O decrescimento prega o “menos” para quem pode abrir mão dos excessos. Quem primeiro deve ganhar com isso são as populações mais pobres
Enquanto o sistema econômico segue a lógica do “mais”, há quem já leve uma vida de “menos”. São
os adeptos do chamado decrescimento, espalhados por diversos países, mas principalmente na Europa. O conceito toma por base que não existe crescimento econômico infinito e o atual sistema não é compatível com o ecossistema global e o bem-estar dos seres humanos.
As pessoas devem levar uma vida de “simplicidade voluntária”, em que consumam menos para diminuir seu impacto na natureza, valorizem a cultura e o lazer, os serviços públicos como o transporte, escolham alimentos orgânicos e locais e vivam em comunidades, entre outros aspectos.
Um dos defensores do decrescimento é o economista e filósofo francês Serge Latouche, que disse ser preciso “descolonizar o imaginário” e “redescobrir que a verdadeira riqueza consiste no pleno desenvolvimento das relações sociais”.
Desde a Rio+20, formou-se a Rede Brasileira pelo Decrescimento Sustentável, um grupo de aproximadamente 160 pessoas que trocam informações, leituras e experiências sobre o conceito no País. João Luiz Homem de Carvalho é um deles. O professor da Universidade de Brasília (UnB) explica que o decrescimento é uma alternativa civilizatória, uma “utopia concreta para acabar com a ideia de que fora do nosso sistema econômico não há saída”.
O verbo “decrescer” pode soar como um equívoco quando ainda há países com altos índices de pobreza e fome. Carvalho explica que a proposta não é simplesmente inverter o crescimento, pois isso causaria crises e recessões. “O objetivo é que todas as pessoas no mundo vivam bem. Para isso, é preciso equidade social e cuidados com a natureza”, diz em entrevista a Página22. O decrescimento prega o menos para quem pode abrir mão dos excessos. Quem primeiro deve ganhar com isso são as populações mais pobres.
Ainda assim, para quem defende o decrescimento, não está claro como chegar às esferas governamentais e empresariais. Carvalho afirma que ministra palestras e aulas sobre o assunto. Também tenta espalhar a mensagem em conversas com políticos travadas junto com o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), de quem é assessor.
A mestre em Antropologia Social Ana Flávia Badue viveu na França por alguns meses e admite que lá, um país onde os serviços públicos funcionam bem, é mais fácil viver com simplicidade voluntária. A ideia do decrescimento está em muitos lugares, como as ecovilas, ainda que não se explicite a palavra em si, observa a pesquisadora. “O nome decrescimento é visto muitas vezes como uma etiqueta para explicar um estilo de vida que já é real”, diz.