É possível que um país que entrou para o imaginário mundial como sendo um verdadeiro inferno se torne uma meca do ecoturismo? Sim.
Ruanda – o minúsculo país africano encravado entre a Tanzânia e a República Democrática do Congo – só vem à lembrança como palco de um genocídio que matou pelo menos 800 mil pessoas, na sua maioria da etnia tutsi, em 1994. A tragédia, que dizimou quase 10% da população, também teve impactos consideráveis sobre as florestas do país, que abrigam um terço dos 700 gorilas das montanhas remanescentes no mundo.
Apesar disso, Ruanda tem atraído um número crescente de turistas, dispostos a pagar até US$ 500 pelo direito de avistarem os primatas que vivem no Parque Nacional dos Vulcões por uma hora. O Lonely Planet, um best-seller entre os guias de viagem, apontou o país como “um dos 10 melhores para se visitar em 2009”. O ecoturismo já superou os dois principais produtos ruandenses, o café e o chá, como fonte de divisas estrangeiras. No ano passado, cerca de 1 milhão de turistas deixaram US$ 214 milhões no país, 54% a mais do que no ano anterior.
Num documento recente, o Banco Mundial tenta entender o que levou à explosão dessa indústria – uma ocorrência das mais improváveis, já que o país continuou aparecendo em manchetes desfavoráveis nos anos que se seguiram. Em 1999, por exemplo, oito turistas foram mortos por rebeldes hutu. O Bird explica que muitos grupos internacionais apoiaram a volta do ecoturismo a Ruanda. É o caso, por exemplo, do Dian Fossey Gorilla Fund International , fundado em 1978 pela famosa primatologista retratada nas telas por Sigourney Weaver. Além disso, os turistas perderam o medo de viajar para Ruanda ao verem celebridades, como Bill Gates e Bill Clinton, passeando pelas selvas do país.
Para o Banco Mundial, o crescimento do turismo também se deve a um forte comprometimento do governo, que está empenhado em garantir a sobrevivência dos gorilas. Invasores de áreas protegidas foram persuadidos a deixá-las e os guarda-parques conseguiram conservar a população de gorilas, que foram tratados com antibióticos e vacinados contra o sarampo, numa cortesia do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Além disso, o governo tem uma estratégia clara – e bem-sucedida – de dar preferência a pequenos grupos dispostos a pagar bem pelo privilégio de avistar os gorilas. No entanto, segundo o Bird, o governo de Ruanda está começando a diversificar, tirando o foco exclusivo dos primatas e promovendo a observação de aves exóticas e a exploração de cavernas.