Parece aquele bordão apocalíptico, “o fim está próximo”, mas com um bocado mais de refinamento. A questão com a crise do clima é descobrir o quão próximo está o limite, ou o point of no return, aquela última gota d’água que vai desencadear mudanças ambientais sem volta. E boa parte da pesquisa científica climática é voltada para responder a essa pergunta.
O pessoal da Global Footprint Network diz que ultrapassamos os limites do que a Terra pode oferecer em um ano no último dia 25 de setembro. Ou seja, entramos no saldo negativo de 2009, um quadro que se repete ano a ano, mas sempre alguns dias mais cedo.
A GFN usa como metodologia a famosa pegada ecológica, que calcula o tamanho da área produtiva que a humanidade precisa para gerar bens e descartar resíduos (incluindo gases de efeito estufa). Eles então comparam com a biocapacidade, ou seja, a habilidade dos ecossistemas de gerar recursos e absorver resíduos como o CO2. E dessa conta que vêm constatações gerais amplamente repetidas como “a humanidade já consome 30% a mais do que a Terra pode oferecer” ou “a humanidade precisaria de não sei quantas Terras para que todos tivessem o mesmo nível de consumo dos países desenvolvidos”.
Um novo estudo publicado na revista Nature, de um consórcio internacional de cientistas, diz que são nove os processos sistêmicos naturais que indicariam os limites da Terra. Entre esses, a humanidade já teria ultrapassado a fronteira em três: o clico de nitrogênio, as taxas de extinção de espécies vegetais e animais e as mudanças climáticas. (Mais na notícia da agência Fapesp).
É intrigante perceber que a humanidade está se endividando, em termos de capital natural, mais do que os “ninjas” da hipoteca nos EUA. Não custa lembrar que, ao contrário das instituições financeiras, a natureza não tem Estado ou contribuintes a que recorrer na hora do aperto.