Projetos como o do Hortelões Urbanos reaproximam as pessoas dos ciclos naturais
Foi por meio de uma rede social que o grupo Hortelões Urbanos se formou com a proposta de implantar cultivos de hortaliças, raízes e frutas em espaços públicos de São Paulo. Com 2 mil seguidores virtuais, o grupo se soma a outras iniciativas na cidade para mostrar a viabilidade de cultivar em pequenos espaços e incentivar as pessoas a restabelecer o contato com a terra e um aprendizado esquecido, o de plantar e colher conforme as estações do ano.
A jornalista Tatiana Achcar é um dos membros dos Hortelões que se colocaram à frente do projeto para dividir um pouco sua experiência como voluntária em fazendas orgânicas dos Estados Unidos há cinco anos. “É um programa (da rede internacional Wwoofing) no qual o voluntário aprende o manejo rural em pequena escala, de forma conectada com a natureza e com os ciclos da terra”, comenta.
Tatiana explica que, à semelhança de outros grupos, os Hortelões não têm regras definidas. O trabalho é sempre feito por meio de mutirão, e os voluntários se mobilizam para conseguir doações de adubos, sementes, entre outros materiais. Segundo ela, essas hortas comunitárias – não há registros de quantas existem na cidade – às vezes servem de ponto de educação ambiental para as crianças. De forma geral, a colheita costuma ser livre (mesmo para quem não tenha colaborado com o cultivo) ou uma pessoa fica encarregada de colher e dividir a “safra”.
Programas como este fazem parte do projeto de Hans Dieter Temp, gaúcho de São Borja que deu início à implantação de hortas comunitárias na Zona Leste da cidade em 2003, quando trabalhava na Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente. “Isso partiu de uma iniciativa pessoal, com dinheiro do próprio bolso e depois encampada pela prefeitura”, relembra. A sua meta era disseminar a ideia para que cidades grandes ou pequenas adotassem a agricultura urbana como política pública, a fim de recuperar áreas abandonadas por meio da produção de alimentos.
O projeto de Dieter Temp foi interrompido com a troca de governo na época, mas ele deu sequência ao seu trabalho em 2004, quando formou a ONG Cidades Sem Fome, e instalou ao longo desses anos 21 hortas comunitárias e outras 15 em escolas públicas, todas na Zona Leste. Agora, sua intenção é replicar o programa, que já recebeu vários prêmios e sobrevive com patrocínios. “É um meio viável de incluir a comunidade na produção de alimentos que vão beneficiar os próprios moradores”, afirma (mais sobre agricultura urbana na coluna Olha Isso!).
Conforme relatório do Instituto Internacional para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (IIED), publicado no ano passado, as políticas para alimentação falham porque estão muito concentradas em aumentar a produção nas áreas rurais e não em como trazer esses alimentos de forma mais barata para os habitantes das cidades.