Um dos legados da Copa e Olimpíadas deve ser a popularização da construção verde e a criação de oportunidades de negócios
A Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016 deverão trazer para o Brasil alguns legados importantes do ponto de vista de inovações e desenvolvimento de mercados. Alguns pontos se sobressaem, como o uso de produtos mais amigáveis ao meio ambiente, a otimização de recursos e a maior eficiência buscada pela tecnologia. Um dos principais ganhos está na adoção de práticas mais sustentáveis na construção de estádios e outras estruturas voltadas para esses megaeventos. As arenas da Copa, por exemplo, têm sido erguidas levando-se em consideração questões como aproveitamento da água da chuva, uso da luz solar e reaproveitamento de entulho.
Tendo em vista a dimensão dessas obras, a expectativa é que os eventos ajudem a popularizar essas práticas na construção civil do País. É o que diz Felipe Faria, diretor do Green Building Council Brasil (GBC Brasil), organização responsável pelo Leed, sistema internacional de certicação ambiental de construções. Segundo ele, 11 dos 12 estádios da Copa enviaram seus projetos para o GBC em busca de certicação – a exceção é o Beira-Rio, em Porto Alegre. Até agora, nenhum processo de certicação foi concluído, mas já é possível listar algumas práticas que têm sido adotadas nas arenas.
Uma das principais inovações é o uso de painéis solares fotovoltaicos para a geração de energia solar. No Estádio Nacional de Brasília, por exemplo, estima-se que a cobertura da estrutura produza mais de 2 megawatts de energia, quantidade superior à demanda da arena. A energia excedente será enviada para a rede. “O estádio funcionará como uma grande usina solar. E com certeza a energia gerada vai ser muito maior do que a que eles vão utilizar”, diz Rodrigo Prada, coordenador do Portal 2014, voltado para o acompanhamento dos preparativos para a Copa.
Felipe Faria, do GBC, acrescenta que o plano de usar essa tecnologia nos estádios ajudou até mesmo a acelerar a aprovação de legislação sobre o acesso da míni e da microgeração de energia aos sistemas de distribuição na rede elétrica. Em abril de 2012, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou a Resolução Normativa nº 482, que permite aos consumidores brasileiros gerar energia elétrica em casa, a partir de fontes renováveis, e, em troca, baratear a conta de luz, caso produzam excedentes, que fluirão automaticamente para a rede elétrica.
“Antes isso não era possível no Brasil”, diz Faria (mais na reportagem “Para o sol entrar”, publicada na edição 72). E conclui: “O maior legado é a conscientização de que o custo de uma edicação não se limita ao custo de construção. O maior gasto é o operacional”.
ECONOMIA
É justamente na diminuição dos custos que está uma das vantagens de outra novidade trazida pela Copa. Um exemplo é o do transporte aéreo. Para Rodrigo Prada, do Portal 2014, uma das principais obras de infraestrutura implantadas em consequência do evento é o Aeroporto São Gonçalo do Amarante, na Região Metropolitana de Natal (RN).
Com conclusão prevista para abril de 2014 e gerido pela iniciativa privada, o terminal é geograficamente estratégico – está localizado na região do Brasil mais próxima da Europa. Por conta desse aspecto, avalia o governo federal, o aeroporto tem potencial para se transformar em um hub aéreo (centro de conexões) para viagens internacionais, gerando economia de combustível, de tempo e de emissões de carbono. “Os nordestinos costumam enfrentar um grande deslocamento para pegar um voo para a Europa. Isso vai acabar com esse hub”, prevê Prada.
A expectativa é que o novo aeroporto também atraia mais turistas internacionais para o Nordeste. Não é à toa que o setor do turismo está entre aqueles em que o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) nacional identifica novas oportunidades de negócios tendo como horizonte a Copa de 2014. Além do turismo, estão na lista agronegócio, tecnologia da informação, comércio, construção civil e economia criativa entre outros.
De acordo com o presidente do Sebrae, Luiz Barretto, do ponto de vista dos empreendedores, o principal legado de toda essa movimentação será o aumento da competitividade, especialmente por meio do maior aproveitamento das tecnologias. “Esses eventos trazem exigências para que as empresas atendam a requisitos e com isso estejam mais preparadas para competir com o mercado estrangeiro. Entre os requisitos, podemos citar o alinhamento com a inovação e as tecnologias de gestão e atendimento, como meios de pagamento eletrônico, e a atração do consumidor por meio de produtos iconográficos diferenciados, que utilizem a identidade visual da Copa, como bonés e camisetas com as logomarcas e cores do evento”, afirma.
O órgão criou cartilhas e guias para orientar os empreendedores, que podem ser encontrados em seu site. O material cita exemplos de aplicação das tecnologias, como o atendimento e o pagamento eletrônicos, o desenvolvimento de aplicativos e o maior uso das redes sociais para comunicação com os clientes. Em estudo realizado em parceria com a Fundação Getulio Vargas, o serviço identificou um total 929 oportunidades de negócios na Copa. O número ajuda a dimensionar as possibilidades criadas pelos grandes eventos esportivos. Cabe a nós aproveitá-las.
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