A sustentabilidade é como um smörgåsbord – aquele bufê que tem arenque preparado de 52 formas e tudo o mais que houver numa dispensa sueca.
Primeiro, é impossível pronunciar sem parecer metido a besta.
Segundo, cada um se serve do que mais lhe apetece.
Cada um de nós abraça aspectos da sustentabilidade que nos convêm. Quando morava na França, entrevistei muitos ambientalistas sérios que caçavam todos os fins de semana. E que não viam nenhum conflito nisso. No Brasil, já foi muito comum encontrar militantes fumando (hoje até fumam, mas normalmente não são cigarros convencionais).
Uma colega do curso de Biologia da USP levou o namorado a uma excursão curricular às cavernas do Petar, no Vale do Ribeira, no sul do Estado de São Paulo. Ele levou para casa uma estalactite de lembrança. A garota até que era engajada, mas definitivamente não era sustentável no terreno amoroso. (Mas quem sou eu para criticar? Não tive um namorado que queria “enforcar o último mico-leão com as tripas do último panda”?)
A minha sustentabilidade pessoal – estejam informados senhores leitores – é esquizofrênica como a de todo o mundo.
Na lista de pontos positivos:
Nunca dirigi – embora o meu marido esteja me obrigando a ter aulas de direção. Meu plano é adquirir a competência necessária em dez anos (Ele não lê português. Por favor, não traduzam esta passagem).
Estou cada vez mais vegetariana, 50% da minha dieta é orgânica, tenho uma pequena horta e um pessegueiro e estou tratando de dar preferência a alimentos locais.
Tenho só uma filha. Pelo menos até onde sei. Optamos pelo nome de Luisa em homenagem a Luiz Gonzaga (meu marido, Lenny, é sanfoneiro, dentre outras coisas), mas também porque é curto e consome pouco papel e tinta.
Reciclo até papel de bala. Faço compostagem. Costuro, remendo, pinto, colo o que estiver quebrado. Recuso sacolas plásticas. Ando pela casa desligando a luz.
Provavelmente 90% de meus móveis e eletrodomésticos e 70% das minhas roupas são de segunda mão.
Praticamente tudo o que fiz e faço na minha vida profissional – jornal, revista, rádio, assessoria de imprensa, tradução, consultoria, produção de conteúdo para livros, treinamentos e websites, análise de risco socioambiental, produção de relatórios de impacto ambiental – tem um viés sustentável.
Beleza, certo? Que nada. Da última vez que calculei, precisava de mais de três planetas para satisfazer as minhas necessidades. Para entender por que, vamos à lista de pontos negativos:
Viagens – duas anuais ao Brasil, umas poucas dentro dos Estados Unidos. Façam as contas do estrago.
Reformei a minha casa inteira no começo do ano. Muitos materiais são reciclados e caprichamos no isolamento térmico, mas mesmo assim.
Fraldas – pilhas e pilhas de fraldas descartáveis, opção de uma mãe insone que não tinha a menor energia para lavar fraldas de pano.
Sou uma cidadã normal – uso pilhas, pego elevador para cima (para baixo geralmente não), aqueço a casa a gás e lenha, tenho freezer. E uso meu marido como motorista, óbvio.
O longo prólogo é uma introdução a esta que vos fala para os eventuais leitores que me acompanham e que hão de me acompanhar, se Santo Expedito, patrono das causas perdidas, me ajudar.
Será um prazer compartilhar este espaço com a Flavia e com vocês. Por favor, sintam-se convidados a comentar o que encontrarem aqui, um espaço que deverá servir como um smörgåsbord – um pouco de tudo para quem, como eu, acredita na sustentabilidade. Sobretudo, deixe aqui referências de idéias, documentos e projetos que se relacionem aos temas que serão discutidos pelo blog. Como se diz aqui no Novo México, um dos lugares mais hispânicos dos Estados Unidos: “mi casa es su casa”.
Regina Scharf