Chega de boas maneiras. Foi o que decidiu o Sierra Club, uma das mais antigas e atuantes ONGs ambientais nos Estados Unidos.
Em janeiro, a organização anunciou que, diante da crise climática, estava preparada para abandonar sua política de mais de 120 anos de não participar de atos de desobediência civil. No fim de fevereiro, seu diretor, Michael Brune, foi preso junto com outros ativistas depois de se algemar aos portões da Casa Branca para protestar contra a construção do oleoduto Keystone XL, que transportará petróleo do Canadá ao Texas.
“Para que a desobediência civil seja justificada, é preciso haver algo tão errado que incite o mais forte protesto defensável”, escreveu Brune. “Tal protesto, se feito de forma planejada e pacífica, é na verdade um profundo ato de patriotismo”.
Brune lembrou que o que havia de errado na época de Henry David Thoreau era a escravidão. Na época de Martin Luther King Jr, o racismo. “E para nós é a possibilidade de que os Estados Unidos abandone qualquer esperança de estabilizar o clima de nosso planeta”.
Foi a primeira vez que a diretoria do Sierra Club aprovou ato de desobediência civil, contrariando sua missão: “Explorar, desfrutar e proteger os lugares selvagens da Terra; praticar e promover o uso responsável dos ecossistemas e recursos; educar e recrutar a humanidade para proteger e restaurar a qualidade do ambiente natural e humano; e usar todos os meios legais para atingir tais objetivos”.
Até agora, o Sierra Club agiu moderadamente, angariando apoio da população, encorajando as pessoas a escrever a seus representantes, apresentando petições e promovendo eventos. Na mesma linha, floresce o ativismo digital de grupos como Avaaz e Get Up!, que produz petições por minuto e, segundo os críticos, uma certa apatia digital.
O ato que levou à prisão do diretor do Sierra Club provavelmente terá pouco impacto direto nas políticas climáticas do governo americano. Mas, como apontou a revista Yes!, pode levar a um reajustamento do movimento ambiental como um todo.
Isso porque os métodos relativamente mais radicais do Sierra Club deslocam o centro em torno do qual se definem ações “moderadas” e “radicais”. Ações antes vistas como extremas acabam atenuadas perante a opinião pública e grupos mais radicais devem aumentar a intensidade de suas táticas.
Para Paul Gilding, ex-diretor do Greenpeace, esse é o momento mais importante da história do movimento climático. Ele diz que “é realista imaginar remover as indústrias de carvão, petróleo e gás da economia em menos de 20 anos” e lembra que a escolha é binária: ou fazemos isso, ou vamos para o colapso social e econômico.
Por que o tempo é tão exíguo, é importante que o movimento escolha qual será seu foco e estratégia, diz Gilding. Talvez a pergunta seja quantos atos de desobediência civil serão necessários para finalmente colocar a transição em marcha.