Quase 200 pessoas assistiram no início da noite desta segunda-feira ao evento paralelo promovido pelo World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) no Bella Center, em Copenhague, onde acontece a 15ª Conferência das Partes da Convenção sobre Mudança do Clima (COP-15). Foi um dos eventos mais disputados do dia, com muitos tendo de ficar em pé ou se esparramar pelo chão acarpetado da sala Niels Bohr.
A grande afluência do público às atividades promovidas pelo setor corporativo na COP-15 reflete o extraordinário e crescente interesse das empresas pelo tema climático.
Ainda não há informação oficial sobre o número de representantes do setor privado credenciados na COP-15. Porém, representantes de associações empresariais estimam a presença de um público corporativo duas a três vezes maior que o das COPs de Bali (2007) e Poznan (2008).
“Há uma mistura de motivação e pragmatismo nesse interesse”, disse à Página 22 Elliot Diringer, vice-presidente de estratégia internacional do Pew Center, dos Estados Unidos, que organizou o evento “Building on Copenhagen: a high-level dialogue”, conjuntamente com o WCBSD. Segundo ele, as empresas querem minizar seus riscos e maximizar as oportunidades geradas pelo enfrentamento das mudanças climáticas.
Ainda que as discussões sobre o novo acordo climático, que vigorará a partir de 2013, sejam conduzidas por representantes dos governos, executivos e consultores de grandes corporações como a Shell e a Vale nas áreas de clima e sustentabilidade vieram a Copenhague para influenciar os negociadores.
“Além dos riscos climáticos, existe o risco das incertezas regulatórias, que prejudicam o planejamento de longo prazo das empresas”, explica Diringer.
O fim das incertezas somente virá com a conclusão do acordo climático global, prevê Bjorn Stigson, presidente do WBCSD. “Competimos no mercado global como companhias globais. Portanto, precisamos de regras comuns no regime climático, que apenas existirão em um acordo global.”
Em geral, os executivos não pretendem descer a detalhes das negociações, mas acham que sua forte presença em Copenhague pode ajudar a destravar as negociações.
No que se refere a temas específicos da discussão sobre o futuro acordo, o WBCSD defende a criação de novos instrumentos de compensação parcial das emissões dos países ricos com créditos de carbono de projetos nos países em desenvolvimento (offsets).
“O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo é muito complicado. Há um conjunto complexo de regras no instrumento”, critica Stigson, que propõe novos mecanismos com regras mais flexíveis e setoriais.
O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) do Protocolo de Kyoto opera projetos de redução nas emissões de carbono em países em desenvolvimento. Para o WBCSD, os offsets deveriam ser desenvolvidos por setores industriais, como, por exemplo, o setor de cimento, forte emissor de carbono.
O governo brasileiro posiciona-se contrariamente aos offsets setoriais, por avaliar que eles afetariam a competitividade da indústria brasileira. Uma das propostas em discussão na COP-15 relativas aos offsets setoriais prevê a definição de parâmetros internacionais de emissão de gases-estufa para os diferentes setores industriais.
Nos países em desenvolvimento, empresas cujas emissões ficassem abaixo desses parâmetros poderiam vender créditos de carbono para companhias de países desenvolvidos com obrigações de dinminuir suas emissões. Os créditos contariam para a empresa do país desenvolvido atingir sua meta total de corte nos gases.
Segundo uma fonte do Ministério de Ciência e Tecnologia envolvida nas negociações de Copenhague, a indústria brasileira seria prejudicada porque esses parâmetros tenderiam a seguir o padrão tecnológico dos países desenvolvidos, onde as empresas têm acesso mais facilitado e barato a tecnologias de redução nas emissões.