A indústria automobilística, que projeta números crescentes de produção, continua sem esclarecer como pretende lidar com a questão da mobilidade. Enquanto isso, outras organizações propõem caminhos alternativos para minimizar o problema
As projeções da indústria automobilística são arrojadas para os próximos anos: existe capacidade para alcançar em 2020 uma produção de 6,3 milhões de veículos – um aumento de 75% em relação a 2011. Outra forma de contabilizar esses valores é a seguinte: se hoje existe um veículo para cada 6,3 habitantes, em 2020, quando enfim a produção se estabilizará, será 1 para cada 3 pessoas.
Qual será o impacto dessas metas no trânsito das grandes cidades? E de que forma problemas crescentes com a mobilidade, no momento em que o modelo de transporte individual colapsar e as pessoas cada vez mais buscarem outras formas de se locomover e acessar o que desejam?
Procurada pela reportagem, a Anfavea, associação que representa a indústria automobilística, não concedeu entrevista a Página22 para falar do seu entendimento sobre a questão da mobilidade urbana e nem como esse tema pode influir em futuros cenários de mercado do setor. Por e-mail, o diretor de relações institucionais da entidade, Ademar Cantero, disse que “à indústria compete a produção de adequados veículos de passeio e de transporte público, atendendo plenamente às legislações de segurança e de emissões”.
Em nenhuma passagem do e-mail ele mencionou intenção da indústria em promover outros planos de mitigação dos problemas provocados pelo excesso de veículos em circulação.
Na mensagem, a Anfavea apenas opina que a mobilidade não deve ser vista a partir de um ou outro aspecto isoladamente, mas de um conjunto de fatores: quantidade de veículos, transporte individualizado, transporte público eficiente, adensamento residencial e populacional, infraestrutura viária, engenharia de trânsito, planejamento urbano e o uso racional do automóvel, além da educação do consumidor. Além disso, a entidade defendeu a inspeção veicular não só ambiental, mas também dos itens de segurança em nível nacional e mais rigor na fiscalização de trânsito.
Em maio de 2008, reportagem de Página22 (“A parte que te cabe”) já questionava a Anfavea sobre a eventual responsabilidade do setor automotivo no enfrentamento do problema. Na época, também por meio de uma nota por escrito, sem conceder entrevista, a entidade afirmou ter “consciência, por si e pela indústria que representa, que é de sua responsabilidade social colaborar para a fluidez e mobilidade do trânsito”.
Nesse sentido, disse participar de fóruns em que o tema é debatido. Informou também ser membro permanente das câmaras temáticas do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Mas quem anda no dia a dia pelas grandes cidades sabe que é preciso mais do que isso.
VIAS ALTERNATIVAS
Enquanto a Anfavea não esclarece muito bem a sua participação efetiva nas soluções para a mobilidade, várias outras organizações se mobilizam na busca de medidas que melhorem o trânsito pesado e poluente das cidades. O Banco Mundial, por exemplo, comanda desde março o Projeto Piloto de Mobilidade Corporativa na região da Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, na Zona Sul de São Paulo, onde se concentra o maior percentual de carros transportando apenas seu próprio motorista. (mais em reportagem “Redesenho possível”)
Pesquisa da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) realizada em 2010 calculou que pela avenida passavam por hora 1.960 carros e 160 ônibus. O projeto do Banco Mundial tenta envolver as 6 mil pessoas que trabalham em empresas do Centro empresarial nações Unidas e do World trade Center em propostas alternativas de transporte, como carona programada, bicicleta, fretados, carro compartilhado e teletrabalho.
São parceiros desse projeto o Caronetas, um site de relacionamento cujo objetivo é organizar caronas; o Bike Anjo, uma organização não governamental que ensina como diminuir os riscos ao pedalar por ruas movimentadas; a Zazcar, uma empresa de compartilhamento de carros; a TC Urbes, que instala bicicletários; o Sindicato das Empresas de Transporte por Fretamento, que reúne as empresas de fretamento e turismo; e a Sobratt, a Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades, que mostra o impacto positivo dessa prática no trânsito, no negócio e na vida do funcionário.
Outra organização atuante é a Rede Nossa São Paulo, que, neste mês, promove a Semana da Mobilidade, entre os dias 16 e 22, quando se comemorará mais uma vez o Dia Mundial Sem Carro. O evento é uma proposta de reflexão para a melhoria da mobilidade urbana. Ainda que essa mobilização não consiga interferir nas políticas públicas de transporte, no mínimo chama a atenção da sociedade civil para o tema. O momento é propício principalmente por causa das eleições municipais em outubro. (mais em reportagem “Cobrar é a solução?“)
Entre as atividades programadas para a Semana da Mobilidade está o lançamento da pesquisa Nossa São Paulo/Ibope sobre mobilidade urbana. Com um espectro de 850 entrevistados, a pesquisa vai mostrar que o quesito “trânsito” subiu de 3o para 2o lugar entre as áreas consideradas mais problemáticas da cidade, perdendo apenas para a saúde. Desde 2008 houve um aumento de 8% no percentual de pessoas (hoje 43%) que acham que o trânsito é o pior problema da cidade (leia mais).
A mobilidade urbana também será o tema transversal do XX Simpósio da Associação dos Engenheiros Automotivos (Simea) nos dias 24 e 25 deste mês. “De que forma compartilhar o uso do transporte individual com as iniciativas do transporte público?” ou “Como as novas tecnologias aplicadas às vias públicas podem contribuir para o trânsito nas grandes metrópoles?” são algumas das indagações que os engenheiros que montam os carros esperam ver respondidas.[:en] A indústria automobilística, que projeta números crescentes de produção, continua sem esclarecer como pretende lidar com a questão da mobilidade. Enquanto isso, outras organizações propõem caminhos alternativos para minimizar o problema
As projeções da indústria automobilística são arrojadas para os próximos anos: existe capacidade para alcançar em 2020 uma produção de 6,3 milhões de veículos – um aumento de 75% em relação a 2011. Outra forma de contabilizar esses valores é a seguinte: se hoje existe um veículo para cada 6,3 habitantes, em 2020, quando enfim a produção se estabilizará, será 1 para cada 3 pessoas.
Qual será o impacto dessas metas no trânsito das grandes cidades? E de que forma problemas crescentes com a mobilidade, no momento em que o modelo de transporte individual colapsar e as pessoas cada vez mais buscarem outras formas de se locomover e acessar o que desejam?
Procurada pela reportagem, a Anfavea, associação que representa a indústria automobilística, não concedeu entrevista a Página22 para falar do seu entendimento sobre a questão da mobilidade urbana e nem como esse tema pode influir em futuros cenários de mercado do setor. Por e-mail, o diretor de relações institucionais da entidade, Ademar Cantero, disse que “à indústria compete a produção de adequados veículos de passeio e de transporte público, atendendo plenamente às legislações de segurança e de emissões”.
Em nenhuma passagem do e-mail ele mencionou intenção da indústria em promover outros planos de mitigação dos problemas provocados pelo excesso de veículos em circulação.
Na mensagem, a Anfavea apenas opina que a mobilidade não deve ser vista a partir de um ou outro aspecto isoladamente, mas de um conjunto de fatores: quantidade de veículos, transporte individualizado, transporte público eficiente, adensamento residencial e populacional, infraestrutura viária, engenharia de trânsito, planejamento urbano e o uso racional do automóvel, além da educação do consumidor. Além disso, a entidade defendeu a inspeção veicular não só ambiental, mas também dos itens de segurança em nível nacional e mais rigor na fiscalização de trânsito.
Em maio de 2008, reportagem de Página22 (“A parte que te cabe”) já questionava a Anfavea sobre a eventual responsabilidade do setor automotivo no enfrentamento do problema. Na época, também por meio de uma nota por escrito, sem conceder entrevista, a entidade afirmou ter “consciência, por si e pela indústria que representa, que é de sua responsabilidade social colaborar para a fluidez e mobilidade do trânsito”.
Nesse sentido, disse participar de fóruns em que o tema é debatido. Informou também ser membro permanente das câmaras temáticas do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Mas quem anda no dia a dia pelas grandes cidades sabe que é preciso mais do que isso.
VIAS ALTERNATIVAS
Enquanto a Anfavea não esclarece muito bem a sua participação efetiva nas soluções para a mobilidade, várias outras organizações se mobilizam na busca de medidas que melhorem o trânsito pesado e poluente das cidades. O Banco Mundial, por exemplo, comanda desde março o Projeto Piloto de Mobilidade Corporativa na região da Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, na Zona Sul de São Paulo, onde se concentra o maior percentual de carros transportando apenas seu próprio motorista. (mais em reportagem “Redesenho possível”)
Pesquisa da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) realizada em 2010 calculou que pela avenida passavam por hora 1.960 carros e 160 ônibus. O projeto do Banco Mundial tenta envolver as 6 mil pessoas que trabalham em empresas do Centro empresarial nações Unidas e do World trade Center em propostas alternativas de transporte, como carona programada, bicicleta, fretados, carro compartilhado e teletrabalho.
São parceiros desse projeto o Caronetas, um site de relacionamento cujo objetivo é organizar caronas; o Bike Anjo, uma organização não governamental que ensina como diminuir os riscos ao pedalar por ruas movimentadas; a Zazcar, uma empresa de compartilhamento de carros; a TC Urbes, que instala bicicletários; o Sindicato das Empresas de Transporte por Fretamento, que reúne as empresas de fretamento e turismo; e a Sobratt, a Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades, que mostra o impacto positivo dessa prática no trânsito, no negócio e na vida do funcionário.
Outra organização atuante é a Rede Nossa São Paulo, que, neste mês, promove a Semana da Mobilidade, entre os dias 16 e 22, quando se comemorará mais uma vez o Dia Mundial Sem Carro. O evento é uma proposta de reflexão para a melhoria da mobilidade urbana. Ainda que essa mobilização não consiga interferir nas políticas públicas de transporte, no mínimo chama a atenção da sociedade civil para o tema. O momento é propício principalmente por causa das eleições municipais em outubro. (mais em reportagem “Cobrar é a solução?“)
Entre as atividades programadas para a Semana da Mobilidade está o lançamento da pesquisa Nossa São Paulo/Ibope sobre mobilidade urbana. Com um espectro de 850 entrevistados, a pesquisa vai mostrar que o quesito “trânsito” subiu de 3o para 2o lugar entre as áreas consideradas mais problemáticas da cidade, perdendo apenas para a saúde. Desde 2008 houve um aumento de 8% no percentual de pessoas (hoje 43%) que acham que o trânsito é o pior problema da cidade (leia mais).
A mobilidade urbana também será o tema transversal do XX Simpósio da Associação dos Engenheiros Automotivos (Simea) nos dias 24 e 25 deste mês. “De que forma compartilhar o uso do transporte individual com as iniciativas do transporte público?” ou “Como as novas tecnologias aplicadas às vias públicas podem contribuir para o trânsito nas grandes metrópoles?” são algumas das indagações que os engenheiros que montam os carros esperam ver respondidas.