“É como quando você que fazer uma dieta, passa três dias em jejum e perde peso. Não significa que você vai conseguir emagrecer no dia-a-dia do mesmo jeito”. É assim que Roberto Smeraldi, diretor da ONG Amigos da Terra-Amazõnia Brasileira, interpreta a queda expressiva do ritmo do desmatamento.
Ele acredita que “absolutamente nenhuma” atividade econômica típica daquela região teve pressão e demanda para se expandir nesse período. Abaixo o principal trecho da análise que Smeraldi concedeu à nossa reportagem:
P22: O governo já anunciava que teríamos o menos desmatamento dos últimos 21 anos. Mas sete mil km² foi até abaixo das expectativas… você está surpreso?
Não, eu já projetava alguma coisa assim. Por um lado, eu tenderia a ressaltar o fato positivo, o copo meio cheio, que significa que é possível chegar ao desmatamento zero sem “mortos e feridos”. Isso demonstra que o desmatamento pode cair brutalmente e o País continua, ninguém passa fome, pelo menos por conta disso.
Mas eu também não posso alimentar euforias fáceis. Porque um ano assim, acontece a cada vinte. Desde que eu freqüento a Amazônia aconteceu uma vez só algo semelhante, em 1991. Ou seja, um período em que a demanda cai brutalmente e não tem nenhuma atividade econômica que precisasse se expandir. O gado estava encalhado, suspenderam atividade de 16 frigoríficos, os produtores estavam segurando o gado porque o preço estava baixo, ou seja, ninguém desmatou um hectare (isso posso dizer até com base nas viagens que fiz) para ampliar produção.
Os sete mil são exclusivamente o desmatamento especulativo, de gente que quer se apoderar da terra, ou é desmatamento de assentamentos, do cara que é subsistência. Para ele, o mercado, o preço da arroba, não faz diferença nenhuma. Ou seja, não podemos achar que isso é tendência.
A segunda coisa é que nos últimos anos temos uma clara tendência de desmatamento se voltando para o Cerrado. Não temos números claros ainda, tem até uma discordância entre os dos números do MMA (20 mil km²) , e os da Universidade de Goiás (8 mil km²). A verdade deve estar em algum lugar do meio. Mas de qualquer forma, essa é uma realidade.