O universo das relações entre entidades ambientalistas e empresas de alto impacto ambiental sofreu um tremor em outubro, durante o congresso mundial da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), em Barcelona.
Seis entidades-membro lideradas pela Friends of the Earth International (Foe) apresentaram moção em que conclamam a diretora-geral da IUCN, Julia Marton- Lefèvre, a encerrar o contrato de parceria que a organização mantém com a petroleira Royal Dutch Shell. Conforme os termos do contrato, a IUCN recebe cerca de US$ 1,2 milhão por ano para custear gastos operacionais. Em troca, deve assessorar a empresa a aprimorar sua responsabilidade socioambiental.
“As operações presentes, passadas e futuras da Shell têm impactos sociais e ambientais enormemente negativos e a reputação da Shell é altamente controversa no trato com comunidades vizinhas afetadas”, diz a moção, acrescentando que o contrato de parceria representa um “alto risco reputacional para a IUCN”.
Utilizando espaço para resposta na mesma moção, Julia Marton-Lefèvre argumenta que o encerramento do contrato pode desencorajar outras empresas a dialogar com a IUCN e a atuar na área de conservação. Além disso, acrescenta que o término do contrato poderia acarretar “conseqüências financeiras imprevisíveis” para a organização.
Foe, a líder do motim, é crítica histórica das operações da Shell, especialmente na Nigéria, onde a empresa realiza queima de gás resultante da prospecção de petróleo, apesar de a atividade ter sido proibida pelo governo local desde 1969. A assessoria de imprensa da Shell foi procurada, mas até a conclusão desta edição não designou um porta-voz para comentar o episódio.