Os ambientalistas do Cerrado estão preocupados com o futuro das Unidades de Conservação (UC) do bioma. Não devido a invasões ou desmatamento no interior das unidades, como se passa na Amazônia, mas pelo que acontece do lado de fora.
A combinação de inúmeros declives com uma farta hidrografia faz com que a Chapada dos Veadeiros, em Goiás, seja extremamente atrativa para empreendimentos hidrelétricos. A preocupação é que o excesso de barragens interrompa a conectividade dos sistemas ecológicos, essencial para manutenção da biodiversidade no interior das Ucs.
“Os sistemas fluviais são uma conexão natural. Existem processos ecológicos essenciais que ocorrem ali, mas se você modifica completamente o fluxo, perde conectividade”, explica Cristiano Nogueira, biólogo e analista de biodiversidade da ONG Conservação Internacional (CI).
O próximo desafio é o projeto Mirador, ainda sob análise da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A usina barraria o Rio dos Couros, último rio livre entre os que cortam o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. O alarme foi soado por Peter Midkiff, morador da região, que vem se esforçando para demonstrar como o novo barramento pode isolar o parque, afetando sua capacidade de conservação. Mario Barroso, gerente do programa Cerrado da CI, entendeu o recado: “O parque precisa do seu entorno para manter a biodiversidade. O problema é que o modelo de licenciamento só considera um empreendimento e não o conjunto de todas as barragens”.
O Rio dos Couros pertence à Bacia do Tocantins, já dominada por grandes usinas, como Serra da Mesa, Cana Brava e São Salvador. Patrimônio Mundial Natural, segundo a Unesco, o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros é reduto do Cerrado de altitude, vegetação que só existe naquela região