O clima está de novo no centro de uma eleição australiana. Dessa vez não se trata de promessas para mitigar a mudança climática, mas de um desmonte das políticas em vigor.
Os australianos vão às urnas no sábado para eleger parte do Parlamento e, com a reorganização das forças políticas, um novo primeiro ministro. As pesquisas no momento dão vantagem à oposição – uma coalizão dos partidos Liberal e Nacional – com o deputado Tony Abbott à frente.
O governo Trabalhista continua dividido e em baixa na opinião popular depois de um mais um golpe branco que, há apenas dois meses, destituiu a primeira-ministra Julia Gillard em favor de Kevin Rudd.
A dança das cadeiras entre os dois – possível graças ao regime parlamentarista – vai mais ou menos assim: eleito em 2007 com a promessa de agir em relação ao clima, Rudd foi destituído por Gillard em 2010. Nova eleição no mesmo ano confirmou Gillard no poder, mas Rudd contra atacou em julho passado diante do crescimento em popularidade dos Liberais.
O imposto sobre o carbono aprovado sob Julia Gillard tornou-se central na batalha pelo poder. Um dos primeiros atos de Kevin Rudd ao reassumir em julho passado foi antecipar, de 2015 para 2014, a transição do imposto para um esquema de cap-and-trade. Com a medida, o preço sobre as emissões de carbono deve cair dos atuais $25 por tonelada para, estima-se, algo em torno de $6 por tonelada.
Além de impacto sobre as emissões, a medida reduz o volume de recursos que seriam dedicados ao Fundo de Biodiversidade e ao fechamento das usinas a carvão mais poluentes, entre outros programas.
Mas as chances de que a medida venha a vigorar são poucas, uma vez que os Trabalhistas, ao que tudo indica, devem perder o poder e a principal plataforma de campanha da Coalizão de oposição é a simples rejeição do imposto sobre o carbono.
A proposta é que a Austrália atinja sua parca meta de redução de emissões – de 5% até 2020 sobre os níveis de 2000 – com um plano de Ação Direta.
A ideia é usar um “exército verde” para plantar árvores, promover o sequestro de carbono pelo solo e usar incentivos para que as empresas reduzam suas emissões. Pelo menos dois estudos independentes indicaram que as verbas projetadas pela Coalizão para financiar tal plano ($10.5 bilhões até 2020) são insuficientes para atingir a meta de 5% de redução.
Os Liberais insistem que não gastarão um centavo a mais para cumprir as obrigações internacionais que a Austrália assumiu em relação ao clima.
Abbott afirmou que essa eleição é “um referendo sobre o imposto do carbono” e, se eleito, ele terá o mandato para rejeitá-lo. Caso o Parlamento não aprove a rejeição, antecipou, ele dissolverá as duas casas do Parlamento e chamará novas eleições.
Em meio à batalha de Rudd e Abbott, talvez a notícia mais desalentadora seja a queda nas pesquisas do The Greens, o Partido Verde australiano. Depois de uma performance inédita nas eleições de 2010, quando ganharam quase 12% dos votos, dez assentos no Parlamento e o papel de fiel da balança no Senado, dessa vez os verdes estão em baixa.
Criticados por manter-se radicais mesmo sendo parte do jogo político, os Greens são atacados pela mídia conservadora, dominada pelo magnata Rupert Murdoch, e pintados como terroristas econômicos. Eleitores progressistas temem que ao votar no Partido Verde acabem prejudicando a já débil possibilidade de que os Trabalhistas derrotem os Liberais.
Há sete anos, Kevin Rudd ofereceu aos eleitores australianos uma visão de futuro baseada na busca de uma economia de baixo carbono. Dessa vez não há uma narrativa coerente e o primeiro-ministro nem sequer defende o imposto sobre o carbono que seu partido, a despeito de tantos obstáculos, conseguiu aprovar.
A esperança que muitos australianos – assim como outros tantos no resto do mundo – depositaram em um imposto parece prestes a morrer.