O Time Bank não faz transações monetárias ou empréstimos sujeitos a juros. Seu capital são as horas de que seus clientes dispõem para prestar – e contratar – serviços na comunidade
Não é novidade que tempo é dinheiro, mas o que você acha de fazer uma poupança de horas? É isso o que fazem os Time Banks, os “bancos de tempo”, onde se depositam horas de tarefas, como dar uma carona ao filho do colega de trabalho ou pintar a casa do vizinho. Cada hora é trocada por outros favores, basta que você telefone ou escreva um email oferecendo o que pode fazer para a comunidade e pedindo o que precisa. Os dados são cruzados e os “bancários” entram em contato com as pessoas envolvidas na “transação”.
O primeiro Time Bank foi aberto em meados dos anos 90 nos Estados Unidos e, hoje, estão presentes em 26 países como Chile, Coreia do Sul e Israel. Só no Reino Unido são 108. (Mas ainda não existem no Brasil.) Surgiram para tratar das movimentações da moeda criada pelo americano e professor universitário de direito e justiça, Edgar Cahn: o time dollar.
Cada time dollar equivale a uma hora de serviço prestado, não importa se intelectual ou físico. A proposta vale-se de um antigo componente da literatura econômica: o capital social, fruto da interação entre pessoas que gera confiança mútua e trocas de favores eventualmente tão valiosos quanto os serviços contratados. Com a riqueza da solidariedade, é possível ter um impacto real na qualidade de vida e no desenvolvimento de uma comunidade.
Foi por meio do Time Bank que médicos americanos de Allentown, no estado da Pensilvânia, aprimoraram a comunicação com os imigrantes latino-americanos que não têm o inglês fluente. Eles oferecem um curso para que os pacientes que já dominam a língua inglesa se tornem tradutores e os ajudem. “Estamos aumentando o número de pessoas competentes para serem intérpretes, não apenas dando a elas uma habilidade para a vida, mas uma habilidade que terá valor para a comunidade”, disse o diretor do Hospital Lehigh Calley, Eric Gertner.
Para a economia não monetária, tão importante quanto o motorista do ônibus, o policial e o sistema de saneamento básico que beneficiam diretamente e economicamente as cidades são ações como a transmissão de valores, a preservação de memórias, compartilhamento de recursos limitados e a redução da poluição do ar, que criam uma cultura de bem-estar social. “Se esses componentes fossem valorizados em termos monetários, iriam aumentar o produto interno bruto nacional em pelo menos 50%”, diz Cahn em seu artigo The non-monetary economy.
Outros Time Banks têm trocas variadas que dependem das necessidades de cada comunidade. Vizinhos e amigos de infância trocam favores que antes eram delegados a terceiros e que custavam dinheiro, como cuidar do cachorro por uma noite ou consertar o carro. Qualquer comunidade ou grupo ao redor do mundo pode abrir uma agência, mas deve seguir os guias que ensinam passo a passo o fundamento e os valores por trás desse sistema.
Nos princípios do Time Bank está a inclusão de todos os indivíduos da sociedade, inclusive aqueles considerados improdutivos. Idosos, crianças, deficientes físicos e adultos fora do mercado de trabalho devem ter espaço para exercer atividades benéficas para a coletividade, ideia que Cahn desenvolve em seu livro No More Throw-Away People: The Co- Production Imperative (“Não mais pessoas descartáveis – o imperativo da coprodução”, em tradução livre).
No bairro do Brooklin, na cidade de Nova York, o filho de Mary Berentz recorreu ao banco para achar um voluntário disposto a simplesmente bater papo com a mãe, uma polonesa de 86 anos já sem saúde para sair de casa. Ela adora relembrar suas histórias, mas só fala a língua da terra natal. Julia Marling, de 85 anos, cega e também polonesa, foi quem se dispôs quando percebeu que, após receber muita ajuda, era sua vez de retribuir. Elas se tornaram grandes amigas e, hoje, passam horas ao telefone contando histórias e cantando canções populares da Polônia.
É como se precisássemos de um agente para nos lembrar do quão bom é conviver em grupo, fazer e receber favores e ter amigos por perto. O melhor é que o investimento é gratuito e o lucro, garantido.[:en]
O Time Bank não faz transações monetárias ou empréstimos sujeitos a juros. Seu capital são as horas de que seus clientes dispõem para prestar – e contratar – serviços na comunidade
Não é novidade que tempo é dinheiro, mas o que você acha de fazer uma poupança de horas? É isso o que fazem os Time Banks, os “bancos de tempo”, onde se depositam horas de tarefas, como dar uma carona ao filho do colega de trabalho ou pintar a casa do vizinho. Cada hora é trocada por outros favores, basta que você telefone ou escreva um email oferecendo o que pode fazer para a comunidade e pedindo o que precisa. Os dados são cruzados e os “bancários” entram em contato com as pessoas envolvidas na “transação”.
O primeiro Time Bank foi aberto em meados dos anos 90 nos Estados Unidos e, hoje, estão presentes em 26 países como Chile, Coreia do Sul e Israel. Só no Reino Unido são 108. (Mas ainda não existem no Brasil.) Surgiram para tratar das movimentações da moeda criada pelo americano e professor universitário de direito e justiça, Edgar Cahn: o time dollar.
Cada time dollar equivale a uma hora de serviço prestado, não importa se intelectual ou físico. A proposta vale-se de um antigo componente da literatura econômica: o capital social, fruto da interação entre pessoas que gera confiança mútua e trocas de favores eventualmente tão valiosos quanto os serviços contratados. Com a riqueza da solidariedade, é possível ter um impacto real na qualidade de vida e no desenvolvimento de uma comunidade.
Foi por meio do Time Bank que médicos americanos de Allentown, no estado da Pensilvânia, aprimoraram a comunicação com os imigrantes latino-americanos que não têm o inglês fluente. Eles oferecem um curso para que os pacientes que já dominam a língua inglesa se tornem tradutores e os ajudem. “Estamos aumentando o número de pessoas competentes para serem intérpretes, não apenas dando a elas uma habilidade para a vida, mas uma habilidade que terá valor para a comunidade”, disse o diretor do Hospital Lehigh Calley, Eric Gertner.
Para a economia não monetária, tão importante quanto o motorista do ônibus, o policial e o sistema de saneamento básico que beneficiam diretamente e economicamente as cidades são ações como a transmissão de valores, a preservação de memórias, compartilhamento de recursos limitados e a redução da poluição do ar, que criam uma cultura de bem-estar social. “Se esses componentes fossem valorizados em termos monetários, iriam aumentar o produto interno bruto nacional em pelo menos 50%”, diz Cahn em seu artigo The non-monetary economy.
Outros Time Banks têm trocas variadas que dependem das necessidades de cada comunidade. Vizinhos e amigos de infância trocam favores que antes eram delegados a terceiros e que custavam dinheiro, como cuidar do cachorro por uma noite ou consertar o carro. Qualquer comunidade ou grupo ao redor do mundo pode abrir uma agência, mas deve seguir os guias que ensinam passo a passo o fundamento e os valores por trás desse sistema.
Nos princípios do Time Bank está a inclusão de todos os indivíduos da sociedade, inclusive aqueles considerados improdutivos. Idosos, crianças, deficientes físicos e adultos fora do mercado de trabalho devem ter espaço para exercer atividades benéficas para a coletividade, ideia que Cahn desenvolve em seu livro No More Throw-Away People: The Co- Production Imperative (“Não mais pessoas descartáveis – o imperativo da coprodução”, em tradução livre).
No bairro do Brooklin, na cidade de Nova York, o filho de Mary Berentz recorreu ao banco para achar um voluntário disposto a simplesmente bater papo com a mãe, uma polonesa de 86 anos já sem saúde para sair de casa. Ela adora relembrar suas histórias, mas só fala a língua da terra natal. Julia Marling, de 85 anos, cega e também polonesa, foi quem se dispôs quando percebeu que, após receber muita ajuda, era sua vez de retribuir. Elas se tornaram grandes amigas e, hoje, passam horas ao telefone contando histórias e cantando canções populares da Polônia.
É como se precisássemos de um agente para nos lembrar do quão bom é conviver em grupo, fazer e receber favores e ter amigos por perto. O melhor é que o investimento é gratuito e o lucro, garantido.