do movimento, com a participação da própria Marina, em São Paulo, realizaram um “encontro re-criativo”, tendo em vista revisitar a identidade e os rumos do movimento e criar uma nova forma. Motivados a colaborar na construção do novo campo, estabeleceram novos horizontes de ação, como fomentar a mobilização de 1 milhão de pessoas para a Conferência Rio+20; constituir uma rede de aprendizagens e práticas de sustentabilidade, com base nos processos iniciados com as Casas de Marina durante as eleições; e iniciar a construção de uma nova rede política para fortalecer o novo campo.
Outra organização, o Instituto Democracia e Sustentabilidade, foi inicialmente criada para construir uma discussão ampla com a sociedade sobre “qual o Brasil que queremos”. Entretanto, com seus processos de reestruturação interna em andamento, não está definido o papel que desempenhará em relação ao novo campo.
Quem acompanha esses processos pode perceber que o novo campo se desenha segundo uma convergência de atores e institucionalidades muito diferentes entre si, mas em conformidade com princípios norteadores transversais comuns e muito consistentes: a sustentabilidade como eixo do desenvolvimento, a nova forma de fazer política como prática, a organização em rede e multicêntrica como meio, e a conexão com os núcleos vivos da sociedade como base de sua sustentação.
O desafio é transformar essa diversidade de instituições e pessoas envolvidas nesse contexto pós-eleitoral em uma força de ação e reinvenção política permanente, praticando esses princípios, sustentando e renovando utopias numa perspectiva intergeracional. O que poderíamos chamar de uma poética de mobilização “arco e flecha”, com base em um poema de Marina.
Uma das qualidades da nova forma de fazer política é a circularidade de posições, em que ora “agimos como flecha”, sendo protagonistas dos processos, ora “agimos como arco”, criando os impulsos e as condições para ação dos outros. Esse movimento de alternância, como base da ação política, só é possível quando cada um se dispõe a “ser mais um”, em uma relação horizontal com os demais do processo.
Corroborando com essas premissas, Marina Silva se posiciona claramente, perante seus pares, como “mais uma”. Tal postura valoriza os processos coletivos e respeita seus próprios tempos de maturação, sem a imposição de vontades ou manipulações, dando espaço para que as pessoas sejam corresponsáveis e cocriadoras desse novo campo. E dessa forma seu exemplo inspira o envolvimento e a convergência de uma nova geração de pessoas que, como nós, se reencantam com a política como caminho para transformação da vida e do mundo.
*Bacharel em relações internacionais e profissional de desenvolvimento.
**Bacharel em Ciências Sociais, mestre e doutorando em Antropologia Social.
Ambos foram ativos no desenvolvimento do Movimento Marina Silva.[:en]A terceira via representada por Marina Silva vive uma “re-criação” do movimento e pede a refundação do PV, em sintonia com a ideia de organização política em rede
O resultado expressivo, e para muitos inusitado, da campanha de Marina Silva em 2010 lançou a possibilidade de estabelecer uma terceira via na cena política do País. Por ser diferente de uma via tradicional conduzida somente por partidos políticos, esse espaço de ação política tem sido chamado por alguns de “novo campo”.
O novo campo nasce da esperança mobilizadora de milhões de eleitores e apoiadores da candidatura presidencial de Marina, que defendem a agenda da sustentabilidade e querem participar dessa construção praticando um novo modo de fazer política.
Os primeiros passos de sua consolidação revelam, à primeira vista, muitas incertezas. O que não poderia ser diferente, pois se trata de um espaço aberto que envolve múltiplos atores institucionais e milhares de pessoas buscando transformações profundas e paradigmáticas.
Exatamente por isso, neste momento, há uma redefinição generalizada dos papéis e caminhos das organizações que dão sustentação ao campo, como o Partido Verde (PV), o Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), o Instituto Marina Silva, e o Movimento Marina Silva.
O Partido Verde encontra-se em uma fase de discussão sobre seu processo de refundação, que foi assumido publicamente no período de filiação de Marina, a começar pela sua democratização interna. Contrapondo-se a um projeto de manutenção das estruturas internas de “poder pelo poder” dentro do PV, Marina e outros integrantes defendem que o partido seja o exemplo político daquilo que professou nas eleições, abrindo-o para as novas formas de participação da sociedade, como uma organização política em rede. Sem essa mudança, a convergência entre o partido e as demais forças do novo campo fica seriamente comprometida.
O Movimento Marina Silva, por sua vez, de natureza processual, independente, aberta e em rede, passa por uma fase de recriação da sua forma e identidade, haja vista que seus objetivos iniciais tornaram-se obsoletos, principalmente a defesa da candidatura de Marina Silva à Presidência da República.
Por essa razão, neste mês de março, 50 membros do movimento, com a participação da própria Marina, em São Paulo, realizaram um “encontro re-criativo”, tendo em vista revisitar a identidade e os rumos do movimento e criar uma nova forma. Motivados a colaborar na construção do novo campo, estabeleceram novos horizontes de ação, como fomentar a mobilização de 1 milhão de pessoas para a Conferência Rio+20; constituir uma rede de aprendizagens e práticas de sustentabilidade, com base nos processos iniciados com as Casas de Marina durante as eleições; e iniciar a construção de uma nova rede política para fortalecer o novo campo.
Outra organização, o Instituto Democracia e Sustentabilidade, foi inicialmente criada para construir uma discussão ampla com a sociedade sobre “qual o Brasil que queremos”. Entretanto, com seus processos de reestruturação interna em andamento, não está definido o papel que desempenhará em relação ao novo campo.
Quem acompanha esses processos pode perceber que o novo campo se desenha segundo uma convergência de atores e institucionalidades muito diferentes entre si, mas em conformidade com princípios norteadores transversais comuns e muito consistentes: a sustentabilidade como eixo do desenvolvimento, a nova forma de fazer política como prática, a organização em rede e multicêntrica como meio, e a conexão com os núcleos vivos da sociedade como base de sua sustentação.
O desafio é transformar essa diversidade de instituições e pessoas envolvidas nesse contexto pós-eleitoral em uma força de ação e reinvenção política permanente, praticando esses princípios, sustentando e renovando utopias numa perspectiva intergeracional. O que poderíamos chamar de uma poética de mobilização “arco e flecha”, com base em um poema de Marina.
Uma das qualidades da nova forma de fazer política é a circularidade de posições, em que ora “agimos como flecha”, sendo protagonistas dos processos, ora “agimos como arco”, criando os impulsos e as condições para ação dos outros. Esse movimento de alternância, como base da ação política, só é possível quando cada um se dispõe a “ser mais um”, em uma relação horizontal com os demais do processo.
Corroborando com essas premissas, Marina Silva se posiciona claramente, perante seus pares, como “mais uma”. Tal postura valoriza os processos coletivos e respeita seus próprios tempos de maturação, sem a imposição de vontades ou manipulações, dando espaço para que as pessoas sejam corresponsáveis e cocriadoras desse novo campo. E dessa forma seu exemplo inspira o envolvimento e a convergência de uma nova geração de pessoas que, como nós, se reencantam com a política como caminho para transformação da vida e do mundo.
*Bacharel em relações internacionais e profissional de desenvolvimento.
**Bacharel em Ciências Sociais, mestre e doutorando em Antropologia Social.
Ambos foram ativos no desenvolvimento do Movimento Marina Silva.