A cultura de acumulação da sociedade de consumo é apontada como a maior razão para trabalharmos tanto
Quase 130 anos depois da histórica greve de operários nos Estados Unidos pela jornada de trabalho de 8 horas que deu origem à celebração do dia 1 de maio como Dia do Trabalhador, continuamos trabalhando muito. Mas, diferentemente daquela época, está mais difícil apontar o algoz que nos obriga a jornadas tão extensas. Nas últimas décadas, as tecnologias de comunicação e informação e o consumismo desenfreado provocaram sérias transformações no mundo do trabalho, colocando em xeque benefícios conquistados a duras penas entre o final do século XIX e ao longo do século XX.
“Nitidamente, a sociedade brasileira trabalha muito”, diz o pesquisador Sadi Dal Rosso, do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília. É possível indicar algumas razões para isso, como a cultura de trabalho dos imigrantes e os mais de 300 anos de escravidão. Entretanto, o que conta mesmo é a cultura de acumulação do capitalismo. É por isso que Dal Rosso não acredita que a economia verde seja a chave para trabalhar menos. “O capitalismo verde não incidiria diretamente na duração da jornada, principalmente se consideramos que muitas dessas atividades envolveriam pequenos empreendedores, cujas jornadas são ainda mais longas.”
E como são longas essas jornadas. Dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), mostram que os brasileiros trabalham em média 39,4 horas semanais. A média, para toda a População Economicamente Ativa (PEA), nos deixa próximos aos países desenvolvidos, que possuem jornadas entre 35 e 40 horas. Também serve de argumento a favor da redução da jornada de trabalho legal [1] das atuais 44 para 40 horas semanais, uma das principais bandeiras do movimento sindical do País.
[1] Jornada legal é o número de horas permitido por lei. Jornada efetiva soma as horas extras e outras formas de contabilizar o tempo de trabalho
Trabalhar menos ainda poderia ajudar a reduzir o desemprego, de acordo com as projeções do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). A redução da jornada legal em quatro horas poderia gerar mais de 2 milhões de novos postos de trabalho – desde que acompanhada de regras mais rígidas acerca das horas extras e dos famigerados bancos de horas.
Isso porque, olhando mais de perto, setor a setor, não estamos tão bem quanto a média encontrada na Pnad parece sugerir. Parcela significativa [2] dos trabalhadores dos ramos de hotelaria e alimentação, agricultura e comércio trabalha acima de 44 horas. O problema é tão sério que o Dieese atribui ao excesso de horas extras a combinação indigesta ocorrida em 2004 no Brasil – o crescimento econômico experimentado naquele ano foi alcançado sem gerar novos postos de trabalho.
[2] As medias são: hotelaria e alimentação, 44,5%; agricultura, 41,7%; comércio, 33,6%
Olhando os números friamente, Dal Rosso observa uma tendência internacional de redução das jornadas formais, com algumas exceções importantes. Os Estados Unidos, considerados referência de produtividade, aumentaram de 40 para 41 horas o tempo médio de trabalho semanal na última década. O Brasil parece seguir em geral a tendência de redução, com alguns setores sob pressão. É o caso dos bancários, que conquistaram sua jornada de 36 horas semanais na década de 1930.
“Aos poucos, os bancos vão minando essa conquista, criando gerente para tudo”, assinala, explicando a estratégia de multiplicar os cargos intermediários de chefia como forma de relaxar a obrigação de obedecer à jornada legal (que estipula número máximo de horas trabalhadas), artifício adotado por empresas de outros setores.
E estamos falando apenas dos assalariados formais, os 54% da PEA que batem o ponto diariamente nos setores público e privado. A massa de trabalhadores informais, autônomos, freelancers, sócios de cooperativas de trabalho ou produção e pequenos empreendedores trabalham praticamente o tempo inteiro. Mesmo quem teoricamente teria liberdade para fazer seu horário, como taxistas, escolhe trabalhar mais de 10 horas diárias.
Parece razoável pensar que não há muita escolha quando se trata de trabalhos com baixa remuneração ou ganhos irregulares como taxistas e outros prestadores de serviços. Mas o fenômeno repete-se inclusive no universo dos profissionais liberais e dos executivos. Formalmente, a jornada de um médico, por exemplo, não pode exceder 6 horas diárias e os plantões de 24 horas devem ser seguidos de 48 horas de folga. Na prática, muitos médicos trabalham em dois ou mais locais, somando jornadas de ao menos 12 horas diárias, e emendam plantões em hospitais diferentes.
“A equação que nos venderam é de que, para a vida ter sentido, é preciso consumir. E nossa renda, não importa qual seja, nunca é suficiente para isso”, sublinha Marcio Pochmann, ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), professor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas e atualmente à frente da Fundação Perseu Abramo, ligada ao Partido dos Trabalhadores.
Amigo íntimo da cultura de acumulação do capital, o consumismo é um dos fatores que nos levam a trabalhar tanto. Pochmann diz que poderíamos cumprir jornadas de 20 horas semanais, manter a economia funcionando perfeitamente e ainda gerar emprego para todos. Entretanto, nem mesmo os trabalhadores organizados lutam por isso. “O sentido da vida hoje reside no trabalho e no consumo.”
[3] A lei no 12.551/2011 alterou o artigo 6o da CLT, que determina que não há distinção entre o trabalho realizado no estabelecimento do empregador, o executado no domicílio do empregado e o realizado à distância
Em um mundo onde se vive cada vez mais, também se trabalha cada vez mais, pois é pelo trabalho que as pessoas são minimamente reconhecidas socialmente (mais em Entrevista da edição 70). É o que explica, para Pochmann, que um terço dos aposentados e pensionistas no Brasil continue trabalhando. O valor da aposentadoria não explica sozinho o fenômeno. Muitos dos que seguem trabalhando são professores universitários, juízes, pessoas com maior grau de escolaridade, ligadas ao chamado trabalho imaterial, de caráter mais intelectual do que braçal. “É porque não se encontra mais sentido em ficar em casa. Não é mais como no século XIX, em que se lutava por redução da jornada para o trabalhador ficar em casa com a família.”
PACOTE-ESCRAVO
Há quase cem anos John Maynard Keynes, um dos mais importantes teóricos da economia moderna, previa que o progresso tecnológico tornaria possível que trabalhássemos cada vez menos para satisfazer nossas necessidades. Quando os computadores começaram a fazer em poucos minutos o trabalho que levava horas para ser efetuado em máquinas analógicas, a previsão de Keynes parecia prestes a se realizar. Durou pouco. Hoje está mais do que confirmado que, quanto menos tempo investimos para desenvolver uma tarefa, mais tarefas adicionamos à nossa rotina.
Laptops, tablets e smartphones, máquinas maravilhosas que nos possibilitam acesso à internet a qualquer hora e de qualquer lugar já ganharam um apelido entre profissionais ligados ao trabalho não industrial: kit slave, ou pacote-escravo, em uma tradução cada vez mais rara para o português.
Embora tratado em tom de piada, o assunto tornou-se tão relevante que ganhou regulamentação específica no final de 2011, quando foi incluído um dispositivo na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Este dispositivo reconhece que as tarefas realizadas por intermédio dos meios eletrônicos fora do local de trabalho integram a jornada, e até mesmo as ordens recebidas por meios eletrônicos equivalem àquelas dadas pessoalmente no local trabalho. Não importa mais o local de trabalho, e sim se o trabalhador executa a tarefa determinada pela empresa.
A própria ideia de rotina começa a se desfazer, como observou Jaqueline Abreu Vianna durante as pesquisas para sua tese de doutorado a respeito dos efeitos das tecnologias de comunicação e informação sobre o trabalhador, defendida no ano passado na Escola de Ciência e Informação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). (A tese pode ser acessada nesse site)
Nos relatos da maioria de seus entrevistados, a pesquisadora encontrou o espaço do trabalho invadindo o doméstico, gerando conflitos com a família e sentimento de culpa nos trabalhadores. “A mesma flexibilidade que permite trabalhar em qualquer horário e lugar é a que possibilita ao trabalhador estar disponível para o trabalho e ser acionado pela empresa nos horários de almoço, fim de semana ou madrugada. Essa relação que parece compensatória na verdade reforça o desequilíbrio, porque o trabalhador não diz ‘não’”, descreve Jaqueline.
Seja pela necessidade de mais recursos para o consumo, seja pela flexibilização oferecida pela tecnologia, o trabalho abocanha cada vez mais o tempo e a vida privada do trabalhador. E cresce o número dos que têm dificuldade de se desligar quando saem da empresa. Em março do ano passado, o Ipea divulgou uma pesquisa sobre as relações entre trabalho e tempo livre. Dos 3.796 entrevistados de centros urbanos brasileiros, 45,4% afirmaram que não conseguem se desconectar totalmente do trabalho. O principal motivo é a necessidade de estar de prontidão para o caso de serem acionados para alguma atividade extra. A necessidade de planejar ou desenvolver alguma atividade de trabalho usando meios eletrônicos como internet e celular é a segunda principal razão, apontada por 8% dos entrevistados.
O cenário parece desolador, mas há saída. Marcio Pochmann levanta a necessidade de se promover um amplo debate público sobre as transformações do mundo do trabalho, de modo que as pessoas percebam que as jornadas crescentes geram cada dia mais doenças, e reverter o que ele chama de uso abusivo do tempo.
“A natureza do capitalismo é gerar demandas desnecessárias, mas já existem alternativas em curso, como os movimentos ligados à economia criativa, ao cooperativismo e à revisão de hábitos pelos próprios consumidores. Não precisamos viver assim e há sementes dessa nova perspectiva.”[:en]A cultura de acumulação da sociedade de consumo é apontada como a maior razão para trabalharmos tanto
Quase 130 anos depois da histórica greve de operários nos Estados Unidos pela jornada de trabalho de 8 horas que deu origem à celebração do dia 1 de maio como Dia do Trabalhador, continuamos trabalhando muito. Mas, diferentemente daquela época, está mais difícil apontar o algoz que nos obriga a jornadas tão extensas. Nas últimas décadas, as tecnologias de comunicação e informação e o consumismo desenfreado provocaram sérias transformações no mundo do trabalho, colocando em xeque benefícios conquistados a duras penas entre o final do século XIX e ao longo do século XX.
“Nitidamente, a sociedade brasileira trabalha muito”, diz o pesquisador Sadi Dal Rosso, do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília. É possível indicar algumas razões para isso, como a cultura de trabalho dos imigrantes e os mais de 300 anos de escravidão. Entretanto, o que conta mesmo é a cultura de acumulação do capitalismo. É por isso que Dal Rosso não acredita que a economia verde seja a chave para trabalhar menos. “O capitalismo verde não incidiria diretamente na duração da jornada, principalmente se consideramos que muitas dessas atividades envolveriam pequenos empreendedores, cujas jornadas são ainda mais longas.”
E como são longas essas jornadas. Dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), mostram que os brasileiros trabalham em média 39,4 horas semanais. A média, para toda a População Economicamente Ativa (PEA), nos deixa próximos aos países desenvolvidos, que possuem jornadas entre 35 e 40 horas. Também serve de argumento a favor da redução da jornada de trabalho legal [1] das atuais 44 para 40 horas semanais, uma das principais bandeiras do movimento sindical do País.
[1] Jornada legal é o número de horas permitido por lei. Jornada efetiva soma as horas extras e outras formas de contabilizar o tempo de trabalho
Trabalhar menos ainda poderia ajudar a reduzir o desemprego, de acordo com as projeções do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). A redução da jornada legal em quatro horas poderia gerar mais de 2 milhões de novos postos de trabalho – desde que acompanhada de regras mais rígidas acerca das horas extras e dos famigerados bancos de horas.
Isso porque, olhando mais de perto, setor a setor, não estamos tão bem quanto a média encontrada na Pnad parece sugerir. Parcela significativa [2] dos trabalhadores dos ramos de hotelaria e alimentação, agricultura e comércio trabalha acima de 44 horas. O problema é tão sério que o Dieese atribui ao excesso de horas extras a combinação indigesta ocorrida em 2004 no Brasil – o crescimento econômico experimentado naquele ano foi alcançado sem gerar novos postos de trabalho.
[2] As medias são: hotelaria e alimentação, 44,5%; agricultura, 41,7%; comércio, 33,6%
Olhando os números friamente, Dal Rosso observa uma tendência internacional de redução das jornadas formais, com algumas exceções importantes. Os Estados Unidos, considerados referência de produtividade, aumentaram de 40 para 41 horas o tempo médio de trabalho semanal na última década. O Brasil parece seguir em geral a tendência de redução, com alguns setores sob pressão. É o caso dos bancários, que conquistaram sua jornada de 36 horas semanais na década de 1930.
“Aos poucos, os bancos vão minando essa conquista, criando gerente para tudo”, assinala, explicando a estratégia de multiplicar os cargos intermediários de chefia como forma de relaxar a obrigação de obedecer à jornada legal (que estipula número máximo de horas trabalhadas), artifício adotado por empresas de outros setores.
E estamos falando apenas dos assalariados formais, os 54% da PEA que batem o ponto diariamente nos setores público e privado. A massa de trabalhadores informais, autônomos, freelancers, sócios de cooperativas de trabalho ou produção e pequenos empreendedores trabalham praticamente o tempo inteiro. Mesmo quem teoricamente teria liberdade para fazer seu horário, como taxistas, escolhe trabalhar mais de 10 horas diárias.
Parece razoável pensar que não há muita escolha quando se trata de trabalhos com baixa remuneração ou ganhos irregulares como taxistas e outros prestadores de serviços. Mas o fenômeno repete-se inclusive no universo dos profissionais liberais e dos executivos. Formalmente, a jornada de um médico, por exemplo, não pode exceder 6 horas diárias e os plantões de 24 horas devem ser seguidos de 48 horas de folga. Na prática, muitos médicos trabalham em dois ou mais locais, somando jornadas de ao menos 12 horas diárias, e emendam plantões em hospitais diferentes.
“A equação que nos venderam é de que, para a vida ter sentido, é preciso consumir. E nossa renda, não importa qual seja, nunca é suficiente para isso”, sublinha Marcio Pochmann, ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), professor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas e atualmente à frente da Fundação Perseu Abramo, ligada ao Partido dos Trabalhadores.
Amigo íntimo da cultura de acumulação do capital, o consumismo é um dos fatores que nos levam a trabalhar tanto. Pochmann diz que poderíamos cumprir jornadas de 20 horas semanais, manter a economia funcionando perfeitamente e ainda gerar emprego para todos. Entretanto, nem mesmo os trabalhadores organizados lutam por isso. “O sentido da vida hoje reside no trabalho e no consumo.”
[3] A lei no 12.551/2011 alterou o artigo 6o da CLT, que determina que não há distinção entre o trabalho realizado no estabelecimento do empregador, o executado no domicílio do empregado e o realizado à distância
Em um mundo onde se vive cada vez mais, também se trabalha cada vez mais, pois é pelo trabalho que as pessoas são minimamente reconhecidas socialmente (mais em Entrevista da edição 70). É o que explica, para Pochmann, que um terço dos aposentados e pensionistas no Brasil continue trabalhando. O valor da aposentadoria não explica sozinho o fenômeno. Muitos dos que seguem trabalhando são professores universitários, juízes, pessoas com maior grau de escolaridade, ligadas ao chamado trabalho imaterial, de caráter mais intelectual do que braçal. “É porque não se encontra mais sentido em ficar em casa. Não é mais como no século XIX, em que se lutava por redução da jornada para o trabalhador ficar em casa com a família.”
PACOTE-ESCRAVO
Há quase cem anos John Maynard Keynes, um dos mais importantes teóricos da economia moderna, previa que o progresso tecnológico tornaria possível que trabalhássemos cada vez menos para satisfazer nossas necessidades. Quando os computadores começaram a fazer em poucos minutos o trabalho que levava horas para ser efetuado em máquinas analógicas, a previsão de Keynes parecia prestes a se realizar. Durou pouco. Hoje está mais do que confirmado que, quanto menos tempo investimos para desenvolver uma tarefa, mais tarefas adicionamos à nossa rotina.
Laptops, tablets e smartphones, máquinas maravilhosas que nos possibilitam acesso à internet a qualquer hora e de qualquer lugar já ganharam um apelido entre profissionais ligados ao trabalho não industrial: kit slave, ou pacote-escravo, em uma tradução cada vez mais rara para o português.
Embora tratado em tom de piada, o assunto tornou-se tão relevante que ganhou regulamentação específica no final de 2011, quando foi incluído um dispositivo na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Este dispositivo reconhece que as tarefas realizadas por intermédio dos meios eletrônicos fora do local de trabalho integram a jornada, e até mesmo as ordens recebidas por meios eletrônicos equivalem àquelas dadas pessoalmente no local trabalho. Não importa mais o local de trabalho, e sim se o trabalhador executa a tarefa determinada pela empresa.
A própria ideia de rotina começa a se desfazer, como observou Jaqueline Abreu Vianna durante as pesquisas para sua tese de doutorado a respeito dos efeitos das tecnologias de comunicação e informação sobre o trabalhador, defendida no ano passado na Escola de Ciência e Informação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). (A tese pode ser acessada nesse site)
Nos relatos da maioria de seus entrevistados, a pesquisadora encontrou o espaço do trabalho invadindo o doméstico, gerando conflitos com a família e sentimento de culpa nos trabalhadores. “A mesma flexibilidade que permite trabalhar em qualquer horário e lugar é a que possibilita ao trabalhador estar disponível para o trabalho e ser acionado pela empresa nos horários de almoço, fim de semana ou madrugada. Essa relação que parece compensatória na verdade reforça o desequilíbrio, porque o trabalhador não diz ‘não’”, descreve Jaqueline.
Seja pela necessidade de mais recursos para o consumo, seja pela flexibilização oferecida pela tecnologia, o trabalho abocanha cada vez mais o tempo e a vida privada do trabalhador. E cresce o número dos que têm dificuldade de se desligar quando saem da empresa. Em março do ano passado, o Ipea divulgou uma pesquisa sobre as relações entre trabalho e tempo livre. Dos 3.796 entrevistados de centros urbanos brasileiros, 45,4% afirmaram que não conseguem se desconectar totalmente do trabalho. O principal motivo é a necessidade de estar de prontidão para o caso de serem acionados para alguma atividade extra. A necessidade de planejar ou desenvolver alguma atividade de trabalho usando meios eletrônicos como internet e celular é a segunda principal razão, apontada por 8% dos entrevistados.
O cenário parece desolador, mas há saída. Marcio Pochmann levanta a necessidade de se promover um amplo debate público sobre as transformações do mundo do trabalho, de modo que as pessoas percebam que as jornadas crescentes geram cada dia mais doenças, e reverter o que ele chama de uso abusivo do tempo.
“A natureza do capitalismo é gerar demandas desnecessárias, mas já existem alternativas em curso, como os movimentos ligados à economia criativa, ao cooperativismo e à revisão de hábitos pelos próprios consumidores. Não precisamos viver assim e há sementes dessa nova perspectiva.”