O meio ambiente é o novo alvo do furacão Francisco, o papa-rockstar que está revirando todas as pedras e pedros do Vaticano. Após semanas de boatos, o padre Federico Lombardi, porta-voz do líder dos católicos, anunciou que a Igreja está produzindo uma encíclica sobre “a ecologia humana”, ainda no seu esboço inicial.
O papa Francisco tem dado evidências de que é bastante engajado nas lutas ambientais. A adoção do nome de São Francisco de Assis não foi casual. Pouco após sua eleição, ele justificou a escolha do padroeiro dos animais, que:
“nos ensina um profundo respeito por toda a criação e a proteção do nosso meio ambiente, que, com excessiva frequência, em vez de ser usada para o bem, é explorada com ganância, em detrimento de todos”.
Daí em diante, o tema ambiental nunca saiu de pauta. Francisco costuma condenar a cultura do desperdício e promover os benefícios sociais e ambientais da reciclagem (vide mensagem, em espanhol, no vídeo ao lado). Sempre que pode, ele favorece o transporte público, deixando o papamóvel na garagem, para desespero dos fiéis que temem por sua segurança e não esquecem o atentado contra João Paulo II. Ele também recebeu manifestantes contra a extração de gás de xisto por fraturamento hidráulico (fracking) e posou para fotos segurando camisetas com palavras de ordem: “Fracking, não” e “A água vale mais que ouro”. O assunto também foi abordado na sua passagem pelo Brasil, em meado do ano passado, quando o papa pediu que as florestas tropicais fossem tratadas como um jardim. Finalmente, há alguns dias, num encontro com diplomatas baseados no Vaticano, ele declarou que “Deus sempre perdoa, nós às vezes perdoamos, mas a natureza – a criação – é maltratada, ela nunca perdoa”.
Ninguém sabe ao certo qual será o conteúdo da nova encíclica, que parece seguir o conceito de “ecologia humana” proposto pelos dois antecessores imediatos de Francisco, João Paulo II e Benedito XVI – uma via de duas mãos antropocêntrica em que a Humanidade produz impactos negativos sobre a natureza e esta devolve o que recebe. William Patenaude, um teólogo que escreve sobre a Igreja e as questões ambientais, especula que as questões econômicas terão peso importante no documento (o papa tem condenado a ganância repetidas vezes). Patenaude também acredita que o papa encontrará formas de incorporar críticas ao aborto e à eutanásia (que seriam atentados contra a criação/natureza) e de defender a incorporação de uma postura eco-consciente no cotidiano.
Desnecessário lembrar o impacto positivo que uma encíclica verde pode ter sobre a postura de 1,2 bilhão de católicos. A Igreja – como, aliás, todas as religiões organizadas – faz cabeças. Documentos gerados no Vaticano inspiram sermões, campanhas da fraternidade e outras atividades em milhares de paróquias. Vamos ver até onde vai, e quais serão as nuances, do engajamento ambiental do novo papa.[:en]
O meio ambiente é o novo alvo do furacão Francisco, o papa-rockstar que está revirando todas as pedras e pedros do Vaticano. Após semanas de boatos, o padre Federico Lombardi, porta-voz do líder dos católicos, anunciou que a Igreja está produzindo uma encíclica sobre “a ecologia humana”, ainda no seu esboço inicial.
O papa Francisco tem dado evidências de que é bastante engajado nas lutas ambientais. A adoção do nome de São Francisco de Assis não foi casual. Pouco após sua eleição, ele justificou a escolha do padroeiro dos animais, que:
“nos ensina um profundo respeito por toda a criação e a proteção do nosso meio ambiente, que, com excessiva frequência, em vez de ser usada para o bem, é explorada com ganância, em detrimento de todos”.
Daí em diante, o tema ambiental nunca saiu de pauta. Francisco costuma condenar a cultura do desperdício e promover os benefícios sociais e ambientais da reciclagem (vide mensagem, em espanhol, no vídeo ao lado). Sempre que pode, ele favorece o transporte público, deixando o papamóvel na garagem, para desespero dos fiéis que temem por sua segurança e não esquecem o atentado contra João Paulo II. Ele também recebeu manifestantes contra a extração de gás de xisto por fraturamento hidráulico (fracking) e posou para fotos segurando camisetas com palavras de ordem: “Fracking, não” e “A água vale mais que ouro”. O assunto também foi abordado na sua passagem pelo Brasil, em meado do ano passado, quando o papa pediu que as florestas tropicais fossem tratadas como um jardim. Finalmente, há alguns dias, num encontro com diplomatas baseados no Vaticano, ele declarou que “Deus sempre perdoa, nós às vezes perdoamos, mas a natureza – a criação – é maltratada, ela nunca perdoa”.
Ninguém sabe ao certo qual será o conteúdo da nova encíclica, que parece seguir o conceito de “ecologia humana” proposto pelos dois antecessores imediatos de Francisco, João Paulo II e Benedito XVI – uma via de duas mãos antropocêntrica em que a Humanidade produz impactos negativos sobre a natureza e esta devolve o que recebe. William Patenaude, um teólogo que escreve sobre a Igreja e as questões ambientais, especula que as questões econômicas terão peso importante no documento (o papa tem condenado a ganância repetidas vezes). Patenaude também acredita que o papa encontrará formas de incorporar críticas ao aborto e à eutanásia (que seriam atentados contra a criação/natureza) e de defender a incorporação de uma postura eco-consciente no cotidiano.
Desnecessário lembrar o impacto positivo que uma encíclica verde pode ter sobre a postura de 1,2 bilhão de católicos. A Igreja – como, aliás, todas as religiões organizadas – faz cabeças. Documentos gerados no Vaticano inspiram sermões, campanhas da fraternidade e outras atividades em milhares de paróquias. Vamos ver até onde vai, e quais serão as nuances, do engajamento ambiental do novo papa.