Países árabes se preparam para viver sem ele, com investimento em educação, turismo e infraestrutura
O petróleo já teve a sua morte mais do que anunciada – embora ninguém saiba ao certo quando isso vai acontecer. Agora, suas viúvas começam a pensar em como vão sobreviver depois que ele se for.
Não é sem tempo. No fi nal 2008, a Agência Internacional de Energia admitiu, pela primeira vez, que as reservas mundiais estão prestes a começar a declinar, diante da rápida aceleração da demanda, sobretudo na Índia e na China. Em relatórios publicados anteriormente, a organização previa que o pico de produção não deveria ocorrer antes de 2030. Agora, a agência calcula que haveria um défi cit de 7 milhões de barris diários já em 2015 – o equivalente a 8% da demanda global prevista para aquele ano.
A água está chegando ao pescoço dos produtores, e não falta quem chame sua atenção para essa realidade. No ano passado, o primeiro-ministro britânico Gordon Brown sugeriu que eles transferissem investimentos do petróleo para outras formas de energia, inclusive a nuclear. “Precisamos de um mercado energético mais balanceado, para que todos nós (produtores inclusive) possamos reduzir a nossa dependência do petróleo nos anos do porvir.”
Num exercício interessante de futurologia, realizado em fi ns de 2008, Daniel Drezner, professor de Política Internacional da Tufts University, afi rma que, ao contrário das previsões, o fi m da era do petróleo não destruirá os países do Golfo Pérsico. Para Drezner, eles têm investido em educação e infraestrutura e afrouxado as restrições de origem religiosa. “Esses governos provaram ser resilientes e capazes de se adaptar, por terem uma memória institucional das crises anteriores do petróleo.” Acesse artigo (em inglês).
Drezner explica que eles passaram a controlar os gastos. Em 2008, aplicaram no orçamento público 45% dos recursos obtidos com a exportação de petróleo, e o restante foi poupado. “Essas mudanças têm menos a ver com o tipo de regime de governo e mais com o fato de que eles avançaram na curva de aprendizado”, avalia.
Entre os principais exportadores, destaca-se Dubai, um dos integrantes dos Emirados Árabes Unidos, que se adiantou à crise, diversifi cando e modernizando a economia – embora esteja hoje às voltas com a moratória da estatal Dubai World, braço de investimentos do governo.
Figura recorrente no noticiário pelo seu cosmopolitismo e por atrair o jet set internacional, o pequeno emirado prevê que seus poços estarão secos em 2020. Em resposta, liberou mercados e destinou US$ 10 bilhões a bolsas universitárias. Na sua cola, Abu Dhabi, segunda maior cidade dos Emirados Árabes Unidos, adotou estratégia semelhante e está atraindo grandes multinacionais, como a General Electric.
A Arábia Saudita, maior produtora mundial de petróleo, está construindo seis “cidades do conhecimento”, a um custo superior a US$ 100 bilhões. Nos últimos anos, o país já tinha investido mais de US$ 20 bilhões na sua infraestrutura educacional. Agora, em 2009, 25,7% do orçamento nacional foi para a educação. Em setembro, os sauditas inauguraram a King Abdullah University of Science and Technology, perto de Jeddah, a segunda maior cidade. O projeto, ambicioso, é inédito pelo porte, pela autonomia em relação às autoridades religiosas e por visar a modernização de um país hoje estritamente seguidor do Alcorão. Entre os mentores da nova universidade saudita estão ex-reitores do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e da Cornell University.
Dois exportadores menores – mas com economias totalmente dependentes do petróleo –, o Catar e o sultanato de Omã, também preparam a sua adaptação a um mundo descarbonizado. O Catar, por exemplo, já gasta mais de US$ 1,5 bilhão por ano em pesquisa e desenvolvimento. Omã, que está implantando a sua estratégia pós-petróleo desde o início da década, tem expandido o turismo e as indústrias que utilizam o gás natural. Para tanto, investe em privatizações, desenvolvimento de recursos humanos e melhoria da educação básica.[:en]Países árabes se preparam para viver sem ele, com investimento em educação, turismo e infraestrutura
O petróleo já teve a sua morte mais do que anunciada – embora ninguém saiba ao certo quando isso vai acontecer. Agora, suas viúvas começam a pensar em como vão sobreviver depois que ele se for.
Não é sem tempo. No fi nal 2008, a Agência Internacional de Energia admitiu, pela primeira vez, que as reservas mundiais estão prestes a começar a declinar, diante da rápida aceleração da demanda, sobretudo na Índia e na China. Em relatórios publicados anteriormente, a organização previa que o pico de produção não deveria ocorrer antes de 2030. Agora, a agência calcula que haveria um défi cit de 7 milhões de barris diários já em 2015 – o equivalente a 8% da demanda global prevista para aquele ano.
A água está chegando ao pescoço dos produtores, e não falta quem chame sua atenção para essa realidade. No ano passado, o primeiro-ministro britânico Gordon Brown sugeriu que eles transferissem investimentos do petróleo para outras formas de energia, inclusive a nuclear. “Precisamos de um mercado energético mais balanceado, para que todos nós (produtores inclusive) possamos reduzir a nossa dependência do petróleo nos anos do porvir.”
Num exercício interessante de futurologia, realizado em fi ns de 2008, Daniel Drezner, professor de Política Internacional da Tufts University, afi rma que, ao contrário das previsões, o fi m da era do petróleo não destruirá os países do Golfo Pérsico. Para Drezner, eles têm investido em educação e infraestrutura e afrouxado as restrições de origem religiosa. “Esses governos provaram ser resilientes e capazes de se adaptar, por terem uma memória institucional das crises anteriores do petróleo.” Acesse artigo (em inglês).
Drezner explica que eles passaram a controlar os gastos. Em 2008, aplicaram no orçamento público 45% dos recursos obtidos com a exportação de petróleo, e o restante foi poupado. “Essas mudanças têm menos a ver com o tipo de regime de governo e mais com o fato de que eles avançaram na curva de aprendizado”, avalia.
Entre os principais exportadores, destaca-se Dubai, um dos integrantes dos Emirados Árabes Unidos, que se adiantou à crise, diversifi cando e modernizando a economia – embora esteja hoje às voltas com a moratória da estatal Dubai World, braço de investimentos do governo.
Figura recorrente no noticiário pelo seu cosmopolitismo e por atrair o jet set internacional, o pequeno emirado prevê que seus poços estarão secos em 2020. Em resposta, liberou mercados e destinou US$ 10 bilhões a bolsas universitárias. Na sua cola, Abu Dhabi, segunda maior cidade dos Emirados Árabes Unidos, adotou estratégia semelhante e está atraindo grandes multinacionais, como a General Electric.
A Arábia Saudita, maior produtora mundial de petróleo, está construindo seis “cidades do conhecimento”, a um custo superior a US$ 100 bilhões. Nos últimos anos, o país já tinha investido mais de US$ 20 bilhões na sua infraestrutura educacional. Agora, em 2009, 25,7% do orçamento nacional foi para a educação. Em setembro, os sauditas inauguraram a King Abdullah University of Science and Technology, perto de Jeddah, a segunda maior cidade. O projeto, ambicioso, é inédito pelo porte, pela autonomia em relação às autoridades religiosas e por visar a modernização de um país hoje estritamente seguidor do Alcorão. Entre os mentores da nova universidade saudita estão ex-reitores do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e da Cornell University.
Dois exportadores menores – mas com economias totalmente dependentes do petróleo –, o Catar e o sultanato de Omã, também preparam a sua adaptação a um mundo descarbonizado. O Catar, por exemplo, já gasta mais de US$ 1,5 bilhão por ano em pesquisa e desenvolvimento. Omã, que está implantando a sua estratégia pós-petróleo desde o início da década, tem expandido o turismo e as indústrias que utilizam o gás natural. Para tanto, investe em privatizações, desenvolvimento de recursos humanos e melhoria da educação básica.