O movimento dos “indignados” espanhóis deu mostras de que continua vivo e atuante. Há alguns dias, manifestantes vindos a pé de vários cantos da Espanha congregaram na Praça Puerta del Sol, a mais movimentada de Madrid, e pretendiam continuar caminhando até Bruxelas. É mais uma etapa desse movimento pacífico que, para alguns, é um exercício em democracia radical e, para outros, peca pela falta de objetivos concretos.
Tudo começou em maio, às vésperas das eleições regionais espanholas, quando manifestantes, inspirados pela Primavera Árabe, armaram acampamento na Praça Puerta del Sol para protestar contra a crise econômica, o desemprego galopante, medidas de austeridade e corrupção. Espanha, Portugal, Itália e Grécia, devido ao alto endividamento, estão no centro da mais recente crise econômica na Europa. Na Espanha, o estouro da bolha imobiliária em 2008 trouxe efeitos severos, inclusive uma nova escalada das taxas de desemprego – hoje cerca de metade dos jovens espanhóis não tem trabalho.
O acampamento levou o nome de Camp Sol e, aos poucos, cresceu para formar uma “micropolis” no coração de Madrid, como descreveu, em junho, a jornalista Maria Carríon:
“O Camp Sol, que começou espontaneamente em 15 de maio com algumas barracas para protestar contra corrupção, falta de oportunidades e pedir por mudanças democráticas, é agora uma pequena cidade, um labirinto de lonas e plástico emendadas com arame e postes improvisados, que conta com sua própria estação de rádio, creche, áreas de alimentação, postos de primeiros socorros, clínicas de assistência legal, biblioteca (inclusive uma para crianças) e centros de informação, que conduzem reuniões e workshops sobre assuntos que vão do meio ambiente aos direitos dos imigrantes.”
Os acampados se auto-denominaram “os indignados” e adotaram métodos de assembléia geral para tomar decisões, como contou o blogueiro Willie Osterweil:
“Se já esteve em qualquer tipo de reunião de esquerda, você tem ideia de como funciona: alguém se oferece para facilitar a reunião, e as pessoas levantam a mão para se inscrever. O facilitador chama as pessoas na ordem em que levantaram a mão, e só uma pessoa fala por vez. Busca-se consenso em vez do princípio da maioria: todas as reuniões que testemunhei acabaram com os dissidentes concordando com propostas e aceitando a decisão do grupo. Em um voto pela maioria, os eleitores recebem uma questão para responder sim ou não e leva quem tem 51%, mas em uma Assembléia Geral as propostas são construídas durante a conversa e o debate e, como tal, refletem o desejo do grupo como um todo”.
Foi dessa maneira que os indignados de Camp Sol decidiram, no fim de junho, levantar acampamento e trabalhar para que o movimento cresça. Desde então, conseguiram algumas vitórias, como obter do candidato socialista às eleições gerais previstas para março de 2012 uma proposta de reforma eleitoral.
Observadores notam que os indignados são bem mais comportados do que os manifestantes gregos, que não raro apelam para a violência ao protestar contra medidas de austeridade. Outros apontam que, a despeito das assembléias e busca de consenso, suas demandas contra “o sistema” são vagas. Ainda assim, os indignados contam com o apoio de mais 60% dos espanhóis e acampamentos semelhantes ao Camp Sol começam a aparecer em outros países. Vaga ou não, daqui para frente a indignação talvez não possa mais ser ignorada.