1) Se havia dúvida quanto à magnitude dos estragos econômicos que variações climáticas extremas podem causar, ela parece dizimada depois da frente fria que cobriu a Califórnia por cinco dias em janeiro e gerou prejuízos de pelo menos US$ 800 milhões aos produtores de frutas cítricas, os mais altos desde 1998.
2) Apesar disso, a expectativa de ambientalistas em relação à menção ao aquecimento global no discurso do Estado da União, proferido pelo presidente americano George W. Bush no dia 23 de janeiro, foi por água abaixo. Pela primeira vez em sete anos de mandato Bush proferiu as palavras “mudanças climáticas” no discurso em que aborda as principais questões nacionais. Mas apenas para dizer que avanços tecnológicos tornarão os EUA menos dependentes do petróleo e capazes de manejar melhor o meio ambiente.
3) O tom do discurso de Bush fi cou aquém do que esperavam não só ambientalistas, mas grandes empresas que se juntaram a eles para reivindicar que a legislação federal determine a redução das emissões de gases de efeito estufa. Lançada em janeiro, a United States Climate Action Partnership une empresas como Alcoa, Caterpillar, Duke Energy, DuPont e Lehman Brothers a ONGs como Environmental Defense, World Resources Institute e Natural Resources Defense Council.
4) Enquanto o setor de indústria pesada tenta infl uenciar uma legislação que, cedo ou tarde, virá, outros segmentos abraçam com vigor as oportunidades de negócios advindas da necessidade de mudar a matriz energética. O Vale do Silício, na Califórnia, berço das pontocom do fi nal dos anos 90, viu o nível de emprego crescer 3% no último trimestre de 2006 em comparação ao mesmo período de 2005, depois de cinco anos de queda. O movimento é acompanhado por investimentos maciços em tecnologias limpas para geração de energia.
5) Setores vulneráveis às mudanças climáticas tentam antecipar o que virá em um futuro que parece cada vez mais próximo. Na Califórnia, na França e em outras regiões, produtores e reguladores começam a desenhar um novo mapa da produção vinícola com a mudança das temperaturas ao redor do globo. Na Costa Leste dos EUA, é cada vez mais difícil conseguir uma apólice de seguro para residências com vista para o mar.
6) A pressão para regulamentar a emissão de gases de efeito estufa em nível federal vem não só de empresas e ativistas, mas também dos Estados – como a Califórnia, que aprovou sua própria legislação, à la Kyoto – e do Congresso, agora de maioria democrata. Quatro projetos de lei em tramitação tratam das mudanças climáticas – entre eles um apresentado pelo republicano John McCain e pelo independente Joe Lieberman, que prevê reduzir as emissões, até 2050, a um terço dos níveis do ano 2000. Os parlamentares já haviam apresentado projetos semelhantes em 2003 e 2005, sem conseguir aprová-los.
7) Uma amostra das rápidas mudanças na sociedade americana pode ser vista em anúncio publicado pela gigante do petróleo Exxon Mobil, criticada por destinar milhões de dólares a campanhas contrárias à ligação entre o aquecimento global e a queima de combustíveis fósseis. Agora, a Exxon propagandeia seu apoio ao Global Climate and Energy Project, um programa de pesquisa da Universidade de Stanford “dedicado a encontrar novas tecnologias que atendam à demanda crescente do mundo por energia ao mesmo tempo que reduzam dramaticamente as emissões de gases de efeito estufa”. Em breve, talvez até a Exxon se arrisque a proferir as palavras “mudanças climáticas”.