A meta brasileira para redução de emissões até 2020 está sob suspeita. Depois de analisarem um pouco mais de perto os números do governo, especialistas de cinco entidades que acompanham a questão climática apontaram as falhas.
Em nota, Greenpeace, Amigos da Terra, Idec, Vitae Civilis e Sociedade Brasileira de Economia Ecológica criticaram o aumento explosivo previsto para as emissões industriais até 2020, mesmo sob metas de redução.
As entidades consideram que tanto o cenário tendencial quanto o alternativo –que incorpora as metas—“não apresentam justificativa plausível, superam qualquer projeção linear de crescimento de acordo com o PIB ou a população”. O crescimento das emissões no setor de energia, até 2020, seria da ordem de 103% em relação a 2005. E olha que esse é o cenário reduzido.
A desconfiança dos especialistas ganhou corpo com a reportagem de hoje da Folha de S. Paulo “Brasil inflou dado de CO2, sugere estudo”. O jornal faz uma comparação com estudo ainda inédito do Banco Mundial sobre o potencial de corte de emissões no Brasil.
O banco estima que o Brasil emitiria até 2030, 1,697 bilhão de toneladas de carbono por ano. Ué, mas a projeção oficial do governo é 2,7 bilhões, e isso só até 2020… Na hipótese de esses dados estarem realmente inflados, a redução brasileira poderia ser muito menor do que a que se anuncia.
A secretária de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente, Suzana Khan, contemporizou dizendo que o governo trabalhou com um cenário “mais pessimista, caso a economia crescesse sem considerar nenhum esforço para a redução de emissões”. O cenário do Banco Mundial poderia ser diferente. Tudo bem, estimativas são estimativas. Ninguém espera que sejam todas iguais. Mas como explicar uma discrepância tão grande?
Para dissipar as dúvidas, bastaria que o governo divulgasse os detalhes da memória de cálculo com a qual foram feitas as projeções. Significa dizer que ninguém sabe ao certo como foram calculados os cenários tendenciais e com base em quais dados. Isso sem falar no inventário atualizado de emissões, sobre o qual o Ministério de Ciência e tecnologia está sentado.
Tudo que o governo federal se dispôs a divulgar é esta singela tabelinha abaixo. Revela apenas a projeção para 2020 e a meta de corte em setores selecionados não se sabe bem como nem por que.
Aqui a íntegra da nota das ONGs com outros questionamentos.