Sem um esforço internacional concertado para proteger espécies de aves, abelhas e outros polinizadores, a produção de alimentos estará gravemente ameaçada em todo o mundo, com reduções significativas de estoque e aumento acentuado de preços, o que afetará diretamente as comunidades mais pobres.
O alerta foi dado pela Plataforma Intergovernamental Científico-Política sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, sigla em inglês), órgão da ONU que compila análises técnicas sobre diversidade biológica. Nesta sexta-feira (26/2), durante encontro em Kuala Lumpur (Malásia), a Plataforma publicou um relatório sobre polinização e produção de alimentos, resultado do esforço de mais de 80 especialistas de todo o mundo.
As espécies polinizadoras, que englobam alguns animais vertebrados (como aves e morcegos) e invertebrados (abelhas e insetos), são cruciais para a produção de frutas, verduras e cereais, num volume que chega a representar 35% da produção agrícola global, com valor de quase US$ 580 bilhões por ano. De acordo com o relatório, muitas dessas espécies, principalmente de abelhas selvagens, estão seriamente ameaçadas de extinção.
As causas para essa situação crítica são diversas e complexas: práticas agrícolas agressivas que elimina flores e plantas selvagens, o uso de pesticidas cada vez mais fortes, a proliferação de parasitas e patógenos, além das mudanças climáticas que afetam o planeta.
Na Europa, por exemplo, 9% das abelhas e borboletas estão ameaçadas de extinção, sendo que suas populações foram reduzidas em 37% e 31%, respectivamente. Em alguns lugares no continente, o declínio das espécies polinizadoras chega a 40%.
Ainda assim, o relatório não chega a conclusões sobre o impacto do uso de pesticidas a base de neonicotinóides e os efeitos de organismos geneticamente modificados (OGMs) sobre os polinizadores, dois pontos que geralmente são apontados por ambientalistas como críticos para a redução da biodiversidade de aves, abelhas e insetos.
A IPBES reconhece que existe um gap de conhecimento científico sobre esses pontos, que prejudica a análise da correlação entre o uso de neonicotinóides e o impacto dos OGMs sobre as espécies polinizadoras. Essa reticência foi comemorada pelas empresas de biotecnologia, que defendem a necessidade mais pesquisas científicas para estabelecer essa correlação, e bastante criticada por grupos ambientalistas.
O relatório estará disponível ao público a partir de 29 de fevereiro.