Criado em 2002, o curso de Gestão Ambiental da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) – uma unidade da Universidade de São Paulo em Piracicaba – foi pensado para responder a diversas necessidades e oportunidades, entre as quais a crescente pressão da sociedade para que empresas e governos considerem seriamente os problemas ambientais.
A escola, tradicional em agropecuária e silvicultura, que vinha realizando pesquisas sobre vários temas ambientais, estaria preparada para lidar com a questão. A primeira turma de alunos de Gestão Ambiental formou-se em 2005 e, em minha opinião, congrega os melhores gestores do mercado. Ser o melhor, no entanto, pode não significar ser suficientemente bom.
Tais condições iniciais favoráveis precisam ser complementadas para garantir a formação adequada dos profissionais. É urgente a constituição de grupos que, de fato, investiguem a Gestão Ambiental, pois boa parte da pesquisa realizada hoje no Brasil trata dos temas ambientais de forma fragmentada, seguindo os princípios analíticos daquilo que ficou conhecido como ciência cartesiana. Fala-se muito em interdisciplinaridade, mas, na prática, muitos estudos ficam restritos aos campos disciplinares.
A preocupação ambiental não nasceu dentro da universidade ou das empresas, mas de movimentos sociais criados por pessoas que convivem com problemas causados por sistemas produtivos e pela organização social. Somente mais tarde e após muita confrontação, as empresas e as universidades sentiram a necessidade de responder às pressões. Mas muitas resistências não foram totalmente dissipadas e a falta de compreensão da questão ambiental persiste.
Tanto nas universidades quanto nas empresas, as primeiras reações foram no sentido de minimizar os problemas e de pensar a nova disciplina como a mera gestão da imagem ambiental. Por exemplo, em seu livro Global Spin, Sharon Beder mostra que a resposta das empresas esteve inicialmente voltada mais à gestão da percepção das pessoas sobre os problemas ambientais do que à modificação dos processos produtivos.
No caso da Esalq, alguns professores e pesquisadores tinham, de fato, interesse por questões ambientais e respondiam a elas com propósitos conservacionistas. Durante décadas, entretanto, as propostas levadas da escola para a agropecuária e a silvicultura foram frutos da internalização na economia brasileira das indústrias de insumos e de máquinas para estes setores produtivos. Mais tarde, incorporaram relações estreitas com o chamado agronegócio.
A agropecuária e a silvicultura de que se fala eram e são altamente danosas ao ambiente, à saúde humana e animal, levando a devastação de grandes áreas e a diversas formas de contaminação do ambiente. Havia e há também danos sociais, como a concentração da propriedade e da riqueza. Essas propostas, entretanto, eram levadas adiante também por órgãos do governo, outras universidades, empresas privadas, grandes produtores, ONGs e instituições internacionais como o Banco Mundial e o FMI. É também verdade que outros setores produtivos agiam e agem sem levar em conta as o meio ambiente.
Assim como na sociedade, dentro das escolas as questões ambientais colidem com interesses materiais bem sedimentados. No entanto, para levar a sério a busca de soluções para os problemas ambientais, é preciso encará-los como reais e não como simples discursos ideológicos. Devemos ter claro que não se trata de gestão da percepção, mas de gestão do mundo real, dos processos produtivos, do consumo, dos resíduos, da organização social e das políticas públicas. Precisamos considerar com seriedade as pesquisas na área ambiental ou estaremos destinados a ficar sem respostas para problemas presentes e futuros.
As empresas também devem acostumar-se à idéia de que precisarão modificar profundamente sua relação com a sociedade e com a natureza, reorganizando seus sistemas de operação, seus produtos, sua publicidade, suas relações com a pesquisa e revendo o que tem sido chamado de responsabilidade social e ambiental. A demora em reconhecer esses fatos e problemas levará a uma nova dependência externa de tecnologias ambientalmente mais responsáveis.
Por isso, formar gestores ambientais implica preparar os alunos para a transformação da realidade ambiental e social. Para que a formação seja possível, é necessário criar espaços institucionais em que pesquisas abrangentes e realmente críticas possam ser realizadas. Espaços em que um conhecimento ambiental possa constituir-se livremente.
Antônio Ribeiro de Almeida Júnior é professor e coordenador do curso de Gestão Ambiental da Esalq.