Começa hoje a COP das COPs. Não há maneira mais apropriada para qualificar a reunião de Copenhague, a décima quinta de uma sequência de conferências anuais sempre relegadas à sombra do último mês do ano, sob a qual as decisões se transformam em prazos para tomar decisões – raramente cumpridos.
Não desta vez. Já são mais de 90 os Chefes de Estado que se encaminham para a capital da Dinamarca. Desde a Rio-92 a urgência climática não era tão prestigiada. As COPs, até pouco tempo, formavam a seara de diplomatas e ministros sem autorização para assumirem compromissos vinculantes e ONGs que pressionavam no escuro. Um beco sem saída.
A diferença está nos bilhões de pessoas que não aparecerão em Copenhague. A rede BBC, em parceria com a GlobalScan, divulga hoje uma pesquisa de opinião realizada com mais de 24 mil pessoas em 23 países, entre desenvolvidos e “em desenvolvimento”. O resultado é um retrato daquilo que se chama, em 2009, momentum.
-44% dos entrevistados querem que seus países desempenhem um papel de liderança e enfrentem a mudança do clima o mais rápido possível, enquanto 39% preferem ação moderada e gradual. Apenas 6% se opõem a qualquer acordo internacional.
-61% apóiam investimentos governamentais para combater a mudança do clima, mesmo que isso atrapalhe a economia, contra 29% que se opõem.
-64% consideram a crise climática “muito séria”. Apenas 2% negam os riscos e 6% acrediam que a questão não é tão séria.
Não é o caso de se apostar, como disse o nosso entrevistado Mike Hulme, que a COP 15 “resolverá todos os problemas do mundo”. Mesmo com tantas metas anunciadas individualmente pelos países, estima-se que o corte de emissões para 2020 seja da ordem de 18%. Bem abaixo do mínimo recomendado pelo IPCC, de 25%.
Trata-se da negociação mais complexa da história da diplomacia. Mas também não é o tamanho do desafio que deve arrefecer o senso de urgência que ora de generaliza.
Esse tal momentum se assemelham muito às nossas convicções sobre o jornalismo. Em três anos de existência a Página 22 testemunhou de perto os extremos da sustentabilidade, do alternativo para o mainstream. Em todos esses momentos o nosso papel se manteve claro: se caminharmos todos para o buraco, ao menos não será com a consciência leve. Consciência é uma coisa poderosa e 2009 é uma expressão disso.
Assim, a Página 22 também inaugura a sua participação direta em uma Conferência do Clima. O repórter José Alberto Gonçalves rumou ontem para Copenhague e publicará seus relatos neste espaço diariamente. Aos nossos leitores, o nosso compromisso com a cobertura que já é característica: informação contextualizada, aprofundada, de olho nos panos de fundo que fazem toda a diferença.