Tal debate se perde por falta de conceitos claros sobre responsabilidade empresarial. Obra ocupa essa lacuna
Por André Carvalho*
Não importa em qual ambiente ocorra nem quais os públicos envolvidos – de feiras empresariais a congressos acadêmicos, de botequins a salas de aula –, mas o fato é que um bom debate sobre responsabilidade empresarial só “esquenta” quando se abre espaço para questionamentos deste naipe: “Como pode a empresa X se dizer responsável, se o consumo de seus produtos ou os processos para produzi-los infligem tantos problemas socioambientais à sociedade?”
Tem-se início então um ciclo de perguntas que não querem calar, que transborda um contexto relacionado à responsabilidade de organizações para alcançar dilemas a nós intrínsecos, por meio de nossos modelos de consumo, de comportamento ético, de atuação como cidadãos. A chance de essa torrente esbarrar em um debate sobre sustentabilidade é alta. Mais que isso, aparecerão questões como: “Pode haver alguma empresa sustentável?” Mas o enorme potencial de transformação da sociedade que esses debates representam tem sido desperdiçado por falta de bases conceituais claras sobre o que seja responsabilidade empresarialou mesmo as contribuições que uma organização pode dar a um mundo mais sustentável.
“Qualquer que seja a teoria que venha a orientar as práticas de responsabilidade social empresarial, sempre haverá dificuldades para implementá-las e as razões são muitas, começando pelo fato de envolver uma diversidade de questões que traduzem direitos, obrigações e expectativas de diferentes públicos, internos e externos à empresa. Os diferentes entendimentos a respeito da empresa e de sua relação com a sociedade e com o meio ambiente são mais uma fonte de complicação. Acrescente-se ainda que tudo isso é feito concomitantemente às atividades e operações da empresa em busca de resultados econômicos favoráveis.”
Esse é o começo do segundo capítulo do livro Responsabilidade Social Empresarial e Empresa Sustentável (Ed. Saraiva, 230 páginas). Para nossa sorte, os autores José Carlos Barbieri e Jorge Emanuel Cajazeira vão além de simplesmente apresentar o complexo desafio que recai sobre os gestores do setor privado, no século XXI.
De início, diferentes significados e interpretações do substantivo “responsabilidade” são examinados, uma vez que a responsabilidade das organizações, sobretudo as empresariais, não é tema de consenso. Trata-se da primeira sábia decisão metodológica dos autores, pois, se muito se fala sobre “empresa responsável”, pouco se analisa o tema à luz dos principais referenciais vinculados à responsabilidade social empresarial. E isso é feito no primeiro capítulo do livro, segundo as teorias do acionista (stockholder), das partes interessadas (stakeholders) e, por último, da abordagem contratualista, que concebe a responsabilidade social da empresa como decorrente de um contrato hipotético ou real com a sociedade.
O segundo capítulo também se reserva à análise da confluência de dois grandes movimentos sociais contemporâneos: a responsabilidade social empresarial e o Desenvolvimento sustentável, que, apesar de origens e propósitos distintos, fizeram emergir o conceito de organização sustentável, cuja responsabilidade social é um meio para alcançar um objetivo maior: a sustentabilidade organizacional. Aí são discutidos os desafios de se operacionalizar o conceito de sustentabilidade em uma empresa e também o modelo de gestão nascido e criado nesse território de confluência: o triple bottom line.
No terceiro capítulo, discute-se a relação entre ética e responsabilidade social, polarizada por duas visões: a dos que creem que a ética é componente específico da responsabilidade social e a dos que acreditam que ela está presente em todas as ações empresariais. Assim, deve ser tratada de forma transversal – abordagem que tem a preferência dos autores. Mais uma sábia decisão metodológica então se dá, quando o leitor é conduzido do debate sobre ética e responsabilidade social para a análise das doutrinas éticas normativas, relevantíssimas para a conduta moral daqueles que atuam em empresas ou as representam.
Os capítulos 5 e 6 são reservados ao que os autores chamam de “Colocando em prática” e “Instrumentos gerenciais”. Correspondem à análise dos aspectos práticos da responsabilidade social empresarial, considerados os desafios que a busca por modelos de desenvolvimento sustentável impõe à sociedade global. Abordam-se temas como direitos humanos, metas do milênio, pacto global, combate à corrupção e acordos internacionais de adesão relevante.
Ao final da obra, o leitor terá conseguido organizar melhor suas ideias e percepções sobre as contribuições que as organizações podem dar a uma sociedade ávida por seguir consumindo, mas menos tolerante às externalidades negativas sociais e ambientais que lhe são repassadas. Não importa que papel desempenhe – funcionário de empresa, gestor público, consumidor consciente ou qualquer outra parte interessada –, os diferentes atores têm na praça um excelente livro para o qual não há contraindicações.
*Professor do Departamento de Administração da Produção e de Operações Industriais (POI), da FGV-Eaesp, e pesquisador do Gvces
Tal debate se perde por falta de conceitos claros sobre responsabilidade empresarial. Obra ocupa essa lacuna
Não importa em qual ambiente ocorra nem quais os públicos envolvidos – de feiras empresariais a congressos acadêmicos, de botequins a salas de aula –, mas o fato é que um bom debate sobre responsabilidade empresarial só “esquenta” quando se abre espaço para questionamentos deste naipe: “Como pode a empresa X se dizer responsável, se o consumo de seus produtos ou os processos para produzi-los infligem tantos problemas socioambientais à sociedade?”
Tem-se início então um ciclo de perguntas que não querem calar, que transborda um contexto relacionado à responsabilidade de organizações para alcançar dilemas a nós intrínsecos, por meio de nossos modelos de consumo, de comportamento ético, de atuação como cidadãos. A chance de essa torrente esbarrar em um debate sobre sustentabilidade é alta. Mais que isso, aparecerão questões como: “Pode haver alguma empresa sustentável?” Mas o enorme potencial de transformação da sociedade que esses debates representam tem sido desperdiçado por falta de bases conceituais claras sobre o que seja responsabilidade empresarialou mesmo as contribuições que uma organização pode dar a um mundo mais sustentável.
“Qualquer que seja a teoria que venha a orientar as práticas de responsabilidade social empresarial, sempre haverá dificuldades para implementá-las e as razões são muitas, começando pelo fato de envolver uma diversidade de questões que traduzem direitos, obrigações e expectativas de diferentes públicos, internos e externos à empresa. Os diferentes entendimentos a respeito da empresa e de sua relação com a sociedade e com o meio ambiente são mais uma fonte de complicação. Acrescente-se ainda que tudo isso é feito concomitantemente às atividades e operações da empresa em busca de resultados econômicos favoráveis.”
Esse é o começo do segundo capítulo do livro Responsabilidade Social Empresarial e Empresa Sustentável (Ed. Saraiva, 230 páginas). Para nossa sorte, os autores José Carlos Barbieri e Jorge Emanuel Cajazeira vão além de simplesmente apresentar o complexo desafio que recai sobre os gestores do setor privado, no século XXI.
De início, diferentes significados e interpretações do substantivo “responsabilidade” são examinados, uma vez que a responsabilidade das organizações, sobretudo as empresariais, não é tema de consenso.
Trata-se da primeira sábia decisão metodológica dos autores, pois, se muito se fala sobre “empresa responsável”, pouco se analisa o tema à luz dos principais referenciais vinculados à responsabilidade social empresarial. E isso é feito no primeiro capítulo do livro, segundo as teorias do acionista (stockholder), das partes interessadas (stakeholders) e, por último, da abordagem contratualista, que concebe a responsabilidade social da empresa como decorrente de um contrato hipotético ou real com a sociedade.
O segundo capítulo também se reserva à análise da confluência de dois grandes movimentos sociais contemporâneos: a responsabilidade social empresarial e o Desenvolvimento sustentável, que, apesar de origens e propósitos distintos, fizeram emergir o conceito de organização sustentável, cuja responsabilidade social é um meio para alcançar um objetivo maior: a sustentabilidade organizacional. Aí são discutidos os desafios de se operacionalizar o conceito de sustentabilidade em uma empresa e também o modelo de gestão nascido e criado nesse território de confluência: o triple bottom line.
No terceiro capítulo, discute-se a relação entre ética e responsabilidade social, polarizada por duas visões: a dos que creem que a ética é componente específico da responsabilidade social e a dos que acreditam que ela está presente em todas as ações empresariais. Assim, deve ser tratada de forma transversal – abordagem que tem a preferência dos autores. Mais uma sábia decisão metodológica então se dá, quando o leitor é conduzido do debate sobre ética e responsabilidade social para a análise das doutrinas éticas normativas, relevantíssimas para a conduta moral daqueles que atuam em empresas ou as representam.
Os capítulos 5 e 6 são reservados ao que os autores chamam de “Colocando em prática” e “Instrumentos gerenciais”. Correspondem à análise dos aspectos práticos da responsabilidade social empresarial, considerados os desafios que a busca por modelos de desenvolvimento sustentável impõe à sociedade global. Abordam-se temas como direitos humanos, metas do milênio, pacto global, combate à corrupção e acordos internacionais de adesão relevante.
Ao final da obra, o leitor terá conseguido organizar melhor suas ideias e percepções sobre as contribuições que as organizações podem dar a uma sociedade ávida por seguir consumindo, mas menos tolerante às externalidades negativas sociais e ambientais que lhe são repassadas. Não importa que papel desempenhe – funcionário de empresa, gestor público, consumidor consciente ou qualquer outra parte interessada –, os diferentes atores têm na praça um excelente livro para o qual não há contraindicações.
André é professor do Departamento de Administração da Produção e de Operações Industriais (POI), da FGV-Eaesp, e pesquisador do Gvces
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