A biodiversidade, um dos maiores patrimônios nacionais, guarda enormes promessas de riquezas por vir. Mesmo que os ecossistemas não se provem um estoque de substâncias aproveitáveis, há razões para conservá-los, defende o ecólogo Thomas Lewinsohn. Pesquisador da Unicamp e coordenador de um levantamento sobre o estado do conhecimento da biodiversidade brasileira, ele lembra que as áreas naturais nos são vitais não apenas pela produção e consumo de materiais, mas pelos serviços que prestam. O Brasil tem experiência científica e instituições para investigar o potencial de sua biodiversidade, mas falta não só alinhavar uma estratégia, como envolver os diferentes segmentos em jogo.
Ouve-se muito que o Brasil é um país megadiverso. O que quer dizer?
Quer dizer que os números de espécies que existem no Brasil são obscenamente altos se comparados a algumas outras regiões do planeta. No mundo, em geral os números são muito baixos. Estamos costumados a fazer comparações só das espécies arbustivas e arbóreas. Na Mata Atlântica houve vários estudos que encontraram em um hectare mais de 400 espécies de árvores. Na Grã-Bretanha inteira há15 espécies nativas. Um hectare é mais ou menos um campo de futebol.
Isso se deve ao clima? Outras regiões tropicais são assim também?
Na maioria das regiões tropicais que não são áridas, a diversidade é alta. Mas há exceções importantes, áreas que têm o que se chama de florestas monodominantes, em que há uma concentração forte em uma ou algumas poucas espécies. Mesmo no Brasil, na Região Neotropical, há florestas monodominantes – não quer dizer que todo lugar seja igualmente, altamente, diverso. Também não quer dizer que todas as regiões temperadas sejam pobres em espécies. Não é como se toda a diversidade interessante estivesse nos trópicos, ou no Brasil. Tenho certo medo de uma leitura nacionalista, ufanista, dessa expressão. Antes de mais nada, há uma responsabilidade monstruosa que vem acoplada, uma responsabilidade por um patrimônio insubstituível e que não propriamente nos pertence como nação, vai muito além.
O senhor coordenou um levantamento do estado do conhecimento da biodiversidade brasileira. Qual é esse estado?
Tentamos fazer um retrato institucional – ver para cada grupo de organismos, desde microrganismos até vertebrados, como estamos em termos de instituições, coleções científicas, bibliotecas, especialistas. Uma segunda parte foi avaliar as ações possíveis. Faltam ferramentas? Se não temos um guia de identificação, há quem possa fazê-lo no Brasil? Quanto tempo levaria? Quanto tempo leva para treinar uma pessoa para identificar? Com isso a idéia era compor não só um retrato estático, mas também delinear frentes em que poderíamos interferir, acelerar processos, tomar decisões sobre onde investir estrategicamente. Acho que estamos em um espaço muito peculiar, que nem sempre é reconhecido nas iniciativas ou relações internacionais para a biodiversidade. Somos um país megadiverso, temos deficiências graves e necessidades prementes, mas não estamos zerados. Temos massa crítica para certos grupos de organismos, seja institucional, seja de pessoas, temos competências e experiência consideráveis. Agora, é muito desigual, entre os diferentes grupos de organismos e entre instituições e regiões.
Dos países de grande diversidade, costumo dizer que o Brasil pertence a um bloco em que incluo México, Índia, África do Sul – que não são países de Primeiro Mundo, mas que têm um lastro, uma bagagem, experiência científica, massa crítica institucional, de pós-graduações e de especialistas. Isso é diferente de alguns países de grande diversidade da África Tropical e do Sudeste Asiático, que institucionalmente são muito frágeis por não ter pós-graduações, por ter poucos especialistas residentes, museus ou institutos de pesquisa. Então qualquer trabalho de investigação de biodiversidade nesses países vai se ancorar em uma relação de dependência, de tutela ou em uma parceria muito assimétrica com países do Primeiro Mundo.
Em termos da biodiversidade, o que se conhece?
Existem algumas coisas que dominam a cabeça das pessoas. Certas espécies – as chamadas espécies carismáticas – dentro de certos grupos, especialmente aves e mamíferos, e plantas também. Quando se fala em biodiversidade, as pessoas pensam nesses grupos, em milhares de espécies de árvores tropicais. Mas 99% da biodiversidade é de insetos, de artrópodes, de microrganismos. Mais de 90% dessas espécies são desconhecidas. O grosso da diversidade, dos serviços ecossistêmicos, do potencial de bioprospecção está nesses grupos, dos quais não conhecemos nem a ponta da ponta do iceberg. Toda a idéia que temos de biodiversidade, seja para conservar, usar, fazer prospecção, seja para considerar serviços ecossistêmicos, tem de ser repensada não porque os vertebrados, aves e mamíferos não são importantes em si, mas porque não é aí que está o potencial em termos de serviços, de exploração. Então toda a visão comum que se tem da biodiversidade está desfocada, precisa ser refeita. Isso é o que se teria de mirar em qualquer iniciativa, pública ou privada, em qualquer estratégia.
Conhecendo-se tão pouco, é possível ter uma estratégia?
É impossível ter um levantamento efetivo de toda a biota brasileira. A melhor estimativa que fiz, junto com Paulo Inácio Prado, de 2 milhões de espécies, é razoavelmente conservadora. Isso é impossível de ser levantado, mapeado e descrito convencionalmente. Para ter uma estratégia, é preciso combinar diferentes abordagens, verificar as regiões, os biomas que estão sumindo rapidamente, que precisam de uma campanha quase emergencial de inventariação, depois selecionar áreas, como algumas de Mata Atlântica, Amazônia ou Cerrado, para trabalhar em profundidade, com acompanhamento no tempo. A biota muda naturalmente, espécies se mudam, recolonizam, é preciso ter linhas de base para quando nos perguntarem, por exemplo, qual é o impacto de uma represa.
Já se disse que, assim como o século XX foi o da informação, o XXI seria o da biologia. O Brasil, que tem um enorme patrimônio nessa área, está preparado para usá-lo de maneira inteligente?
Grande parte das pessoas que falam que o século XXI seria o da biologia está pensando em biologia molecular, em biotecnologia, em uma visão de mundo mais do engenheiro do que do biólogo de campo. O pensamento prevalente não é “vamos manter e usufruir da biodiversidade”, e sim “vamos fabricar moléculas, converter organismos em fábricas vivas”. É uma substituição de uma proveta, ou de uma refinaria de petróleo, por uma linha de produção em que você faz bactérias ou fungos.
Mas a partir de algo que existe na natureza?
Isso também é controverso. Eu tenho a expectativa de que a natureza seja uma matriz, um ponto de partida realmente importante ou insubstituível para esses empreendimentos. O que se vê é um discurso – não sei se é discurso ou fato, não tenho como avaliar – das companhias farmacêuticas de que cada vez menos você depende da bioprospecção para ter um primeiro apanhado de substâncias, de pontos de partida, para um desenvolvimento industrial posterior. É difícil dizer… Repetem-se exemplos, mas não fica claro até que ponto a Amazônia, por exemplo, vai ser uma cornucópia de novos antibióticos, novas tecnologias ou materiais revolucionários.
Não tenho dúvida de que se podem esperar desenvolvimentos importantes, sim, mas meu ponto é anterior. A única razão para conservar ecossistemas ou porções representativas de ecossistemas naturais é que eles são um estoque de substâncias potencialmente aproveitáveis ou de tecnologias de futuro? Acho que é uma boa razão, mas não a única. Se toda a microbiota amazônica não nos fornecer um único antibiótico, isso é razão suficiente para arrasar, converter em pastagem? A história é bem mais complexa. Uma coisa em que se fala mais e mais é em serviços de ecossistemas. Está embutida, por exemplo, no mercado de carbono: em última instância você usa ecossistemas naturais ou o replantio para realizar o serviço que é a retirada de excedente de carbono da atmosfera e mitigar o efeito estufa e as mudanças climáticas. A idéia de serviços de ecossistemas é um avanço, é extremamente importante para as pessoas se darem conta de que áreas naturais afetam nosso modo de vida de muitas maneiras que não passam pela produção e consumo imediato de materiais.
Um dos dilemas do pagamento por serviços ambientais é como dar valor a esses serviços.
A discussão subjacente é se você enquadra esse problema dentro de uma abordagem econômica convencional ou se precisa de uma nova economia para lidar com isso. A impressão que tenho é de que quem está ganhando é o enquadramento na economia clássica. Há propostas de uma economia diferente, mas acho que o establishment trata isso como heresia ou excentricidade, não são incorporadas. É mais fácil enquadrar questões como essa – serviços de ecossistemas – nas regras do jogo de uma economia estabelecida do que vice-versa. Isso significa, me parece, tomar certas decisões com um grau de arbitrariedade grande para avaliar esses serviços e poder, de alguma forma, tratá-los como um componente de uma discussão de mercado.
O que esse elemento novo – a economia, o valor de serviços e bens ambientais – significa para os biólogos? Muda o trabalho, muda o profissional demandado?
Tem ocorrido algumas mudanças culturais necessárias entre os biólogos de campo. Estou na interface entre gerações, uma geração que trabalhou a vida inteira isoladamente e sem reconhecimento, pelo amor à causa. Essas pessoas, às vezes, reagem mal a mudanças. Estamos em outros tempos, existem mais e mais projetos direcionados, que se justificam por objetivos bastante explícitos: estabelecer condições de conservação, preservação e manejo ou tentar identificar problemas ecológicos focais para entender serviços de ecossistemas, áreas críticas, e assim por diante. Isso significa que a biologia de campo deixa de ser a iniciativa individual e passa a apropriar-se de elementos de uma ciência mais coletiva. Tradicionalmente a big science é feita por grandes equipes e seus ícones são os aceleradores de partículas, como o Cern na Suíça ou o Síncrotron em Campinas – a antítese de qualquer possibilidade da pesquisa individual. É um investimento que só pode ser feito por consórcios, muitas vezes internacionais, com infra-estrutura caríssima e agendamento de experimentos com anos de antecedência. É o contrário do sujeito que durante anos estudou lagartos, observava, coletava, fazia sua coleção no seu gabinete, ia com seu jipe velho, tinha pouco suporte para ir ao campo e costumeiramente tirava dinheiro do bolso pra trabalhar.
Isso envolve cooperação internacional, muitas vezes dificultada pela legislação ambiental. Há excessiva preocupação com a biopirataria?
Existe efetivamente biopirataria. Agora, minha visão é a de que a legislação causa muito mais estrago do que beneficio. O contrabandista profissional não está preocupado com as regras da alfândega, porque de qualquer jeito não vai passar por ela, ele tem outros meios. A grande preocupação está em torno da Amazônia. Ela não pára nos limites políticos do Brasil, estende-se pelo Equador, o Peru, a Colômbia, as Guianas, a Venezuela. Hoje se está coibindo a atividade científica, desviando possibilidades de parceria benéfica de cooperação para outros países que são menos duros. Me pergunto se o resultado em termos de coibir a biopirataria seja qualquer que não o simbólico. Mesmo que haja resultado real, compensa o prejuízo que causa ao nosso conhecimento mais necessário, mais importante? Precisaríamos estimular de todos os meios possíveis a inventariação da biodiversidade brasileira, porque ela está desaparecendo literalmente a olhos vistos. É uma corrida que em grande parte estamos condenados a perder. A legislação não contempla o fato de que lidamos com coisas desconhecidas e um dos objetivos básicos é explorar o que é desconhecido. Para obter uma licença de coleta você tem de dizer o que vai coletar. Isso funciona para um experimento com macacos, você sabe quais são, qual a espécie e quantos indivíduos. Mas, para um levantamento de bactérias ou insetos, o formulário é o mesmo.
O objetivo é conhecer essas espécies?
Sim, descobrir espécies ou registros de espécies, onde estão. Não é só a prospecção – o conhecimento da biogeografia é pelo menos tão importante para o entendimento de biodiversidade, nós não conhecemos a distribuição das espécies nem a dinâmica dessa distribuição. E aí nos fazem perguntas do tipo: “E as mudanças climáticas, faça um cenário, o que vai acontecer?” Como é que eu vou saber, se não entendo a distribuição atual? E, para estudos de distribuição geográfica, é preciso coletas absurdamente extensas. A organização dessa distribuição, os padrões espaciais, são o ponto de partida para começar a identificar os mecanismos, os processos que determinam por que é que certas espécies vão se extinguir ou vão sobreviver em alguns lugares, como mudam de lugar, quanta migração ou recolonização há. Se quisermos falar em preservação, em manejo, precisamos de uma combinação de estudos intensivos em algumas áreas, com estudos muito extensos de alguns grupos em muitas áreas.
Além da legislação, como o senhor vê a atuação do governo na área da biodiversidade?
É a mesma coisa que poderíamos falar de outras áreas. O governo não é um governo, temos diferentes mãos, que em grande parte se desconhecem ou se hostilizam. É patente que não existe qualquer consistência de postura ou integração entre posições do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e as de outros ministérios. Uma idéia que permeia a maior parte do governo é a de que o MMA é uma instituição retrógrada que freia iniciativas de desenvolvimento. A conservação da biodiversidade está sob fogo cruzado. O problema não é a falta de uma política, mas o fato que a gente tem pedaços de políticas que não se combinam. É uma questão de falta de entendimento de como levar uma política de meio ambiente no Brasil. Há várias coisas estimuladas, financiadas pelo MMA, como o diagnóstico que coordenei, que por si só são úteis. O trabalho que eu fiz não foi pensado como um fim em si próprio, mas como uma ferramenta de apoio à decisão, para ajudar a formar uma estratégia de verdade. Ele é pouco usado pelo governo. Fico contente quando colegas se referem ao diagnóstico, projetos se apóiam nele ao pedir financiamento, fazem referência a dados que coletamos.
Ações isoladas…
Isso faz parte da história da ciência em grande parte – os chamados colégios invisíveis durante séculos tiveram papel paralelo às instituições explícitas, às universidades, aos museus ou às iniciativas governamentais. Espero que nosso trabalho estimule o recém-doutor a olhar com carinho para certas áreas ou que as ONGs que lidam com o meio ambiente usem. A gente não pode esperar que o governo vá formular uma estratégia. Na verdade, os nossos problemas em relação ao meio ambiente, à biodiversidade, residem em grande parte em resolver essas relações básicas entre os diferentes segmentos, instâncias e interesses que estão em jogo, que estão mal resolvidos, ainda mal organizados até mesmo para se defrontar.
O setor privado tem procurado os cientistas?
Do lado dos cientistas, acho que falta uma referência institucional. Algumas ONGs ocupam determinados espaços, propõem projetos, buscam financiamento. Mas do lado do cientista, do pesquisador acadêmico que não esteja vinculado a uma ONG, falta enxergar quem é o interlocutor. Estamos trabalhando para fundar uma associação de ecologia e conservação que seja essencialmente profissional, que tome iniciativas e se apresente como interlocutor. Tenho a impressão de que existe um vazio ocupado por iniciativas às vezes espertas, ou por outras áreas profissionais, uma engenharia ambiental, geógrafos, muitas outras especialidades que povoam essa área do meio ambiente que está se organizando rapidamente. Existe uma sociedade geológica, de química. Se você quiser saber o que os químicos pensam, pode se dirigir à ela e o presidente vai falar. A idéia não é criar uma sociedade de amigos da natureza, nada contra as ONGs e entidades ambientalistas, mas falta essa instância. O Brasil não tem uma instituição como nos EUA é a Sociedade Ecológica Americana, ou a britânica, que tem quase 100 anos.
Seria um interlocutor com o setor privado?
Espero que sim, que a gente desde logo faça contato, se apresente e estabeleça relações. E com a sociedade de forma geral. No Brasil, como em muitos países, o ecólogo não é visto como cientista profissional, mas como um ativista, um ambientalista, não é levado a sério. Precisamos construir uma imagem pública, mostrar que isso é uma atividade científica, com todas as limitações. Temos muito a contribuir, mas muita gente na iniciativa privada e no governo não tem isso muito claro. Um exemplo é a falta de representação da biologia de campo ou da ecologia dentro da comissão nacional que trata de biosseguridade, onde existe uma guerra aberta em torno de liberação de transgênicos. Os que lá estão são biólogos moleculares envolvidos no processo de produção e comprometidos com ele. Falta alguém que diga como monitorar isso no campo. O sujeito que está no laboratório cortando e colando genes não é necessariamente o mais habilitado a fazer um monitoramento de campo para saber se estes genes estão escapando ou se têm efeito populacional.
Quanto a cortar e colar genes, a transgenia, qual é o risco?
É verdade que a humanidade há milhares de anos seleciona, cria novas variedades ou combina em híbridos. Agora transportar genes de um reino para outro, isso é novidade. O problema é que não se sabe e não há tempo suficiente para saber as conseqüências. O que me perturba é a velocidade desenfreada com que isso acontece, é tudo ladeira abaixo, tem de ser resolvido dentro de semanas ou meses. Eu não sei se realmente a agricultura brasileira vai falir se a gente expandir mais gradualmente o plantio de um algodão transgênico, e acompanhar plantios de pequena e média escala para ver o que acontece. É bem possível que não aconteça nada, mas por que não monitorar, ter um programa de cinco anos para avaliar e resolver se sobe a escala? De repente tudo é emergencial – no jornal, desde o Roberto Freire até o ministro da Agricultura dizem que, se não liberarmos a soja ou o algodão transgênico este ano, fecha o Brasil. Não estou convencido disso. Tem outros argumentos, de que isso vem sendo plantado há anos nos EUA, ninguém morreu ou foi comprovadamente intoxicado por um subproduto de soja transgênica. Aí você avalia a história de outras inovações introduzidas há mais tempo, especialmente as que envolvem a esfera ambiental, e vê que alguns problemas graves levam décadas – 20, 50, 70 anos – para se manifestar. Não tem tempo suficiente acumulado para essa alegria toda com que se anuncia que não tem problema. O que está faltando é bom senso.
Por trás disso tem uma cobiça, uma sede de lucro?
Imagino que sim, mas existe também um compromisso do cientista que está envolvido em desenvolvimento de novas tecnologias, ele tem um compromisso profissional, não está defendendo necessariamente seu bolso. Falta usar o conhecimento existente – os bioensaios para avaliar as conseqüências ambientais de transgênicos nos EUA são absolutamente inadequados, são testes ruins, não duram o tempo suficiente. Não se liberaria um pneu nessas circunstâncias, uma lâmpada, um rolo de papel higiênico, mas transgênico tudo bem.
Os cientistas não alertam para isso?
Sim, mas são tidos como xiitas, como antiprogressistas, retrógrados, agentes de forças estrangeiras ou qualquer outra história. O ecólogo cientista tem um papel importante no Brasil e em outros lugares mas, antes de mais nada, é preciso reconhecer que ele tem uma competência particular para esse tipo de assunto.
O “código de barras genético” pode ajudar na inventariação da biodiversidade?
Pode ajudar muito, tem potencial para ser uma ferramenta de apoio bárbara. O que isso representa é a possibilidade de usar um determinado segmento do código genético que existe na grande maioria dos organismos, que é único e corresponde a uma impressão digital molecular para uma espécie, não para um indivíduo. Mas que indivíduos da mesma espécie sejam efetivamente idênticos nesse segmento e claramente diferentes de indivíduos de outras espécies. O sonho dessa história é a possibilidade – se você tiver uma biblioteca completa de referência, um arquivo de impressões digitais – de pegar o genoma de qualquer indivíduo, seqüenciar, comparar com a biblioteca e, assim, saber qual é a espécie. Alguns pesquisadores vêem nisso um potencial imenso de revolucionar por completo o trabalho de conhecimento e inventariação de biodiversidade, porque você não precisa que um especialista faça um estudo detalhado. Acho que é uma ferramenta importantíssima, que pode abrir possibilidades imensas de trabalhar em uma escala muito maior, de acelerar estudos brutalmente, mas é um complemento, não substitui o trabalho do especialista de cada grupo de organismos.