Ela está no ar que respiramos, nos alimentos que ingerimos, nas pílulas que amortecem nosso mal-estar, no tecido que nos cobre, na limpeza de casa… Mas ainda restam dúvidas sobre até que ponto podemos confiar na química
A química é onipresente – afinal, somos feitos de elementos químicos, majoritariamente carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio (mais em Entrevista). Invisível, ela nos desafia por não sabermos ao certo quais outros elementos estão presentes, em que combinações – e quais dessas podem nos envenenar. Na era da informação, mais gente quer desvendar esses mistérios. Fatores como a maior conscientização sobre as questões ambientais, a ampliação dos direitos dos consumidores e o aumento da preocupação com a saúde são ingredientes desse caldo, que colocam na berlinda uma indústria ainda pouco preparada para lidar com o desafio de informar o público sobre o que ele anda consumindo.
Quem poderia imaginar que as prosaicas mamadeiras que há anos ajudam a alimentar os bebês em todo o mundo estariam liberando compostos químicos capazes de afetar seus hormônios para o resto da vida? A indústria só atentou para o problema do bisfenol-A (BPA), substância adicionada a alguns materiais plásticos para lhes conferir maleabilidade, quando estudos começaram a relacionar sua presença a casos de
câncer e puberdade precoce. Vários países, entre eles o Brasil, começaram a criar restrições à substância, o que fez os fabricantes se adaptarem. “As empresas, diante da percepção dos riscos à sua imagem, passaram a banir o composto e buscar substitutos. O risco reputacional foi mais determinante nesse processo do que as evidências científicas de que o BPA trazia danos à saúde”, afirma Bruno Pereira, gerente de sustentabilidade e novos negócios da indústria química Dow. Hoje, várias empresas lançaram no mercado mamadeiras e outros recipientes com o selo “BPA free”, mostrando que seus produtos estão isentos da substância.
A rotulagem e certificação podem ser caminhos para o consumidor se orientar nessa travessia rumo à transparência. Selos bem estabelecidos, como as certificações de orgânicos para alimentos, ajudam quando o assunto é evitar excesso de agrotóxicos no prato. Mas para o ar que se respira, que só piora nos grandes centros urbanos, não há selo que ateste a qualidade. Nem que mostre que a roupa que vestimos pode estar colocando nossa pele em contato com substâncias que nem sequer imaginamos que existem e que podem fazer mal. O consumidor está só – mas com milhares de substâncias químicas desconhecidas lhe fazendo companhia.
[:en]Ela está no ar que respiramos, nos alimentos que ingerimos, nas pílulas que amortecem nosso mal-estar, no tecido que nos cobre, na limpeza de casa… Mas ainda restam dúvidas sobre até que ponto podemos confiar na química
A química é onipresente – afinal, somos feitos de elementos químicos, majoritariamente carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio (mais em Entrevista). Invisível, ela nos desafia por não sabermos ao certo quais outros elementos estão presentes, em que combinações – e quais dessas podem nos envenenar. Na era da informação, mais gente quer desvendar esses mistérios. Fatores como a maior conscientização sobre as questões ambientais, a ampliação dos direitos dos consumidores e o aumento da preocupação com a saúde são ingredientes desse caldo, que colocam na berlinda uma indústria ainda pouco preparada para lidar com o desafio de informar o público sobre o que ele anda consumindo.
Quem poderia imaginar que as prosaicas mamadeiras que há anos ajudam a alimentar os bebês em todo o mundo estariam liberando compostos químicos capazes de afetar seus hormônios para o resto da vida? A indústria só atentou para o problema do bisfenol-A (BPA), substância adicionada a alguns materiais plásticos para lhes conferir maleabilidade, quando estudos começaram a relacionar sua presença a casos de
câncer e puberdade precoce. Vários países, entre eles o Brasil, começaram a criar restrições à substância, o que fez os fabricantes se adaptarem. “As empresas, diante da percepção dos riscos à sua imagem, passaram a banir o composto e buscar substitutos. O risco reputacional foi mais determinante nesse processo do que as evidências científicas de que o BPA trazia danos à saúde”, afirma Bruno Pereira, gerente de sustentabilidade e novos negócios da indústria química Dow. Hoje, várias empresas lançaram no mercado mamadeiras e outros recipientes com o selo “BPA free”, mostrando que seus produtos estão isentos da substância.
A rotulagem e certificação podem ser caminhos para o consumidor se orientar nessa travessia rumo à transparência. Selos bem estabelecidos, como as certificações de orgânicos para alimentos, ajudam quando o assunto é evitar excesso de agrotóxicos no prato. Mas para o ar que se respira, que só piora nos grandes centros urbanos, não há selo que ateste a qualidade. Nem que mostre que a roupa que vestimos pode estar colocando nossa pele em contato com substâncias que nem sequer imaginamos que existem e que podem fazer mal. O consumidor está só – mas com milhares de substâncias químicas desconhecidas lhe fazendo companhia.